Crescimento de quase 5% no PIB do terceiro trimestre. Índice de gerentes de compras (PMI) composto – engloba serviços e indústria – de outubro acima de 50 pontos. Mercado de trabalho a todo vapor. Ao primeiro olhar do senso comum, todos esses fatores são positivos.
Para o Federal Reserve (Fed), todavia, eles podem ser um pesadelo.
Amanhã (01), o Federal Open Market Committee (Fomc) decidirá a próxima taxa de juros americana. A autoridade iniciou seu ciclo de aumento dos juros em março de 2022 e, com a decisão de julho – última em que houve acréscimo – do Fomc, a taxa americana chegou a um intervalo entre 5,25% e 5,50%, o maior em mais de 20 anos.
Ainda assim, na última leitura do índice de preços ao consumidor (CPI) americano, o indicador avançou 0,4%, acima das projeções. O PIB do país também parece não estar desacelerando, depois que o Departamento do Comércio dos EUA apontou que a economia havia se expandido 4,9% na comparação entre os terceiros trimestres de 2022 e 2023.
Além disso, o PMI composto americano medido pela S&P Global subiu de 50,2 em setembro para 51 em outubro, avançando tanto no setor de serviços quanto no industrial.
“Quando se olha, talvez não o terceiro trimestre, mas o acumulado dos últimos trimestres, vê-se, ainda que lentamente, sinais de que a atividade americana está se esfriando”, afirmou o estrategista da Nomos, Rodrigo Correa.
Segundo ele, a tendência dos indicadores macroeconômicos dos Estados Unidos é de baixa, sendo normal alguns resultados virem acima do esperado, já que inúmeros outros fatores acabam influenciando a economia do país, não só a política do Fed.
“De fato, ter dados erráticos entre uma medida e outra é muito comum.”
O especialista sinaliza que grande parte dos economistas está enxergando o forte consumo no terceiro trimestre como algo sazonal e que não deva perdurar para os outros trimestres à frente. Outro fator que pode contribuir para uma queda nesse consumo é o fato das reservas de capital feitas na pandemia – tanto por pessoas físicas quanto jurídicas – estarem chegando ao fim, explicou Rodrigo.
O X da questão
Nas últimas semanas, as manchetes de notícias relacionadas à economia e ao mercado financeiro foram contaminadas por um fator: os yields das Treasuries.
Treasuries são títulos de dívida do governo americano, emitidos pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Os yields nada mais são que os rendimentos que um investimento – neste caso, Treasuries – pode trazer, sendo a diferença entre o valor investido e o que retorna ao investidor.
Os treasuries, assim como os papéis do Tesouro Direto, são ligados a taxas de juros – podendo ser mais longas ou curtas, a depender do referencial.
Diferentemente das Fed Funds Rate – taxas de referência no curtíssimo prazo –, as taxas mais longas passaram a aumentar recentemente e, junto com elas, o investimento nas Treasury Notes e Bonds – títulos com maior prazo –, em especial, a Treasury Note de 10 anos.
“Quando se tem o aperto monetário no curto prazo, no médio e no longo, isso naturalmente faz mais efeito na economia”, frisou Correa.
Além disso, este comportamento pode ajudar o Fed, no sentido de não subir mais os juros na ponta curta do Fed Funds Rate ou precisar manter a taxa de juros alta por um tempo menor do que precisaria caso as taxas de juros no médio e longo prazo não tivessem subido tanto, projeta o especialista.
E o soft landing?
Desde que a inflação começou a subir – e com ela os juros – nos Estados Unidos, muitos analistas passaram a discutir um possível cenário de soft landing no país, ou seja, o processo de passagem gradual em uma economia de um crescimento para a estabilidade ou crescimento lento, evitando uma recessão.
“Eu acho realmente muito improvável. Historicamente ele [soft landing] quase nunca acontece, normalmente a economia é freada bruscamente”, contrapôs Correa. Geralmente, esta forma “brusca” de frear a economia é iniciada com a forte subida do desemprego, de acordo com o especialista.
Na próxima sexta-feira (03), o Departamento do Trabalho americano irá reportar os dados do payroll de outubro, importante indicador para medir a saúde do mercado de trabalho do país. O analista fundamentalista da Benndorf, Marco Ferrini, afirmou que o resultado pode surpreender, mostrando uma antecipação das contratações temporárias para a temporada de fim de ano, com destaque para o comércio, varejo, serviços e food services.