A expansão da Camil [CAML3] ganhou um novo rumo em agosto de 2022, quando a companhia anunciou a compra da Mabel e da marca Toddy, estreando no setor de biscoitos. Desde 2011 a empresa vem aderindo ao processo de aumento dos negócios.
Em live feita na semana passada com representantes da Eleven, o CFO da Camil, Flávio Vargas, falou sobre o processo e o que a empresa espera do futuro.
O início
Quando fundada, em 1963, no Rio Grande do Sul, a Camil focou no mercado de arroz, expandindo sua influência até que em 1987 passou a também comercializar o feijão.
Com o crescimento no setor de grãos, a empresa começou sua expansão para outros países, com a aquisição da Saman, companhia de arroz do Uruguai, em 2007.
“Lá em 2011, a companhia começou a operar multisegmentos, com a entrada do segmento de pescado e enlatados com a adição da marca Coqueiro”, explicou Flávio.
“Depois [fomos para] o segmento de açúcar refinado, quando compramos a marca União, marca icônica no mercado brasileiro”, completou.
A adição da União foi um instrumento decisivo para a companhia conseguir operar mais eficientemente em um mercado que era “um sonho antigo”, de acordo com Flávio, o de café. Assim, a empresa pôde relançar o Café União, abrindo maiores possibilidades no setor.
As aquisições
No entanto, foi há 24 meses que a Camil começou a concretizar seu anseio para expandir ainda mais seus negócios, ao ampliar a diversificação de seu catálogo e entrar em novos países, passando a explorar o modelo de multisegmento na parte internacional.
Primeiro, a companhia adquiriu a marca equatoriana Dajahu, também da área de arroz. Um mês depois, em agosto de 2021, adquiriu a Santa Amália – empresa da área de massas, importante no mercado mineiro.
Ainda em 2021, a companhia fez importantes aquisições: entrou no mercado de café, ao comprar a Seleto e começar a investir na Café Bom Dia. Em dezembro, a companhia fechou a compra da Silcom, no Uruguai, de produtos orgânicos.
As mais novas aquisições da Camil foram a Mabel e a Marca Toddy, ambas em 2022, passando a operar no mercado de biscoitos. Segundo Flávio, esse foi mais um importante passo para satisfazer o desejo da empresa de ter operações em toda cadeia do trigo.
Um ano difícil
Apesar de a expansão da Camil ter dado um importante passo em 2022, Flávio admite que foi um ano difícil. A companhia teve um bom primeiro semestre, mas, a partir do segundo, as coisas começaram a se complicar.
As maiores dificuldades, segundo o diretor financeiro, vieram principalmente nos setores pelos quais a Camil é mais conhecida, como o arroz, o feijão e o açúcar (com a marca União). Também houveram perdas em seus negócios internacionais, como no Chile e no Peru.
Entretanto, os novos segmentos em que a empresa começou a operar apresentaram bons resultados, em destaque para o mercado de massas e para o café.
“Então, [a Camil] teve um ano com algumas notícias negativas, mas eu acho que de fato é um ano que a companhia não vai esquecer, por conta de ser esse ano transformacional, de a companhia se preparar para ser uma empresa diferente”, explicou Flávio.
O futuro
Em relação ao ponto de vista financeiro, a Camil pretende dar continuidade à política que vem adotando nos últimos anos, como relatou Flávio na live.
“Então, a companhia tem procurado fazer o pagamento de proventos como juros sobre capital próprio”, esclareceu.
“A companhia tem, aproximadamente, pago 25% do seu lucro líquido contábil, que é bem maior que 25% do seu lucro líquido ajustado. Isso é uma prática que tem dado para os investidores alguma previsibilidade”, completou.
Flávio Vargas também explorou como a Camil pretende tratar sua expansão no futuro.
“De uma maneira simplista, a companhia tem feito a mesma estratégia ao longo dos anos, que é um híbrido de fazer o crescimento através desse crescimento orgânico que, de fato, é o que está na mão, com explorar essas iniciativas de aquisição, que permita a gente crescer a passos mais acelerados”, explicou.
Além disso, a empresa não descarta expandir os negócios de seus segmentos legado – o arroz e o feijão -, mas é um potencial pequeno, uma vez que as empresas do ramo as quais seriam relevantes para a Camil não estariam interessadas em vender, por agora.
O principal objetivo para os segmentos legado da Camil é recuperar a rentabilidade perdida em 2022.
No curto prazo, o foco da companhia gira mais em torno da integração de seu portfólio do que em olhar ativamente para o mercado hoje em busca de novas alternativas de crescimento inorgânico, a fim de estimular um crescimento saudável e ter um movimento de recuperação da rentabilidade.
“Acho que o grande desafio, […] agora, é […] como você consegue ir no mercado e consegue fazer a venda conjunta de todo esse portfólio, que é aí que a gente acredita que está a grande sinergia de poder operar uma empresa multisegmento”, declarou o diretor financeiro na live.
Flávio acredita que a Camil tem uma vantagem que a maioria de seus concorrentes não têm: diversidade de produtos. Seus competidores no arroz, só produzem arroz; seus competidores de açúcar, só produzem açúcar e por aí vai; este seria o diferencial da Camil e o que a faz crescer.
“Acho que, quando a gente olha para o futuro e para o próximo ano [2023], acho que tem fatores que aconteceram esse ano [2022] que não vão acontecer”, disse Flávio.