O mercado desandou entre julho e setembro. Mudanças na conjuntura interna e externa mexeram com os investidores a ponto de mitigar expectativas por juros de um dígito no Brasil para os próximos três anos.
A curva de juros longos já precifica uma taxa Selic de 11% para 2026. Não há mais projeção de taxa terminal entre 8% e 9% como se acreditava três meses atrás, diz Max Bohm, estrategista de ações da Nomos Investimentos.
Se os juros não vão mais cair tanto, consequentemente a bolsa não sobe muito. Afinal, há uma tradicional relação inversa entre os dois. E não foi só no Brasil que a festa murchou.
“Essa festa virou um enterro”?
O primeiro a desmarcar o passeio foi o Tio Sam.
Em julho, o início dos cortes da Selic – e seu potencial impacto no Ibovespa – ainda era expectativa, assim como havia maior fé em um pouso suave, “ajuste saudável” nas palavras de Max, da economia dos EUA.
A China era foco de grande incerteza. Em compensação, tinha-se no Brasil uma inflação controlada, “reflexo do bom trabalho feito nos anos anteriores”, comentou o especialista em painel no Nomos Wealth Summit, realizado na última sexta-feira (27).
Entretanto, o clima ficou um tanto pesado após a penúltima reunião do Fed, em setembro, na qual se constatou que a inflação nos EUA não estava caindo conforme o esperado, portanto seria necessário subir a taxa nos meses seguintes.
Ou seja, foi embora a projeção de queda dos juros básicos americanos para o primeiro semestre de 2024. O S&P 500 caiu quase 5% em setembro como consequência, aponta Max Bohm. “Pouca gente falou disso, mas a bolsa americana cair 5% é algo muito relevante.”
Para completar, os dados econômicos dos EUA seguem fortes, prosseguiu o especialista, mencionando o recém-divulgado PIB do terceiro trimestre. O indicador registrou a maior taxa de crescimento desde o último trimestre de 2021.
“Eles [o Fed] estão realmente em uma sinuca de bico.”
Para completar, veio a guerra no Oriente Médio e seu efeito na cotação do petróleo. Se o conflito escalar “teremos barril a US$ 100”.
Já a China, ponto de incerteza no panorama de julho, houve melhora. “Se esperavam estímulos fiscais, o que de fato aconteceu”, respingando positivamente no minério de ferro. O persistente problema sério do gigante asiático é o setor imobiliário.
No Brasil, por fim, o fantasma do risco fiscal não assombra só no Halloween. De volta a temática dos juros, Max Bohm só vê possibilidade da taxa entre 8% e 9% caso a questão se resolva.
Don’t panic
O cenário interno pesa, mas o “pai de todos os mercados” continua sendo o juro americano. O que muda por lá afeta tudo por aqui, frisa o especialista.
Quando as perspectivas para o segundo semestre eram melhores, o maior potencial de valorização era das ações cíclicas domésticas, que mais sofreram com o ciclo de alta da Selic.
A melhora de cenário não está descartada, porém a conjuntura atual exige um pouco mais de cautela, pondera Max. Na visão dele, “definitivamente não” se deve vender as ações em bolsa. “Pequenos dias em que você está fora de bolsa mudam completamente sua rentabilidade no longo prazo. Então esteja posicionado.”
O conselho inclui cautela na escolha dos papéis. O especialista comenta que reduziu a posição em varejo da Carteira Max Ações, portfólio disponibilizado a investidores pela Nomos Investimentos. Mercado Livre [MELI34] e Allos [ALOS3] são as únicas companhias do setor remanescentes.
“O curto prazo ainda pode pesar no custo das ações, apesar do potencial das empresas”, adverte. Por outro lado, a carteira recomendada aumentou a exposição às large caps, incluindo Banco do Brasil [BBAS3] e Localiza [RENT3].
Max ainda recomenda investir ao menos 20% do patrimônio em ativos americanos, como proteção. Entre o Brasil e os EUA, “tem que investir nos dois”, finaliza.