O cenário de inflação no Brasil continua sendo uma preocupação central para o Banco Central, com as projeções indicando que o índice deve permanecer acima da meta de 3,0% até o final de 2026, e a convergência para o patamar desejado só ocorrerá em 2028. Essa é a principal conclusão do Relatório Trimestral de Política Monetária (RPM), cujos detalhes foram analisados em um relatório recente pelo Goldman Sachs. A instituição financeira global ressalta que a taxa Selic, atualmente em 15,00%, deverá permanecer inalterada por um período prolongado, com os primeiros cortes possivelmente adiados para o segundo trimestre de 2026.
Por que a inflação não cede e a Selic fica alta?
O relatório do Goldman Sachs, baseado nas informações do Banco Central, destaca que as previsões de inflação para o primeiro e segundo trimestres de 2027 no cenário base, com a Selic projetada em 14,25% até o final de 2025 e 12,50% até o final de 2026, ainda apontam para 3,4% – acima da meta de 3,0%. Isso sugere que, para a inflação convergir à meta em 2027, a Selic pode precisar se manter em 15,0% mesmo após 2025.
A inflação dos preços livres (não regulados) é projetada em 3,4% acima da meta até o quarto trimestre de 2026, e em 3,3%/3,2% para o primeiro e segundo trimestres de 2027.
PIB cresce pouco e hiato do produto preocupa
A projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) real de 2025 foi revisada para um conservador 2,1%, um aumento de apenas 20 pontos-base. O hiato do produto (a diferença entre o PIB real e o potencial) é estimado em +0,9% do PIB no primeiro trimestre de 2025, com previsão de mudança para -0,8% do PIB até o final de 2026. No entanto, o Goldman Sachs considera essa projeção de mudança de hiato do produto otimista demais, o que pode introduzir um viés de alta nas previsões de inflação do Banco Central. Modelos analíticos do próprio Banco Central indicam uma mediana do hiato do produto de +1,2% do PIB para o 1T25, significativamente maior do que os 0,8% utilizados na previsão de inflação.
Quando os juros podem cair? A paciência do Copom
A ata do Copom e o RPM reforçam a postura de manutenção da Selic em 15,00% por um período prolongado. O Goldman Sachs avalia que cortes nas taxas só serão justificados quando a inflação projetada estiver em ou abaixo da meta de 3,00% e as expectativas de inflação se aproximarem desse patamar. A necessidade de um reequilíbrio macroeconômico, com uma postura fiscal mais rígida e metas fiscais mais elevadas, é vista como “altamente improvável”.
A janela para um corte pode, no melhor cenário, abrir-se tentativamente no final de 2025, quando o horizonte relevante da política monetária se estenderá até o 2T27. Contudo, o Copom demonstra prontidão para ser “muito paciente e manter-se resoluto”, possivelmente adiando o primeiro corte até o segundo trimestre de 2026, devido à persistência de expectativas de inflação desancoradas.
SAIBA MAIS: Para não perder nenhuma notícia do mercado e estar atualizado em tempo real, clique aqui e faça parte da Nomos+, a plataforma feita de investidores para investidores.