Começou nesta quinta-feira (24) o simpósio de Jackson Hole, evento anual promovido pelo Federal Reserve (Fed) e que se notabilizou no imaginário coletivo como local de prenúncios para a política monetária global.
Criado em 1978 pelo Fed do distrito de Kansas, o simpósio Jackson Hole – em português, “buraco de Jackson” – leva o nome por ser realizado em uma vila cercada por montanhas no estado americano de Wyoming.
O evento reúne presidentes e membros dos principais bancos centrais, legisladores, acadêmicos e participantes do mercado financeiro de todo o mundo, explica Marco Ferrini, analista de macroeconomia da Benndorf Research. O objetivo é discutir os principais problemas econômicos e financeiros do momento.
“O evento promove o compartilhamento de insights e políticas, influenciando decisões monetárias que impactam mercados e preços de ativos, o networking e cooperação entre figuras influentes, a pesquisa acadêmica e debates informativos, o aumento da transparência e o encorajamento da coordenação global para superar desafios econômicos.”
O simpósio costuma falar abertamente sobre cenários econômicos futuros, como na edição de 1989, na qual o tema central foram os “problemas de política monetária na década de 1990”.
Já em 2007, a temática do evento foi “habitação, financiamento habitacional e política monetária” e, logo depois, começaram a surgir os indícios do que se tornou a Crise de 2008.
Portanto, do lado dos investidores, há forte expectativa pelas edições do Jackson Hole por conta dos discursos de presidentes de bancos centrais como o Fed e o Banco Central Europeu (BCE) para situar e orientar sobre a direção para a política monetária nas próximas reuniões.
O que esperar do Jackson Hole de 2023?
A edição deste ano do simpósio tem por tema as “Mudanças Estruturais na Economia Global”, visando discutir os efeitos de longo prazo gerados pela pandemia sobre as estruturas econômicas e como esses efeitos devem afetar o contexto para o crescimento e a política monetária na próxima década.
Como é de praxe, frisa Marco, os discursos mais aguardados são do presidente do Fed, Jerome Powell, e da presidente do BCE, Christine Lagarde, ambos programados para amanhã (24).
Espera-se que Powell detalhe os últimos passos da campanha do Fed para combater a inflação e reforce o compromisso da instituição com a estabilidade de preços, a criação de empregos e o crescimento da economia no longo prazo.
“Como são os últimos ajustes para determinar o fim do ciclo de aperto monetário e isso já fomenta perspectivas do início do ciclo de cortes, o presidente do banco central americano deve permanecer com um tom mais hawkish e voltado para o objetivo atual”, antevê o especialista.
O presidente do Fed deve deixar a porta aberta para um último ajuste na taxa de juros, além de evitar comentários específicos sobre cortes de juros no futuro breve.
Quanto ao discurso de Lagarde, Marco lembra que o último discurso da presidente do BCE reforçou as possibilidades tanto de promover novo ajuste na taxa básica de juros quanto a de parar o ciclo de aperto mais recente.
Entretanto, diante dos dados mais recentes, “entendemos que a presidente da autoridade monetária europeia provavelmente sinalizará nas entrelinhas mais uma alta de 0,25 p.p. na taxa básica”.
Isso porque, apesar do BCE também se aproximar do fim do ciclo de aperto monetário, diferentemente dos EUA, o continente europeu enfrenta grandes dificuldades.
Ao mesmo tempo em que o núcleo da inflação permanece muito próximo da máxima histórica, as economias do continente vêm perdendo ritmo de forma consistente ao longo dos últimos 4 meses.