A partir desta segunda-feira (02), investidores de renda fixa que desejarem se desfazer dos títulos antes do vencimento terão um novo recurso disponível. A precificação de debêntures, CRIs, CRAs e dos títulos públicos negociados no mercado secundário passará a ser exibida pela marcação a mercado.
A nova dinâmica, estabelecida pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), consiste na negociação de títulos à precificação do momento – assim como no mercado de ações.
“Ou seja, a taxa considerada para fins de precificação é a de mercado, e não a taxa de compra desse ativo”, explica Beto Saadia, planejador financeiro e especialista em alocação e fundos da BRA BS/.
A negociação dos títulos de renda fixa já se baseia na marcação a mercado, só não é possível visualizar a variação dos preços, esclarece Camilla Dolle, head de renda fixa da XP Investimentos.
“A intenção por trás da nova regra é refletir melhor o valor atualizado da carteira dos clientes, baseado no valor em que esses papéis estão sendo negociados ao longo do tempo”, dada a volatilidade dos ativos antes do vencimento.
A determinação da Anbima não engloba CDBs, LCIs ou LCAs, que seguirão com marcação na curva, a qual aproxima o valor exibido da rentabilidade do papel na data do vencimento.
Tal modelo, diz Beto Saadia, “corresponde ao valor da aquisição do título, atualizado diariamente pelo indexador (por exemplo, inflação ou CDI) e dos juros relativos à remuneração do papel (“taxa de compra”), aproximando o valor visualizado pelo investidor da rentabilidade do papel, se for mantido até o vencimento”.
O preço de curva, acrescenta Camila Dolle, não necessariamente reflete o valor de negociação do título, deixando o investidor sem informação em caso de venda antes do vencimento.
Os dois modelos de precificação se complementam. De acordo com o planejador da BRA BS/, “a marcação na curva é útil para o investidor que pretende manter seus títulos até o vencimento ou por um horizonte mais longo”, quaisquer as condições de mercado.
Já a marcação a mercado permite ao investidor utilizar melhor as oscilações momentâneas a seu favor, tendo em vista que o “longo prazo é uma soma de vários ‘curtos prazos’”.
A rentabilidade não muda na prática
A mudança na marcação dos preços vai alterar apenas a visualização dos preços para o investidor. “O resultado disso é um mercado de títulos com maior volatilidade e descontos maiores em relação ao seu indexador”, segundo Beto.
Entretanto, a rentabilidade dos títulos não muda para quem carregar os investimentos até a data de vencimento dos títulos.
“É esperado que a nova norma traga mais liquidez ao mercado secundário, por facilitar a identificação de oportunidades de compra e venda, que terão melhor percepção de quanto seus ativos estão valendo no mercado”, comenta Guilherme Malucelli, analista de Renda Fixa da Eleven Financial.
Com a adição de liquidez, os títulos de renda fixa enquadrados pela nova regra podem também passar a serem alvo de “efeitos manada” parecidos com os do mercado de ações.
“A partir do momento em que a mudança entrar em vigor”, pondera Guilherme, “investidores podem se sentir desconfortáveis ao olharem seus extratos se suas posições estiverem sendo marcadas com deságio, levando-os a se desfazer de seus títulos antes do vencimento e realizando perdas”.
Para investidores com perfil de curto prazo, “pode ser interessante a oscilação dos títulos pra fazer timing, trocando vencimentos, trocando para títulos mais rentáveis ou comprar na baixa alguns títulos que sofreram deságio”, analisa Beto.
Um título está negociado com deságio se a taxa de mercado na data em questão for superior à taxa de compra, explicou Guilherme. “Como preço unitário e taxa são inversamente proporcionais, em situações de abertura de taxa o investidor verá perdas em sua carteira, pois seu título valerá menos”, prossegue. O contrário – isto é, o ágio – acontece quando as taxas fecham, portanto os títulos passam a valer mais.
Quanto maior o prazo dos títulos, mais suscetíveis ficam à volatilidade. Relativo aos indexadores, a sensibilidade é maior em pré-fixados seguidos de IPCA+ – os pós-fixados pouco ou nada variam no decorrer do tempo. O preço dos papéis converge para o valor do vencimento conforme se aproxima da data final.