As empresas imunes à falência do Brasil

too big to fail

Grande demais para quebrar. Era essa a fama de empresas como o banco Lehman Brothers, cuja declaração de falência foi o marco inicial para a crise do subprime, em 2008. 

Apesar da quebra do banco, a percepção de que há companhias too big to fail – “grandes demais para fracassar”, no inglês –, não sumiu. Analistas, gestores e agentes do mercado em geral depuraram o conceito depois da queda do Lehman Brothers, ao invés de descartá-lo.

O que é uma empresa too big to fail?

A ideia é universal, mas o perfil das instituições consideradas grandes demais para quebrar varia de acordo com as particularidades econômicas de cada país. De todo modo, a classificação recai sobre empresas que trariam problemas sistêmicos para múltiplos setores da sociedade caso deixassem de existir, conforme conceitua Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital.

Assim, uma too big to fail é componente da estabilidade da sociedade civil e comercial. “O sistema cria uma dependência da existência dela e ela conecta, envolve muitas pessoas”, diz Corano.

A dependência pode vir tanto da essencialidade dos serviços prestados quanto da quantidade de empregos fornecidos à economia de um país, segundo André Vasconcellos, vice-presidente do conselho do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI). 

Pedro Afonso Gomes, presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), completa a definição destacando a relação do Estado com tais empresas. Elas são tão essenciais que o governo de alguma forma fica pronto a ajudar para impedir qualquer sombra de colapso. 

No aspecto geopolítico, as grandes demais para quebrar são empresas que não dependem do ciclo de crédito ou de um só país para gerar lucro, de acordo com o diretor de investimentos da Nomos, Beto Saadia.

Há empresas grandes demais para quebrar no Brasil? 

A percepção de resiliência das companhias brasileiras varia consideravelmente. 

Entre os entrevistados pelo TradeNews, Pedro Afonso é mais otimista: “se a gente buscar as 20 principais empresas listadas na B3 pelo seu patrimônio líquido, não me parece que qualquer delas tenha a chance de quebrar na circunstância atual”. 

Mesmo se não fosse esse o caso, ele não considera correto especular publicamente sobre a potencial quebra de uma companhia, posto que a difusão de tais ideias poderiam ser justamente a causa do colapso. “Isso ocorreu nos anos 1990, com o Banco Bamerindus, que estava muito bem, mas surgiram boatos de que ele estava ruim, autoridades disseram que ele estava ruim, e aí que ele quebrou mesmo”, relata.

A Vale é atualmente a maior mineradora de ferro e níquel do mundo, com operações em diversos continentes, segundo a Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração. [Foto: Reprodução]
Renato Nobile, gestor e analista da Buena Vista Capital, considera o Itaú [ITUB4] e Banco do Brasil [BBAS3] os melhores exemplos de empresas brasileiras grandes demais para quebrar. A falência de qualquer um dos grandes bancos do país poderia derrubar o sistema financeiro nacional, dada a concentração de fluxo neles, explica. 

As ações do Itaú, aliás, são para Renato uma boa opção de investimento. A companhia, apesar de ter crescimento mais lento por já ser muito grande, cresce com consistência e se destaca pela inovação. “Ele bate realmente de frente com as fintechs e empresas de tecnologia que estão surgindo para o sistema financeiro”, defendeu o especialista. 

André Vasconcellos igualmente considera os grandes bancos do Brasil grandes demais para quebrar. “Bancos e instituições financeiras, de forma geral, estão fortemente interconectados com outros bancos e mercados financeiros globais”, podendo assim causar efeito dominó em caso de falência. Por isso, explica, há um arcabouço regulatório complexo de mitigação de riscos para prover resiliência a empresas do setor. 

O especialista destaca também as empresas de setores estratégicos, como energia, telecomunicações e alimentos. Exemplos incluem o Bradesco [BBDC4], Petrobras [PETR4], Eletrobras [ELET6] e Vale [VALE3]. “Veja que são estatais, ex-estatais ou companhias que costumam ter participação estatal seja via Tesouro, outras estatais ou fundos de pensão.”

No caso da Vale e Petrobras, tratam-se de empresas que fornecem ao mundo matérias-primas essenciais para o desenvolvimento global. “Petróleo e minério ainda não se encontraram substitutos melhores ou mais baratos”, pondera Beto Saadia. 

 

O Itaú supera inclusive o Banco do Brasil em ativo total. Com R$ 2.469 bilhões até o final de 2023, o Itaú é o maior banco do Brasil. [Fonte: Valor Econômico]
Ele considera as duas companhias boas oportunidades de alocação, haja vista o modelo de multiplicidade de acionistas, transparência e governança de ambas. Ainda, “o valuation dessas empresas continua barato em relação aos pares globais”. A Petrobras, especialmente, sofre com pressões políticas, o que deixa as ações baratas, completou o diretor de investimentos da Nomos.

Bruno Corano, por sua vez, só vê os maiores bancos – Banco do Brasil, Bradesco e Itaú – como imunes ao colapso. Ele afirma não ver a imunidade ao risco semelhante à desses três fora do setor financeiro. “Mesmo que uma operadora de saúde quebre, mesmo que a maior operadora de telefonia quebre, aqui não tem essa dependência e essa relevância.”

Por outro lado, os bancões são companhias “saudáveis há décadas”, prossegue Corano. Os três bancos citados “produzem ganhos literalmente bilionários”, caracterizando boas oportunidades de investimento na visão do economista.  

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