Isabela Jordão
As ações da Americanas [AMER3] completaram o quinto pregão consecutivo em cotação abaixo de R$ 0,10 na segunda-feira (26). Já que o preço ficou “inferior ao de uma balinha 7Belo”, como disse o analista da Benndorf João Tonello, a empresa propôs um grupamento dos ativos, que entrou em vigor na terça (27).
O split, como o processo também é chamado, será na proporção 100 para 1. Ou seja, cada lote presente na carteira passa a aparecer na tela da corretora como uma única ação, assim como os R$ 0,05 do último fechamento viraram amontoados de R$ 5.
O grupamento é uma solução que não deve durar muito. Segundo Tonello, não há qualquer indício gráfico de recuperação de AMER3. “Pelo contrário, repiques serão momentos para novas quedas”, cujo alvo será entre R$ 3 ou R$ 2.
Nos últimos dias, alguns credores se desfizeram dos ativos após o fim de um período de lockup, o que puxou a cotação ainda mais para baixo.
O resultado da Americanas em agosto mostrou reversão do prejuízo do ano anterior, com Ebitda positivo de R$ 1,3 bilhão. Entretanto, houve queda de 9% das vendas da companhia. Os novos números tendem sim à melhora, porém ainda enfrentam dificuldade de margens e aumento de volume.
“No longo prazo, ainda entendemos como um case completamente precário e perigoso”, define João Tonello.
Há, todavia, quem escolha se arriscar. Em entrevista ao TradeNews, um investidor de 28 anos afirmou ter se posicionado em AMER3. “O papel estava muito amassado, qualquer variação significava uma porcentagem alta devido ao preço”, defendeu.
Um retorno da cotação a R$ 1 representaria uma valorização superior a 700%.
A expectativa não se materializou, mas o entrevistado não se abateu. “De qualquer maneira, a posição da minha carteira que coloquei em AMER3 foi bem pequena, pelas perspectivas futuras ruins em torno do papel.”
Acostumado a comprar ações para o longo prazo, ele tem poucos ativos para operações de prazo menor. Entre eles, “AMER3 foi mais uma ‘aposta’”, conta.
O declínio à cotação de centavos não foi linear. AMER3 experimentou algumas altas nos últimos meses, fruto de uma combinação de fatores.
“Durante o processo de recuperação judicial, qualquer progresso significativo no plano, como a reestruturação de dívidas ou a injeção de novos capitais, tende a ser bem recebido pelo mercado”, explicou André Vasconcellos, vice-presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI).
Além do efeito manada que sazonalmente sobrevém às chamadas penny stocks, o especialista destaca também notícias e rumores sobre possíveis fusões, aquisições ou parcerias estratégicas como fatores de influência positiva sobre o preço do ativo.
Em julho, aproximadamente um ano e meio após o início da crise da Americanas, o conselho de administração da varejista oficializou o aumento de capital, com cerca de metade sendo subscrito pelos bilionários acionistas de referência da companhia e a outra metade por credores.
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou o aumento de capital em julho. Segundo André, a novidade representa uma injeção de recursos financeiros “que pode fortalecer a empresa, reduzir riscos e criar oportunidades de crescimento, além de sinalizar confiança na gestão”.
A aprovação do Cade pode ser interpretada como um voto de confiança na gestão da empresa, completou o especialista. O aumento de capital, por si, implica que a empresa receberá novos recursos financeiros, os quais podem ser utilizados para fortalecer o balanço, reduzir dívidas, financiar novos projetos ou melhorar a infraestrutura existente.
Até o fim de agosto, a companhia já contará com o novo dinheiro em caixa. Com mais capital disponível, a Americanas reduz significativamente o risco de insolvência, especialmente considerando seu contexto de recuperação judicial.
Com a reestruturação societária, no início de 2022, a Americanas passou a organizar as marcas em: core, iniciativas de crescimento e futuro. O “guarda-chuva” da varejista hoje detém cerca de dez unidades de negócio, incluindo a marca principal Americanas e as controladas Submarino, Shoptime, Ame, Lovebrands — que reúne as marcas Imaginarium, Puket e MinD —, Hortifruti Natural da Terra e Skoob.
Desde que uma nova gestão assumiu, a Americanas decidiu priorizar a rentabilidade e reduzir o comércio eletrônico próprio para aumentar a presença de lojas oficiais de grandes marcas dentro de seu shopping virtual.
O futuro é nebuloso até na perspectiva da própria companhia, que decidiu agora em agosto descontinuar a divulgação de suas projeções, ou guidances. A decisão foi tomada de forma a permitir que a Americanas reavalie as expectativas de desempenho futuro, disse a administração em fato relevante.
A Americanas tem 90 anos de trajetória. Chegar aos 100 é provável – a questão é como.