LIGT3, oficialmente em Recuperação Judicial

[Fonte: Divulgação/Light]

A Justiça do Rio de Janeiro aceitou nesta segunda-feira (15) o pedido de recuperação judicial da Light [LIGT3], ajuizado na sexta-feira passada (12). As ações da empresa chegaram a performar como a maior queda da sessão, mas fecharam com 3,9% de alta – insuficiente para recuperar o tombo de 17% do pregão anterior.

Notícias sobre um possível pedido de RJ por parte da companhia circulavam desde a primeira semana de fevereiro, poucos dias após a contratação da consultoria LaPlace Finanças aguçar especulações sobre a situação financeira da Light.

De acordo com a empresa, a entrada em RJ seria justamente para protegê-la dos credores que estão cobrando vencimento antecipado de dívida e permitir a continuidade dos serviços de fornecimento de energia, explicou Carlos Daltozo, head de equities da Eleven Financial.

Na decisão, o juiz Luiz Alberto Alves, da 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, acatou o pedido para estender os efeitos do “stay period” às concessionárias Light Serviços de Eletricidade (Light Sesa), a distribuidora do grupo, e Light Energia, a geradora do grupo, até a homologação judicial do Plano de Recuperação Judicial a ser deliberado em Assembleia Geral de Credores.

Uma lei de 2012 impede a recuperação judicial de concessionárias de energia, mas o juiz avaliou que “embora não estejam em recuperação judicial, [as concessionárias] fazem parte do Grupo Light, cujo patrimônio há de ser resguardado, considerando o aspecto social de seu serviço essencial, a preservação das empresas e a viabilidade de sua reestrutura econômica”.

O Grupo Light consiste na holding, Light S.A., por suas controladas diretas – Light Serviços de Eletricidade S.A. (distribuição de energia), Light Energia S.A. (geração de energia), Lightcom Comercializadora de Energia S.A. (comercialização de energia), Light Conecta Ltda. (geração de energia e serviços), Light Soluções em Eletricidade Ltda. (serviços) e Instituto Light (institucional) – e por quatro controladas em conjunto.

Economize energia em LIGT3

O analista técnico Filipe Borges, da Benndorf Research, enxerga, com risco “um pouco elevado nesse momento”, ponto de entrada em LIGT3 nos R$ 4,05. “Eu aguardaria uma correção no papel entre R$ 3 e R$ 2,75 para avaliar novas compras na ação”, recomenda.

As ações da Light apresentaram alta em torno de 140% nos últimos meses e corrigiram apenas 22% do pico até o pregão de hoje.

Para quem já está comprado nos ativos, Filipe sugere colocar stop gain ou proteger as posições abaixo de R$ 3,58, a fim de desembolsar os lucros possibilitados pela alta dos últimos dias.

Desempenho de LIGT3 de dezembro de 2022 a maio de 2023. [Fonte: Filipe Borges]

O acender dos problemas

Em fevereiro, quando a Light contratou a consultoria da LaPlace, a Eleven considerava pouco provável um efetivo pedido de recuperação judicial, mas já aconselhava a não adquirir posição na companhia.

“Sempre dissemos que a preocupação com a dívida era muito maior, e por isso nunca recomendamos aquisição de dívida da Light”, declarou Carlos Daltozo, “porque era um cenário binário, precisava muita coisa dar certo para que ela saísse desse problema de endividamento que ela chegou”.

Sediada no Rio de Janeiro e presente em 31 municípios do estado, a Light compreende uma dívida que totaliza cerca de R$ 11 bilhões – 70% está na mão dos debenturistas.

A negociação com credores se tornou ainda mais complexa após a contratação da LaPlace, devido ao consequente rebaixamento da classificação de risco da Light em reação das agências de rating – assim, diz Daltozo, qualquer renegociação viria com uma taxa muito elevada.

No pedido de recuperação judicial, a companhia explicitou um agravamento dos desafios originados pela atual situação econômico-financeira, demandando “a tomada urgente de outras medidas” para proteger o Grupo até ser possível implementar o equacionamento da dívida e a readequação da estrutura de capital, com a proteção e manutenção dos serviços prestados no âmbito das concessões de titularidade da holding.

De acordo com Daltozo, o maior problema da Light é o furto de energia – através dos famosos “gatos” – o qual “obviamente vinha afetando, ao longo dos últimos anos”, o operacional da empresa, que não conseguia cumprir com o mínimo exigido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

A agência reguladora, acrescentou o especialista da Eleven, também tem parcela de culpa na história, uma vez que as concessões da Light vencem em 2026, e as expectativas para renovação dos contratos deveriam estar estabelecidas em julho do ano passado.

“Tanto a Aneel quanto o Ministério de Minas e Energia ainda não definiram as regras, se as distribuidoras vão poder prosseguir com a concessão ou não, se vão poder repassar, rever esse nível de perdas. Como eu disse, no caso específico da Light, ela nunca conseguiu atingir o patamar estabelecido ali pela concessão.”

Gato de luz [Fonte: Reprodução]

Tem luz no fim do túnel?

Dado o deferimento do pedido de recuperação judicial, a B3 já declarou a retirada de LIGT3 dos índices que até então integrava. Apesar de não fazer parte do Ibovespa, as ações faziam parte dos índices de energia elétrica, Small Caps, utilidades públicas e outros.

O movimento tende a afetar fundos passivos e ETFs com referência nos portfólios em questão.

A RJ poderia proteger a Light até a quitação das dívidas com o setor elétrico. Caso contrário, “ela poderia inclusive ter problemas com geradoras de energia, que deixariam de receber esses recursos, inclusive Itaipu”.

Geradoras de energias, incluindo hidrelétricas, podem levar calote caso a Light suspenda o pagamento dos contratos, pondera Daltozo. “Mas essa ainda é uma possibilidade remota.”

Os consumidores, no entanto, podem pagar a conta ante o deferimento do pedido – literalmente. Quanto maior a perda por furto da Light, maior é o custo a ser rateado para os consumidores.

A recuperação efetiva da Light também depende de uma sinalização da Aneel em relação à concessão da distribuidora de energia que vence em 2026. A empresa entrou em uma “espiral negativa” justamente por conta da proximidade do vencimento, frisa o especialista.

A recomendação da Eleven continua ser ficar de fora. “Não adianta querer pegar a faca caindo, precisamos de uma sinalização melhor, principalmente com relação à renovação das concessões a partir de 2026”, encerra Carlos Daltozo.

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