As ações da Gafisa despencaram mais de 37% nesta semana. O principal motor da movimentação foi o cancelamento pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) da Assembleia Geral Extraordinária (AGE) proposta pela Esh Capital na companhia para ser realizada na última segunda-feira (18).
No primeiro comunicado à imprensa em reação ao decidido pela autarquia, a gestora expressou total discordância com o parecer da CVM. Mais recentemente, a Esh aprofundou a exposição de seu entendimento sobre suspensão da AGE em comentário exclusivo para o TradeNews.
“O comentário do técnico da CVM demonstra a parcialidade e pior, uma desconexão com a realidade”, inicia a declaração.
A gestora comentou também sobre a alegação dos técnicos responsáveis pelo caso de que os clamores da Esh por novas assembleias e pautas na Gafisa trariam instabilidade para a empresa. A casa afirma que, “se as ações de uma companhia sobem com a perspectiva da mudança de administração e essa perspectiva é frustrada, obviamente as ações cairão”, em referência também à desvalorização de GFSA3 na última segunda-feira.
“Alegar que convocação de assembleia cria instabilidade e prejuízo à regular condução normal dos negócios sociais, ignorando todas as denúncias já feitas com provas robustas não é parcialidade?”, questionou a Esh.
No caso concreto, prosseguiu a asset no comentário ao TN, o fundo Esh Theta havia angariado mais de 40% da base acionária para votar com os pleitos, dentre eles centenas de pessoas físicas que outorgaram procuração. “Que diferença faria se tivéssemos angariado 50% de apoio, 60%, 90%?”
Em retrospectiva, a Esh discorre sobre a AGE de agosto de 2022, na qual “teoricamente” foi aprovado o agrupamento das ações. “Teoricamente porque os documentos referentes à assembleia nunca foram publicados”, explicam. “Você não tem uma ata, não se sabe quais os acionistas presentes, não se tem um mapa de votação.”
A administração da companhia “criou uma fantasia”, defende a Esh, de que o grupamento de ativos não afeta o número de ações do capital autorizado, “sendo uma permissão tácita de permitir a administração aumentar seu poder de diluir a base acionária em nove vezes”.
Segundo a gestora, a CVM tem ciência de tudo. O encontro do colegiado realizado em função de pedido de interrupção da AGE de 7 de fevereiro consignou que a área técnica iria apurar o caso, frisou a Esh. Posteriormente, na semana anterior à AGE não realizada, a administração anunciou mais um aumento de capital.
“Caso a AGE tivesse ocorrido no dia 18, com as procurações que tínhamos na mão, acreditávamos que teríamos vitória na assembleia, o que acarretaria a eleição de novos conselheiros que poderiam, de maneira isenta, avaliar a pertinência, necessidade e principalmente as condições do referido aumento de capital, buscando o que fosse melhor para companhia”, defende a Esh.
A instabilidade registrada nas ações da Gafisa, objeto de discussão entre CVM e a gestora, “se deu justamente pela decisão de não permitir que a vontade da maioria fosse expressa, criando condições para que a participação percentual de cada um dos acionistas seja reduzida pela metade”.
Já existe um sancionador referente ao primeiro aumento de capital, ocorrido em 2019, prosseguiu o comentário ao TN. “São 5 anos para apurar a responsabilidade dos mesmos administradores que estão na companhia e que já fizeram mais de uma dezena de aumentos de capital.”
A asset menciona outro sancionador, “esse felizmente mais célere, mas ainda não julgado”, que apontaria falhas nos deveres fiduciários dos administradores referentes à AGE convocada para 2 de janeiro de 2023 e só realizada em 9 de janeiro.
A respeito do futuro da batalha judicial sobre a Gafisa, “não vamos ficar nos lamentando sobre o leite derramado e estamos atuando pra tentar fazer nosso direito, que de novo, estava apoiado por mais de 40% da base acionária da companhia, seja respeitado”, expressa a Esh. “A CVM tem todos os documentos que comprovam tudo que alegamos em mãos há tempos. Mostramos o caminho, fizemos as conexões e nos colocamos a disposição para esclarecer e cooperar com as apurações.”