Musk: compra do Twitter pode ter sido parte mais fácil frente ao que vem por aí

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Pagar mais do que vale o Twitter provavelmente foi a parte mais fácil frente ao que espera Elon Musk.

O bilionário comprou a rede do passarinho por US$ 44 bilhões. Agora, o CEO da Tesla precisará provar porque acredita que o Twitter vale esse preço, e virar o jogo para a plataforma que ele passou meses ridicularizando.

No início deste mês, Musk afirmou que ele e outros investidores estavam “obviamente pagando demais” pela rede social agora. Mas acrescentou que “o potencial de longo prazo para o Twitter […] é uma ordem de magnitude maior do que seu valor atual”.

O autoproclamado “Chief Twit” (Chefe Twitter, em tradução livre), segundo disseram atuais e ex-funcionários do Twitter, deu poucos detalhes concretos sobre seus planos.

Obedecendo leis

Musk prometeu preservar todos os tipos de liberdade de expressão, mas também adotou um tom mais conciliador com os líderes globais que pretendem controlar a big tech, preocupando ativistas e ex-líderes do Twitter.

Apenas três horas depois de o empresário declarar vitória ao tuitar “o passarinho está livre”, o comissário europeu Thierry Breton retrucou: “Na Europa, o passarinho voa de acordo com nossas regras”.

Musk repostou um vídeo de maio, no qual concorda com o novo regulamento de mídias digitais da União Europeia, que exige que a big tech atue com maior veemência no combate a conteúdos ilegais ou pague multas de até 6% da receita global, em uma das abordagens mais severas do mundo para regular o ambiente online.

Na Índia, reguladores relembraram o bilionário sobre o estado de direito nesta sexta-feira (28). “Nossas regras e leis para intermediários permanecem as mesmas, independentemente do dono das plataformas”, disse Rajeev Chandrasekhar, ministro de Estado de eletrônicos e tecnologia da informação da Índia.

Durante anos, a rede social travou uma batalha com o governo para proteger a liberdade de expressão online, e essa batalha estaria em risco com Musk no comando, afirmou Goldman, ex-membro do conselho do Twitter.

A expansão dos negócios da Tesla na China, onde gerou US$ 14 bilhões no ano passado, também pode colocar o Twitter em risco, acrescentou Goldman. O ex-membro disse estar assustado com a possibilidade de Musk entregar informações de usuários do Twitter para o governo chinês, visto que mantém contato com o país.

O Twitter conta com especialistas que analisam solicitações de dados de governos, mas Musk mostrou seu desprezo por eles, segundo Goldman.

Fonte: Reuters

Os papéis da empresa despencaram 11% nos negócios do pré-mercado em Nova York na última sexta-feira (21), quando surgiram relatos de que Musk pretendia demitir quase 75% dos funcionários do Twitter após a aquisição da empresa. 

A queda também teve colaboração de rumores sobre uma possível revisão de segurança nacional de alguns dos negócios do bilionário pelo governo dos EUA, incluindo o próprio acordo de compra do Twitter. 

Espera-se que os membros de confiança e segurança do Twitter, que inclui moderadores de conteúdo, estejam entre os cortes de empregos de Musk, temem funcionários.

Retenção de anunciantes

Na véspera do esperado fechamento do negócio, ele apelou diretamente aos anunciantes em um tweet de carta aberta: “O Twitter obviamente não pode se tornar um inferno livre para todos, onde qualquer coisa pode ser dita sem consequências!… O Twitter aspira ser a plataforma de publicidade mais respeitada do mundo, que fortalece sua marca e expande sua empresa.”

Em 2019, o novo dono da plataforma twittou “Eu odeio publicidade”, em resposta a perguntas sobre a existência de um departamento de marketing na Tesla.

Mas os anunciantes não estão comprando a ideia. Eles apontam o plano de Musk de restabelecer a conta do ex-presidente dos EUA Donald Trump como um grande impedimento para investir dinheiro no Twitter. 

Após o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA, a rede social suspendeu Trump permanentemente por risco de incitação à violência. Trazer o ex-presidente de volta poderia distanciar usuários moderados e progressistas e, como resultado, afastar grandes marcas domésticas que visam comercializar produtos e atrair pessoas de todo o espectro político, disse Mark DiMassimo, fundador da agência de publicidade DiMassimo Goldstein.

Até que Musk encontre novas fontes, ele não pode se dar ao luxo de provocar uma reação de um grupo que contribui com 90% da receita do Twitter.

“App de tudo”

A grande aposta de Musk para o Twitter é emprestada de um dos maiores sucessos da China de 2010. 

A ideia de um “app de tudo”, também conhecido como super app, surgiu na Ásia com empresas como o WeChat, que permite aos usuários não apenas enviar mensagens, mas também fazer pagamentos, fazer compras online ou chamar um táxi. O serviço “tudo em um” atraiu usuários que tinham menos opções em uma região onde Google, Facebook e outros aplicativos estavam bloqueados.

Fontes familiarizadas à discussão afirmam que Musk planeja construir uma plataforma que venderá assinaturas premium para reduzir a dependência de anúncios, permitir que criadores de conteúdo ganhem dinheiro e permitir pagamentos.

Não há super aplicativos nos Estados Unidos porque a barreira é alta e há muita concorrência, disse Scott Galloway, co-apresentador do podcast de tecnologia Pivot e professor de marketing da Universidade de Nova York.

A Apple e o Google, da Alphabet, que controlam as lojas de aplicativos em iPhones e telefones Android, se consideram superaplicativos e provavelmente não permitiriam que outros fossem desenvolvidos, disse Galloway. Um exemplo foi a recente rejeição da Apple ao plano do Spotify de vender audiolivros.

Além disso, adicionar pagamentos, que geralmente exigem verificação de identidade, pode complicar um serviço que permitiu que o anonimato florescesse, tornando o Twitter uma ferramenta poderosa para ativismo político em ambientes hostis, disse Jason Goldman, ex-membro do conselho do Twitter.

 

(Com Reuters)

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