A União Europeia (UE) está preparando planos de emergência para tentar limitar os preços do gás ou separar os preços da energia do aumento do custo do gás, após seguidos cortes de fornecimento russo.
Ministros de energia de países integrantes do bloco se reunirão na próxima sexta-feira (09) para discutir urgentemente como aliviar o peso do aumento dos preços da energia sobre as empresas e as famílias.
Além de reformas a curto prazo, o objetivo é pensar como garantir que os preços da eletricidade reflitam a energia renovável, que é mais barata, a longo prazo.
Desde o ano passado, os custos de produção de energia europeu têm aumentado, impulsionados pelos preços recordes do gás, já que a Rússia reduziu o fornecimento para o continente.
Os governos da Europa acusam a Rússia de usar a energia como chantagem, em retaliação ao apoio ocidental à Ucrânia após a invasão em fevereiro de 2022. A Gazprom, uma gigante estatal russa de energia, atribuiu os cortes a sanções ocidentais e questões técnicas.
Mudar os sistemas de energia dos 27 países da União Europeia tende a ser complexo e demorado, dado que o comércio transfronteiriço de commodities energéticas entre os membros do bloco levou duas décadas para surgir e se solidificar. Mas, os estrategistas estão correndo para encontrar uma solução o mais rápido possível.
Além das reformas no mercado, investidores estão de olho nas consequências dessas implementações.
Qual a relação entre o preço da eletricidade e do gás?
No sistema energético da UE, o preço de atacado da eletricidade é fixado pela última central elétrica necessária para satisfazer a demanda geral.
Parques eólicos, usinas nucleares, carvão, gás e todos os outros geradores concorrem ao mercado de energia, com as fontes mais baratas em primeiro lugar, seguidas por fontes mais caras, como o gás. Usinas de gás geralmente definem o preço neste sistema.
A ideia é que, como todos os geradores vendem sua energia pelo mesmo preço, os geradores renováveis mais baratos acabem com uma margem de lucro maior – um estímulo para mais investimentos em energia renovável, necessário para a Europa atingir as metas de mudança climática.
Mas, países como a Espanha acreditam que o sistema é injusto, pois resulta na venda de energia renovável barata aos consumidores, pelo mesmo preço da energia mais cara baseada em combustível fóssil.
Os preços do gás dispararam à medida que a Rússia cortou os volumes que envia para a Europa, e em meio à intensa concorrência global por gás não russo.
O contrato de energia de referência da Alemanha para 2023 bateu recorde de 1.050 euros por megawatt-hora (MWh) no final de agosto, 14 vezes o nível do ano passado, embora os preços tenham recuado parcialmente.
Outros fatores que impulsionam os preços da energia incluem problemas com usinas nucleares francesas e seca severa no continente, que prejudicou a produção de energia hidrelétrica e afetou as entregas de carvão.
O que o bloco pode fazer para mudar o preço da energia?
A chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a União Europeia precisava dissociar o preço do gás e da eletricidade, mas não deu mais detalhes de como fazer isso.
Um esboço de nota da Comissão, visto pela Reuters na semana passada, afirmou que as próximas propostas devem incluir um teto de preço para certos geradores de energia que não dependam do gás.
O salto nos preços da energia rendeu receitas abundantes para geradores que não operam a gás, como parques eólicos e usinas nucleares, devido a menores custos operacionais. Além disso, a UE disse que os países deveriam usar o teto de preço para reduzir essas receitas e reduzir as contas dos consumidores.
A República Tcheca, que detém a presidência rotativa do bloco, também apresentou opções a serem consideradas na reunião de sexta-feira. Algumas sugestões incluem um limite de preço para o gás importado de certos países e para o gás utilizado para produzir eletricidade, também foi sugerida a remoção temporária das centrais elétricas a gás do atual sistema da UE de fixação dos preços da eletricidade.
Há bastante tempo, a ideia de limitar os preços do gás ou da energia tem o apoio da Espanha e da Bélgica, e de países inicialmente relutantes, como Áustria e Alemanha. A França está entre os Estados a favor de tornar os preços independentes um do outro.
Uma opção, proposta pelo primeiro-ministro italiano Mario Draghi, seria que os países da UE concordassem com um teto para o preço do gás importado da Rússia. Críticos dizem que isso seria um risco, pois a Rússia poderia cortar completamente o fornecimento da Europa como forma de retaliação.
Outra opção, poderia ser os governos limitarem o preço do gás e pagarem às empresas a diferença entre esse limite e o preço de mercado.
Anteriormente, países como a Alemanha e a Holanda se opuseram à ideia, uma vez que subsidiaria efetivamente a geração de combustíveis fósseis com fundos públicos, que, segundo eles, seriam mais bem gastos na mudança para energia limpa mais barata.
As sugestões checas também incluem limitar temporariamente o comércio de energia nas bolsas europeias a transações intradiárias e diárias.
Outras opções podem incluir a restrição da participação dos especuladores financeiros nos mercados de gás ou a criação de um mercado paralelo de energia a gás, separado do mercado de eletricidade já existente.
Quais são as possíveis desvantagens?
Os altos preços levam indústrias e famílias a reduzirem o consumo de gás – uma mudança que os governos europeus estão tentando incentivar para garantir que haja combustível suficiente para passar o inverno.
O corte de preços poderia limitar essa mudança, mas os críticos dizem que isso poderia até incentivar mais o uso de gás quando os governos precisam implementar políticas para reduzir o consumo.
Alguns analistas sugeriram apoio financeiro às famílias e empresas de baixa renda mais atingida. Segundo eles, seria uma melhor opção que uma reforma apressada do mercado.
Mas, a pergunta que permanece é: como os governos poderiam limitar o custo da energia a gás, sem que encorajem os proprietários de usinas a reduzir a produção de energia, no momento em que os países precisam urgentemente dela?
(Com Reuters)