Isabela Jordão
As construtoras voltadas para o público de baixa renda estão na trilha de um gordo crescimento na cidade de São Paulo. De acordo com analistas, a Plano&Plano [PLPL3] é a principal promessa diante do Pode Entrar, maior programa habitacional da história da capital paulista.
A Secretaria Nacional do Tesouro aprovou em 30 de agosto o pedido de financiamento da segunda etapa do programa, feito pela Prefeitura de São Paulo junto à Caixa Econômica Federal. A medida promete resultar em mais de 10 mil unidades de habitação de interesse social.
Dessa forma, após a conclusão da segunda etapa, o Pode Entrar somará mais de 20 mil unidades, só na modalidade aquisições, a serem entregues em 24 meses.
MRV [MRVE3], Tenda [TEND3], Direcional [DIRR3] e Cury [CURY3] também podem ganhar com o empreendimento da prefeitura. A Plano&Plano, todavia, é o principal destaque. A empresa tem um robusto landbank – banco de terras – na cidade de São Paulo, deixando-a na linha de frente para surfar o programa habitacional, explica Arlindo Souza, analista da Levante Corp.
Efetivamente, a construtora de fato pegou a maior fatia do bolo. “A Plano&Plano é, disparado, a que mais conseguiu contratar projetos dentro do programa”, disse Leonardo Piovesan, analista da Quantzed. Ele acrescenta que a MRV fica em segundo lugar, mas com ampla distância da primeira colocada.
Visão geral das construtoras de baixo custo
As construtoras de baixa renda voltadas para as classes C e D são o segmento favorito da Levante no setor de construção civil, posto que programas governamentais garantem o fomento dos negócios mesmo com o atual ambiente de juros altos, diz Arlindo. “Também é um segmento no qual existe maior déficit habitacional no Brasil”, completou.
Entre as companhias mencionadas nesta reportagem, a Cury é a com fundamentos mais sólidos, de acordo com o analista. Ele cita o balanço da empresa, destacando a geração de caixa bastante rápida e elevada.
“Não que as outras tenham um fundamento ruim”, frisou. Tanto Plano&Plano quanto Direcional estão bem posicionadas, enquanto Tenda se recupera agora dos percalços dos últimos meses. Já na MRV, enquanto as operações no Brasil vão bem, a operação nos EUA, com a Resia, ainda queima caixa consideravelmente, atrapalhando o balanço consolidado da companhia.
Leonardo, por sua vez, destaca a Plano&Plano como a mais atrativa de modo geral. “É uma empresa com uma gestão muito pé no chão, sem exagerar no plano de crescimento de lançamentos.” Ou seja, a companhia busca crescer em ritmo conservador e, simultaneamente, paga bom fluxo de dividendos.
Adicionalmente, a empresa está com uma alavancagem bem baixa, “o que deixa a situação mais confortável” e com múltiplos mais baratos que DIRR3 e CURY3, complementou o analista. Assim, o analista da Quantzed destaca PLPL3 como a principal pechincha do segmento.
Ele aponta MRVE3 como segunda favorita. A companhia, apesar de ter igualmente um potencial de alta significativo, apresenta igualmente uma tese mais arriscada. A MRV tem enfrentado problemas com uma alavancagem mais alta, explica, por conta da Resia, a operação de desenvolvimento imobiliário nos EUA.
Panorama técnico
Graficamente, entretanto, a MRV tem mostrado “bonita movimentação altista”, que pode avançar ainda mais diante da primeira queda de juros nos EUA, diz o analista técnico João Tonello. A ação da empresa está rompendo a média móvel exponencial de 200 períodos (mme200) e tem espaço para buscar R$ 8,80 como região de alvo primário.
Já Direcional segue firme e forte em tendência de alta, “mostrando resiliência”. A próxima resistência de DIRR3 fica nos R$ 36. “Quem tem [a ação], mantém. Quem não tem, aguarde” é a recomendação de João Tonello.
Semelhantemente, CURY3 tem mostrado força na tendência de alta, tendo já batido os principais alvos e renovado sucessivamente a máxima histórica de fechamento. A recomendação do analista técnico para a ação da Cury é igual à para Direcional. “Preferimos que a empresa descanse para retomar compras”, pontuou.
O papel da Tenda, por sua vez, está mais lateralizado, em região de consolidação. TEND3 também trabalha acima da mme200, “o que é um ponto positivo para empresa”, mas ainda tem fortes resistências entre R$ 14,00 e R$ 14,50 a romper.
Por fim, ele concorda com Arlindo e Leonardo sobre a Plano&Plano mostrar valuation interessante. Graficamente, todavia, PLPL3 está descansando para acompanhar suas pares. “Rompendo a região de resistência dos R$ 13,00, tem tudo para buscar topos em R$ 14,40 e, quem sabe, continuar movimentação de alta.”
Tudo vai depender da movimentação dos juros, conclui o analista.