Enquanto a indústria siderúrgica brasileira afunda em um mar de aço chinês importado, a Gerdau emerge como um raro ponto de otimismo. A empresa, com sua estratégica exposição ao mercado norte-americano, consegue navegar pelas turbulentas águas da concorrência desleal, tornando-se a principal escolha do JP Morgan no setor. A capacidade da Gerdau de se blindar dos impactos negativos que afetam seus pares locais oferece um vislumbre de resiliência em um cenário desafiador.
A estratégia norte-americana da Gerdau
O mercado de aço dos Estados Unidos apresenta um contraste marcante com a realidade brasileira. Desde o início do governo Trump, a implementação de tarifas robustas sobre o aço importado impulsionou preços e demanda na região. A tarifa mais recente, um imposto de 50% sobre o aço estrangeiro, criou um ambiente favorável para as siderúrgicas locais. A Gerdau, com sua forte presença na América do Norte, está colhendo os frutos dessa política protecionista, que a destaca no cenário global e a protege da enxurrada de produtos chineses.
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O cenário brasileiro é desafiador
Apesar do otimismo em relação à Gerdau, a perspectiva para o restante da indústria siderúrgica brasileira permanece pessimista. O Comitê Executivo de Gestão (Gecex) tem tentado conter as importações com cotas, expandindo-as para 23 tipos de aço, incluindo os chamados “NCMs de fuga”. Contudo, essas medidas têm se mostrado insuficientes. A dificuldade em implementar ações antidumping é outro obstáculo significativo, uma vez que a taxação adicional poderia gerar impactos inflacionários e encarecer bens de consumo.
China mantém ritmo acelerado
Enquanto as empresas brasileiras buscam apoio e o governo debate medidas, a China mantém um volume recorde de exportações de aço. Em maio, o país asiático exportou cerca de 10,6 milhões de toneladas, o maior volume já registrado para o mês, com projeção de 125 milhões de toneladas em base anual. Mesmo com especulações sobre cortes na produção chinesa, não há anúncios oficiais que confirmem essa tendência, e a expectativa é que as exportações chinesas permaneçam elevadas, em torno de 100 milhões de toneladas por ano, pelo restante da década.
O atual cenário ecoa as dificuldades enfrentadas pela indústria siderúrgica brasileira entre 2010 e 2016. Naquele período, a Usiminas viu suas margens EBITDA caírem drasticamente, chegando a 10,4% negativos no 4T15, e precisou realizar um aumento de capital. A Metalúrgica Gerdau também executou um aumento de capital para se adaptar aos desafios, e a CSN enfrentou níveis de alavancagem alarmantes.