Ecoou no mercado na última sexta-feira (03) que uma nova meta fiscal para 2024 será apresentada por emenda ao Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) em 16 de novembro, com previsão de déficit em torno de 0,5%.
O mercado está um pouco cético em relação a esse tipo de notícia ir à frente, pois já houveram outras que não foram adiante, como a mudança da meta da inflação, de acordo com Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos.
Ele relembra que o próprio presidente Lula vocalizou várias vezes uma queda forçada da taxa de juros, que acabou não prosseguindo depois de uma conversa com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cujo resultado foi a não concretização do discurso inicial.
“O mercado também acabou reagindo por boas notícias que vieram do exterior, o que acabou contrabalanceando essa notícia ruim depois de um tempo”, diz Beto.
Entretanto, caso a mudança da meta seja real, Saadia argumenta que o mercado nunca acreditou em déficit fiscal de zero em 2024, pois as projeções eram de déficit de 1%.
“Mudar a meta fiscal é muito prejudicial para a sinalização da economia e do arcabouço fiscal. E o mercado torceu o nariz pela falta de autoridade do Haddad”, afirmou Saadia.
O Presidente Lula está, de outra forma, atacando o próprio arcabouço fiscal, acrescentou. Apesar do burburinho, Beto Saadia não crê em uma real mudança de meta, pois “o custo político e econômico vai ser muito alto e pode desarranjar a economia”.
A mudança da meta, na verdade, gera uma percepção ruim. Não por conta do número em si, mas pelo fato do governo estar alterando um parâmetro que ele mesmo já havia estabelecido, complementa Ricardo Jorge, especialista em mercado de capitais e sócio da Quantzed.
“Os ativos de risco, de maneira geral, já vinham precificando esse pior cenário, então um déficit de 0,5% é até melhor do que os agentes econômicos previam”, afirma o especialista.
Sobre o quanto a nova meta poderia afetar a inflação do Brasil, Roberto explica que talvez a mudança não seja suficiente para mudar a dinâmica da política monetária nesse momento.
Ele destaca que, apesar do quadro fiscal ser extremamente relevante, o Banco Central pareceu estar muito mais neutro do que preocupado com relação à possibilidade de alteração da meta na última reunião do Copom, na última quarta-feira (01).
“Vamos ver como é que vai ser a comunicação na ata que será divulgada na terça-feira, mas, nesse primeiro momento, não há nenhuma indicação de que o BC possa mudar a estratégia com relação à curva de juros.”
O especialista comenta que o mercado trabalhava com a possibilidade de uma Selic terminal entre 8,5% e 9%, mas o cenário atual está mais perto dos 10%.
“Com a fotografia de hoje, o pace de 0,5 ponto percentual segue apropriado, e a gente acredita que vai continuar sendo o ritmo, pelo menos até o início do primeiro do primeiro trimestre”, acrescenta.
Roberto destaca que, no fim, o maior problema realmente é a questão da credibilidade, pois caso o governo continue não conseguindo capturar a arrecadação que propuseram, podem decidir mudar a meta quando achar conveniente.
“Não há garantia. Se o governo já fez uma vez, porque ele não pode fazer de novo?” ele diz. “Acho que essa é a pior mensagem que a gente pode ter”, conclui.