Lei de autonomia do BC: o que vem pela frente?

Edifício-Sede do Banco Central em Brasília [Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil]

 “O país não pode ficar esperando que o Banco Central caia na real”, publicou a presidente nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) em suas redes sociais no início de fevereiro. Hoffmann criticou a taxa de juros de 13,5% e defendeu que o Brasil precisa “urgente” de crescimento. 

A indicação de insatisfação da deputada, após as também recentes críticas à autarquia feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), gerou uma reação do mercado, que teme a interferência do atual governo no BC.

Apesar das preocupações, a possibilidade de mudanças ou regressão na lei é baixa, segundo Marco Ferrini, analista de macroeconomia da Benndorf Research, visto que ambos os presidentes da Câmara e do Senado saíram em defesa da autonomia do BC.

“Eu tenho a escuta, a tendência do que a maioria do plenário pensa. Com relação à independência do Banco Central, esse assunto não retroagirá”, disse o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) em coletiva de imprensa na semana passada. “O Banco Central independente é uma marca mundial, o Brasil precisa se inserir neste contexto”, emendou o deputado, ao afirmar que a autonomia foi o modelo escolhido pelo Congresso para o BC.

Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) afirmou que a autonomia do BC é um avanço que afasta critérios políticos de uma instituição que tem um aspecto técnico muito forte. 

Nem mesmo na base do governo há consenso para apoiar o projeto de lei que revoga a autonomia do BC, disse Guilherme Boulos (PSOL), deputado federal pelo estado de São Paulo. 

Mas e se…

Em um “caso improvável” de regressão na lei, os efeitos seriam “bem adversos”, segundo Marco, já que resultariam em desconfiança e perda da credibilidade do BC, ao mesmo tempo em que elevaria o risco de interferência política no órgão, “comprometendo o caráter técnico da instituição e consequentemente sua capacidade de atingir os objetivos estabelecidos.” Ainda de acordo com o analista, a decisão também geraria bastante insegurança jurídica.

Edifício-Sede do Banco Central em Brasília [Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil]
A regressão da lei poderia gerar um descrédito no combate à inflação pelo órgão, o que elevaria as expectativas do mercado para a inflação, afirma Rodrigo Correa, estrategista de investimentos da Nomos, dificultando ainda mais a tentativa de controle do Banco Central. 

“É sempre mais problema, porque inflação é uma das coisas que mais arrebenta o país do ponto de vista econômico. Empobrece a sua população, desvaloriza a moeda… Ou seja, é um um caos na terra se você deixar a inflação correr solta.”

Lei de autonomia

Sancionada em 2021, a lei de autonomia do Banco Central determina que o presidente da autarquia tenha mandato fixo de quatro anos, não coincidente com o do presidente da República. Os diretores também passaram a ter mandatos não coincidentes com o do presidente do banco, “para preservar a boa governança”.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto [Foto: Wilson Dias/Agência Brasil]
“Com a lei de autonomia, o presidente do BC perdeu o status de ministro e passou a ter um mandato de quatro anos que se inicia no dia 1º de janeiro do terceiro ano de mandato do presidente da República, enquanto os oito diretores assumem de forma escalonada, de dois em dois e de ano em ano, a começar pelo primeiro ano do mandato do presidente da República, de modo que um presidente tenha que conviver com dirigentes indicados por governo anterior”, explica Marco. 

Ou seja, “dificulta que haja rupturas na forma de condução [da política monetária]”, complementa Rodrigo. De acordo com o estrategista, a lei previne “grandes solavancos na condução da política monetária no Brasil”, visto que há possibilidade de planejamento devido à maior estabilidade dos cargos. 

Antes da lei ser sancionada, a cada novo governante entrava também uma nova equipe que comandava o Banco Central. “Não havia mandatos estabelecidos, e o banco podia sofrer alterações a qualquer momento, o que elevava a desconfiança, minava a credibilidade e tornava a autoridade monetária do país um instrumento político”, complementa Marco.

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