As ações de Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) já acumulam valorização acima de 17% neste mês, revertendo o brusco mergulho em território negativo de setembro, quando ambas afundaram mais de 10%.
Os papéis das companhias aéreas despencaram durante a pandemia, e, desde então, as cotações continuaram bem abaixo do nível pré-Covid. Há dois principais fatores que dificultam a decolagem das empresas, explica Alexandre Kogake, head de renda variável e responsável pelo setor de transportes da Eleven Financial.
Primeiro, nem Gol e nem Azul conseguiram retomar o patamar de rentabilidade que possuíam, esclarece Alexandre. “As margens Ebitda de ambas as companhias ainda não estão no mesmo patamar de antes da pandemia. Elas têm se recuperado trimestre a trimestre, mostrando evoluções importantes, mas ainda não chegaram no patamar mais perto de 30%”.
Outro aspecto significativo para o analista foi o aumento do endividamento das empresas, especialmente no pico pandêmico, em 2020, quando os aviões ficaram estacionados.
“Elas têm muito contrato de arrendamento de aeronave, [e] vários deles tiveram seus pagamentos diferidos para outros períodos. Ou seja, o nível de alavancagem aumentou de maneira significativa”, complementa.
Aéreas merecem espaço na sua carteira?
Apesar do cenário, não é o momento de vender, segundo a Eleven. Com a recuperação do fluxo de caixa, há uma tendência de amortização das dívidas para os próximos períodos, explica ele.
Além da Covid-19, as aéreas passaram por mais um desafio: o exterior. Empresas do setor de aviação tendem a ser bastante impactadas pelo cenário macroeconômico. Num histórico mais recente, ambas sofreram com os preços do combustível de aviação – um dos itens mais importantes de custo para uma companhia aérea. “Isso representava aproximadamente 30% do custo [das empresas], e, com o aumento que teve, tanto em petróleo quanto no dólar, em alguns casos, chegou a passar até de 40% do custo”, pontuou Alexandre.
O repasse, que gerou o aumento dos preços nas passagens, foi um detrator de margem, especialmente no primeiro e segundo trimestre deste ano. A partir do terceiro trimestre de 2022, houve redução dos preços do combustível pela Petrobras, que colabora com os valores pagos pelo consumidor final.
“Tem um delay para isso ser refletido nas compras de combustível das companhias, e consequentemente nas margens. Mas, mantida essa tendência, a gente entende que tem um espaço para elas continuarem melhorando e recuperando as suas rentabilidades”, reitera head de renda variável da casa de análise.
Considerando o patamar de preços dos papéis ainda muito amassado das companhias, a Eleven recomenda compra tanto para Gol quanto para Azul, focando no ano que está por vir.
Segundo eles, a expectativa é que, em 2023, elas retomem seus patamares históricos de múltiplo e recuperem a margem Ebitda um pouco mais próxima do nível pré-pandemia. “A gente vê um upside significativo para ambas as empresas”, conclui.
Mesmo setor, diferentes perfis
Apesar de ocuparem o mesmo setor, Azul e Gol escolheram abordagens diferentes de mercado. A primeira possui a frota mais eficiente do Brasil, utilizando apenas um fornecedor de aeronaves. A empresa tem uma padronização que a permite manter seus custos abaixo dos das concorrentes, elucida Alexandre.
No caso da Azul, há uma política diferente. A companhia dispõe de variados modelos de aeronaves, que atendem um amplo espectro de rotas e de níveis de demanda, e vão desde aviões menores, que carregam algumas dezenas de passageiros, até maiores, responsáveis por levarem mais de 200 pessoas, utilizadas para rotas mais longas ou internacionais.
Cada uma na sua estratégia e no seu segmento, elas continuam recuperando a demanda mês a mês, garante o analista da Eleven. “Falando de fundamentos, tanto os de Gol quanto os de Azul continuam intactos em médio e longo prazo”, afirma ele.
Para Alexandre, essa perspectiva se torna viável se mantidas as taxas de ocupação em patamares elevados, o que é importante para a manutenção de margens e recuperação da rentabilidade. “Olhando num prazo mais extenso, a gente entende que elas têm sim potencial para retomar as margens e o patamar pré-pandemia”, assegura.
Day Trade
“Fazer day trade nestas empresas mais voláteis ainda são boas opções”, afirma Filipe Borges, analista técnico da Benndorf Research. Durante alguns dias no mês, estes ativos costumam apresentar um bom movimento direcional, gerando assim oportunidades de operação, explica ele.
Em relação à Azul, Filipe diz que, avaliando um futuro próximo, a ação apresenta movimento de recuperação das quedas recentes, e está perto da resistência de curto prazo em R$ 18,62. “Acima deste ponto, abre-se espaço para novas altas até a próxima resistência em R$ 22,50”.
Já as perspectivas sobre Gol são um pouco diferentes. Para Filipe, as ações da companhia seguiram o bom humor do setor nos últimos dias, e também estão próximas do ponto de resistência principal, em R$ 10,95. Contudo, o especialista ainda não enxerga confirmação de reversão de tendência na ação para posicionamento de médio e longo prazo.