Ibovespa já saltou 5% em novembro, mas segue à mercê dos juros futuros dos EUA. Como lidar?

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Apesar da desvalorização nesta quarta-feira (08), o Ibovespa já acumula mais de 5 mil pontos de alta em novembro. A variação percentual supera os 5% no mês – abandonando o desempenho do índice no último trimestre, que variou entre o pífio e o negativo –, mas ainda longe de representar mudança efetiva de ventos para os mercados interno e externo.

A melhora do apetite ao risco na bolsa brasileira novamente reflete o ambiente em Nova York, frisa Victor Benndorf, sócio-fundador e analista chefe da casa de research que leva seu sobrenome.

Há correlação inversa entre juros e bolsa. Os juros futuros dos treasuries (os títulos do Tesouro dos EUA) cederam após baterem máxima de 5% no mês passado, enquanto o S&P 500, principal índice acionário americano, acumula 4,5% de ganho em novembro.

A recuperação em Wall Street diante do alívio nos juros futuros americanos respingou na B3, dinâmica potencializada pela corrente dependência do mercado local do exterior. O investidor nacional, por sua vez, diminuiu os resgates de fundos, mas segue sem aportar capital em bolsa.

“A recuperação do índice brasileiro é mais derivada da melhora e pullback internacional do que alguma alteração de catalisadores aqui”, sintetiza Victor. Os catalisadores locais continuam favoráveis, completa, mas dependem do fluxo gringo.

Preço baixo é certamente um chamariz para a prateleira nacional de ativos. A relação preço sobre lucro (P/L) das companhias listadas no Ibovespa se encontra abaixo de desvios-padrões históricos de cinco a dez anos, configurando um índice subvalorizado.

E o Fed com isso

Um payroll americano mais fraco que o esperado instigou expectativas na última sexta-feira (03), mas ainda é cedo para se tirar qualquer conclusão a respeito.

De acordo com Victor Benndorf, os últimos dados de emprego funcionam menos como indicativo de um efetivo desaquecimento da economia dos EUA e mais como peça no tabuleiro do jogo que os investidores de lá têm travado contra o Federal Reserve.

Os players do mercado americano bateram de frente com o banco central o ano inteiro, e a troca de posições nos treasuries foi a consequência da aposta errada dos primeiros em setembro, pontua o especialista.

“Mais uma vez, o Fed falou que vai manter uma postura agressiva, e os investidores falando que não, que ele [o banco central] vai ter que mudar de posição. Uma hora os investidores vão acertar, mas a que custo? Quem tem apostado nisso até então não tem surfado boa tendência.”

Quanto aos números do payroll em si, Victor vê a desaceleração de outubro como bastante incipiente. Permanecem riscos para os dois lados da inflação americana e há também uma nova carta na mesa, a guerra no Oriente Médio. “O Fed vai querer observar sinais de arrefecimento não somente no mercado de trabalho, que está muito forte.”

Apesar do risco emanado pelo conflito ter se dissipado um pouco – como demonstram as cotações do petróleo –, permanece a análise de que o Fed será paciente na condução dos juros, enquanto o mercado aposta prematuramente em uma inflexão, que pode acontecer, mas será tardia.

Fiscal ladra e morde, mas mercado é vacinado

Mercado gosta é de previsibilidade. Se a declaração de Lula na semana passada sobre desistir da zeragem do déficit não fez peso no sentimento dos investidores, é porque a meta fiscal ecoada por Haddad até então sequer havia sido precificada.

“Esse risco [fiscal] já está relativamente embutido no preço”, pondera Victor Benndorf. “Porém acho que isso pode morder um pouco mais para frente, em 2024.” Para o analista, o risco real está na reação do governo quando agenda e meta fiscais de fato forem descumpridas.

Por enquanto, a recomendação é ficar mais atento aos juros que no déficit fiscal.

Foi a melhora na curva de juros americana – com impulso do payroll – que adoçou o apetite ao risco no exterior, trazendo compradores de volta ao Brasil. A tendência dos yields “é um movimento interessante, é positivo, mas ainda não confirmou viés de baixa”, analisa Victor. Enquanto espera por mais dados, ele assume que o respiro ainda é pontual.

Aos finalmentes: como investir?

Na falta da confirmação de tendência de baixa dos juros, Victor Benndorf não recomenda acelerar demais as operações de risco. Na casa de research, ele e os demais analistas aumentaram marginalmente a volatilidade da carteira, mas de modo ainda incipiente.

“A ideia é seguir sim o sinal de melhora, de recuperação e respiro da bolsa”, porém mantendo cautela quanto ao quadro de juros americanos principalmente. O cenário, prossegue Victor, seria cautelosamente otimista com o quadro local e internacional, e de muita seletividade dentro dos setores.

Banco do Brasil [BBAS3], Plano & Plano [PLPL3], C&A [CEAB3] e Simpar [SIMH3] são algumas das ações favoritas da Benndorf. “A bolsa está barata, temos aí algumas empresas com boas margens de segurança, mas não adianta comprar qualquer coisa, precisa realmente fazer lição de casa.”

Quanto ao Ibovespa, a probabilidade mais coerente no momento é de consolidação – leia-se índice de lado. Uma reversão de tendência significativa também fica à mercê da continuação da queda nos juros americanos, assim como da perda de suporte nos juros locais.

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