Mesmo o setor de energia elétrica em geral sendo considerado um dos mais defensivos, nem todas as companhias do nicho estão hábeis para cumprir o papel de hedge. Apesar de as units da Taesa [TAEE11] terem acumulado 4,7% de alta em abril, a companhia não é a mais querida quando o assunto é longo prazo.
Uma reportagem do Brazil Journal em 9 de abril afirmou que a Taesa pretende levantar entre R$ 1,5 e R$ 2 bilhões numa oferta de novas ações, com objetivo de preparar o caixa da companhia para os leilões de transmissão previstos para 2023 e 2024.
“Há uma especulação em cima dessa oferta de ações”, comenta Max Bohm, estrategista de ações da Nomos Investimentos. Ele acrescenta que uma oferta do porte anunciado equivaleria a algo em torno de 10% a 15% do market cap – isto é, o valor de mercado da companhia, atualmente de R$ 12 bilhões.
Analista de fundamentos há cerca de 20 anos, Max afirma preferir Alupar [ALUP11] como investimento. “É uma outra empresa, também de transmissão de energia, que negocia com desconto em relação a Taesa”, justificou.
Os ativos da Taesa negociam com prêmio em relação à Alupar e à Transmissão Paulista [TRPL4], também conhecida como Isa Cteep. Esse ágio, explicou o estrategista da Nomos, decorre de dividendos altos que a Taesa vem entregando nos últimos anos.
Apesar de positivos para o bolso dos acionistas, os proventos são alvo de controvérsia. “Ela pagou tantos dividendos durante anos e agora está precisando de dinheiro pra captar recursos para participar do leilão, então o mercado está questionando se a Taesa tem de fato uma boa estrutura de capital.”
Max atribui a tal dúvida a pressão recente sobre os papéis. Apesar do desempenho positivo no acumulado de abril, a companhia acumulou perdas em cinco das últimas sete semanas. Para as próximas, o especialista tampouco tem visão positiva para TAEE11.
“Eu prefiro Alupar. E acho que, se realmente eles confirmarem essa oferta, o papel vai pesar, papel vai sofrer”, completa. Uma confirmação da oferta, acrescenta “traria certamente um overhang”, uma pressão vendedora na qual os investidores se desfariam dos papéis para entrar na oferta a um preço de desconto.
Grandes players, como Citi e Morgan Stanley, concordam. De acordo com a Bloomberg, são majoritárias as visões de longo prazo negativas para Taesa e positivas para Alupar.
O preço desconta tudo
Em se tratando de trades mais curtos, o cenário muda. Alupar confirmou rompimento no gráfico semanal, abrindo espaço para alvo em R$ 30,60, diz Filipe Borges, analista técnico da Benndorf Research.
Já a Taesa fechou o último pregão de abril em cima da resistência de R$ 36,60, mas o rompimento ainda precisa de confirmação, ponderou o analista. “E aí, compras acima dos R$ 36,80, com alvo em R$ 39, 75.
Em suma, a análise técnica exibe possibilidade de alta para ambas as units “nos próximos dias e nas próximas semanas”.
O que esperar
A Taesa já demonstrou interesse em participar dos leilões de transmissão previstos para julho e dezembro deste ano. “Eles precisam de recursos para participar desse leilão, então, se eles estiverem de fato interessados na oferta, é algo que vai acontecer nas próximas semanas”, ponderou Max Bohm.
O especialista espera que os administradores da Taesa se pronunciem a respeito do follow-on mencionado pelo Brazil Journal na teleconferência de resultados – a divulgação do balanço da empresa será na próxima quarta-feira (03).
Quanto aos resultados em si, Max pondera sobre o histórico de balanços da transmissora de energia. “Geralmente são resultados mais neutros, sem muita sem muita novidade, porque tem uma grande previsibilidade em termos de receita, geração de caixa.”
Dessa forma, conclui, o que deve dar tônica para TAEE11 é a confirmação ou não da oferta.