A Hapvida [HAPV3], operadora de saúde e odontologia, divulgou na noite de quarta-feira (13) seu balanço financeiro referente ao segundo trimestre de 2025. O resultado, que levou as ações da companhia a liderarem as altas do Ibovespa na manhã de hoje, foi classificado como “misto” por analistas do mercado financeiro, que apontam melhorias operacionais, apesar de o lucro ter sido impactado por cobranças retroativas do Sistema Único de Saúde (SUS).
A empresa reportou uma receita líquida de R$ 7,67 bilhões, um crescimento de 8% em relação ao mesmo período do ano anterior. No entanto, o lucro líquido ajustado foi de R$ 149 milhões, uma queda significativa de 64% na comparação anual. Essa discrepância entre receita e lucro é explicada em grande parte por itens não recorrentes, como a regularização de dívidas com o SUS.
Entendendo a questão do reembolso ao SUS
A provisão de reembolso ao SUS, conhecida como PESL-SUS, é o valor que as operadoras de saúde devem reservar para cobrir pagamentos ao sistema público de saúde por serviços prestados aos seus beneficiários. A Hapvida enfrentou um problema específico em sua subsidiária NDI Saúde, no Sudeste, que não recebia as Guias de Recolhimento da União (GRUs) desde 2022. Essa interrupção levou a uma subprovisão nos balanços da empresa.
Recentemente, a retomada dessas cobranças, inclusive com faturas retroativas, elevou o total da Hapvida para R$ 219 milhões em provisões no trimestre, gerando um impacto incremental nas despesas. Analistas do Itaú BBA classificaram o evento como uma questão de timing regulatório, e não um erro na metodologia da empresa, o que limita o impacto na rentabilidade normalizada da Hapvida.
Impulso comercial e desafios regulatórios
O desempenho comercial da Hapvida foi um dos principais pontos positivos destacados pelos analistas. A companhia registrou um crescimento líquido de 58 mil beneficiários de planos de saúde, superando as expectativas do mercado. Esse avanço foi impulsionado principalmente pelo segmento de planos corporativos, que apresentou um bom volume de vendas e uma taxa de cancelamento estável.
Analistas do JP Morgan destacaram a retomada do crescimento comercial e a estabilização de indicadores judiciais, o que sugere uma redução no “ruído” em torno do caso da empresa. Por outro lado, o Safra mantém uma visão mais cautelosa, classificando a recomendação como neutra e observando que, apesar da melhora, a empresa ainda opera em um ambiente regulatório desafiador.
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Sinistralidade e controle de custos
Outro ponto de atenção foi o Índice de Sinistralidade em dinheiro (MLR), que mede a relação entre as despesas com atendimentos e a receita. O MLR ajustado ficou em 71% no trimestre, uma leve melhora em relação às expectativas. Para o BTG Pactual, o resultado indica que o MLR está “amplamente sob controle”, em linha com a sazonalidade histórica do setor.
A Hapvida também implementou uma reclassificação de suas despesas para uma contabilização mais precisa, movendo custos administrativos ligados a serviços de saúde para a linha de sinistros. A empresa espera que a expansão de sua rede verticalizada, especialmente em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, seja fundamental para melhorar ainda mais esse indicador e otimizar custos no futuro.
Perspectivas de desalavancagem e futuro da Hapvida
O balanço também mostrou uma leve deterioração na alavancagem da empresa, com a dívida líquida/EBITDA ajustado subindo para 1,58x. No entanto, o fluxo de caixa livre gerado no trimestre foi de R$ 230 milhões. A empresa espera que a diluição do impacto das cobranças do SUS, junto com o crescimento orgânico e a estabilização das questões judiciais, ajude a recuperar a confiança do mercado e a impulsionar o valor de suas ações.
Para o JP Morgan e o BTG Pactual, que mantêm recomendação de compra para as ações, a execução será crucial para que a Hapvida consiga liberar o potencial de valorização. O bom desempenho comercial e a gestão de custos observados neste trimestre são vistos como passos na direção certa para que a empresa possa navegar pelos desafios regulatórios e financeiros.