O J.P. Morgan elevou a recomendação dos ativos das Lojas Renner [LREN3], da Vivara [VIVA3] e Arezzo [ARZZ3], todos de neutro para overweight – isto é, equivalente a compra. Além disso, o banco também aumentou os preços-alvo dos três papéis para R$ 15,50, R$ 34,00 e R$ 74,00, respectivamente.
Com essa notícia, estas ações fecharam o pregão em alta. No entanto, não é possível dizer que têm sido bons meses para as varejistas. O fantasma dos juros mais altos por mais tempo parece seguir assombrando todo o globo, estressando, inclusive, o DI (juros futuros) no Brasil.
Então, por que tantos bancos grandes como o J.P. Morgan têm olhares tão otimistas para essas três empresas?
De acordo com o relatório do J.P. Morgan, o banco levou em conta quatro aspectos em sua mudança: I) a qualidade dos lucros destas companhias – ou seja, a porcentagem do resultado final proveniente de resultados operacionais e não de incentivos fiscais/juros sobre o capital próprio; II) o risco potencial de queda no fair value (valor justo) atribuído pelo banco diante das mudanças em relação ao ICMS e à “Internet das Coisas” (IoE); III) avaliação com base no P/L de 2024 em diferentes cenários; IV) perspectiva de crescimento.
Apesar de divergir quanto ao que cada empresa traz diante dos pontos apresentados, o J.P. Morgan enxerga que todas as três têm características que as tornam atrativas.
A analista de varejo da Levante, Carol Sanchez, indica que parte significativa dos bancos e casas de análise enxergam oportunidades interessantes de crescimento para essas companhias, as quais se mantiveram “bastante resilientes” diante de um cenário ruim no setor.
Essa visão se expande ao se considerar a forte queda recente que acometeu as varejistas de forma geral – o que Carol e o próprio J.P. Morgan classificam como “exagerada” –, olhando para essa baixa como uma oportunidade e bom ponto de entrada nas empresas em questão, levando em conta também seus múltiplos.
“Além disso, vale ressaltar que, no caso da Vivara, que opera no segmento de jóias, a companhia não enfrenta um ambiente competitivo tão acirrado como o varejo de vestuário, por exemplo”, destacou.
Cenário para o varejo de moda
As perspectivas positivas para Lojas Renner, Arezzo e Vivara não significam que o segmento de moda no varejo brasileiro esteja em um momento ideal. Carol explica que o consumo não-essencial, como é o caso dos vestuários e acessórios, apresenta alta sensibilidade a fatores internos e externos, principalmente os macroeconômicos, como os juros, por exemplo.
“O cenário macro desafiador que se instaurou com a pandemia, como a renda apertada do consumidor, juros altos e taxas recordes de inadimplência, pioraram a situação já bastante difícil para as varejistas que viram suas vendas caírem”, ressaltou a analista.
Outro fator que entrou em jogo para dificultar a vida das varejistas de moda nacionais foi o aumento da concorrência com empresas como a Shein, as quais “caíram no gosto do consumidor brasileiro”, disse a especialista.
Entretanto, a Renner – mais impactada por essa concorrência – parece estar se reinventando a fim de não perder seu lugar no desfile das grandes vendedoras de vestuário. De acordo com Carol, a companhia vem investindo ainda mais em tecnologia e estratégia de preços, pontos que a empresa admitiu ter errado nos últimos trimestres.
A especialista indica também que a Renner segue competitiva nos estados onde tem maior dominância, além de projetar que a queda dos preços do algodão deve contribuir para que a empresa mantenha preços mais competitivos sem impactar em suas margens.
“Acho que também vale avaliar se a Shein vier pro Brasil da forma como eles estão planejando, com fábricas aqui, se isso realmente vai manter a empresa com preços tão baixos como ela vende hoje, ou se vai acabar de fato se equiparando com os preços da média das varejistas de moda daqui.”
Ainda que o primeiro semestre tenha sido difícil para o segmento de vestuário, Carol sinaliza que as expectativas – mesmo diante de um cenário complexo, com novas regras de importação – são de que as varejistas nacionais recuperem ao menos parte de suas vendas e revertam os resultados do primeiro semestre.
“Espera-se que alguns fatores, como o início do ciclo de queda dos juros e a iniciativa do Programa Desenrola Brasil, contribuam positivamente para uma melhora nas vendas”, adicionou.