O agronegócio e a bolsa de valores estão cada vez mais próximos. A mais recente conexão foram os Fiagros – Fundos de Investimento do Agronegócio –, lançados em 2021 na B3.
Antes disso, Letras de Crédito Imobiliário (LCA), Créditos de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e ações do setor já estavam disponíveis no mercado brasileiro.
A força do agro para a economia nacional como um todo é popularmente difundida. Mas a visão do Brasil como celeiro do mundo pode trazer consigo a ideia de que não há potências globais igualmente importantes no setor.
Em termos de investimento, o agronegócio estrangeiro é ainda mais expressivo que o nacional. O CEO da Investo, Cauê Mançanares, conversou com o TradeNews sobre as oportunidades de investir no setor agrícola fora do Brasil.
A gestora tem na prateleira o FOOD11, que replica o desempenho do ETF VanEck Agribusiness, o qual investe em 55 empresas do agro global.
Agro não é tudo igual
O Brasil é o maior produtor mundial de soja, café, suco de laranja e açúcar do mundo, assim como maior exportador de carne de frango e de boi, de acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
No entanto, o agronegócio extrapola a produção de alimentos por si só. A economia do setor também comporta sementes, adubo, fertilizantes, maquinários, equipamentos, indústria química e medicina veterinária.
Assim, Estados Unidos e Alemanha são potências globais do agronegócio tanto quanto o Brasil, porém de formas distintas. A principal diferença é que nos dois primeiros países há muitas empresas focadas em atender o mercado global no que tange à produção.
“Você vê muita empresa de equipamento, muita empresa de maquinário de agronegócio, que facilitam a produção agrícola, e elas atuam não só nos Estados Unidos, não só na Alemanha”, destacou Cauê. “São empresas globais por natureza.”
Já as companhias brasileiras são majoritariamente focadas na produção de alimento – um nicho com poucas empresas listadas em bolsa, posto que a maior parte é composta por pessoas físicas.
“Até o grande agricultor muitas vezes não organiza o negócio dele em uma empresa”, devido aos benefícios fiscais concedidos no Brasil para os negócios sob pessoa física.
As demais empresas do agro nacional, complementou o CEO da Investo, são mais focadas em fornecer meios de produção para o próprio mercado interno, enquanto as estrangeiras têm caráter global.
Ou seja, o agro brasileiro também é dependente de empresas gringas para atuar, como as americanas John Deere, especializada em maquinário agrícola, e a Zoetis, maior produtora mundial de vacinas e medicamentos veterinários.
Cadeia alimentar
O agro realmente é tech. Enquanto a Tesla [TSLA34] fala sobre carros autônomos para as pessoas e a Embraer [EMBR3] testa os chamados “carros voadores”, os maquinários de agronegócio já são todos autônomos, diz Cauê Mançanares.
“Tudo isso pra dar mais escala, para conseguir baratear cada vez mais a produção de alimentos” e disponível, como investimento, em empresas globais.
Mesmo na produção de alimento, há países estrangeiros com tanto potencial quanto o Brasil. O mundo se globalizou de uma forma em que cada local se especializa naquilo que faz de melhor.
“Quando as pessoas falam ‘o Brasil é o celeiro do mundo’, parece que a gente produz tudo para todo mundo, e isso não é verdade.” Boa parte dos países, comenta o executivo, tem uma indústria de agronegócio forte, dada a importância estratégica do setor para cada nação.
Simplificadamente, “você não pode negligenciar ter produção de alimento no seu país.”
Assim, o mundo depende da soja do Brasil, que depende do fertilizante da Rússia, que depende do maquinário dos EUA. O Brasil é um elo forte em uma cadeia que precisa de “muitos elos pra que a produção de alimentos no mundo se mantenha no nos patamares”.
O aumento da inflação global após a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia evidencia tal interdependência. Os dois países em conflito, além dos fertilizantes, têm peso significativo no mundo para o fornecimento de grãos, como o trigo.
Enquanto houve queda generalizada na oferta dos produtos agrícolas produzidos por Rússia e Ucrânia, a demanda mundial se manteve. O resultado, como sempre, foi aumento dos preços.
Oportunidades
A inflação generalizada acarretou valorização expressiva das empresas do agronegócio de modo geral, segundo Cauê. A dinâmica inflacionária gerada pela guerra tende a manter o setor aquecido.
Assim, enquanto setores de tecnologia têm sofrido por conta da pressão dos juros – elevados no mundo para frear a inflação – o agro, de modo contracíclico, valorizou-se. Cauê aproveita o gancho para reforçar a importância de ter um portfólio diversificado.
Ainda assim, o FOOD11 desvalorizou 12% desde seu lançamento, em 30 de junho do ano passado. O CEO da Investo atribui o desempenho ao recuo do dólar – o ETF é dolarizado.
“Se a gente acredita que o dólar está no patamar correto, o FOOD11, caiu. Mas se a gente acredita que o dólar vai voltar aos patamares que estava antes, teríamos um produto que é em dólar e está com uma resiliência muito boa”, defendeu o gestor.
Ainda assim, lembra o gestor, o ETF de agro global da Investo dá para o investidor brasileiro acesso ao crescimento das companhias que sustentam a produção de alimentos do resto do mundo.