Você não é capaz de prever nem a si mesmo, quanto mais o mercado

Prever o futuro é prever o comportamento dos outros.

As fórmulas de finanças vêm da física. A principal delas, a fórmula de Black-Scholes que dá preço aos contratos de derivativos é quase um copy-paste da fórmula de difusão termica numa graduação de engenharia.

Na nova versão financeira da fórmula, o “calor” cede lugar ao preço do contrato de derivativo e a variação da temperatura é a volatilidade da ação. O preço de um ativo propaga no gráfico do monitor como um poluente na atmosfera.

Mas é diferente calcular a probabilidade de uma ação subir e a dispersão de um elemento gasoso na atmosfera. Na física, quantidades são medidas em unidades bem definidas, já a “utilidade” do investidor é vaga.

Na física, átomos possuem as mesmas propriedades em todo o universo, as pessoas – que são os átomos da economia – apresentam alto grau de variação.

Na física, por exemplo, se você lança um dado algumas vezes, a média esperada é de 3,5 (Um dado tem 21 pontos e seis lados, o que resulta em uma média de 21/6 = 3,5). É intuitivo que quanto maior o número de lançamentos, mais a média converge para o valor de 3,5 porque resultados extremos e menos provaveis serão irrelevantes.

Prever fenomenos físicos é fácil. Mas para prever o comportamento de pessoas, precisaríamos deduzir uma espécie de média, semelhante ao lançamento de dados no comportamento humano.

Essa ideia foi inspirada na “física social” do cientista belga do século 19 Adolphe Quetelet, que escreveu sobre l’homme moyen, ou o homem médio. Ele afirmou que “quanto maior o número de pessoas observadas, mais se anulam as peculiaridades, sejam físicas ou morais, permitindo que os fatos gerais (média) predominem, pelos quais a sociedade existe e é preservada”.

Quetelet inventou uma versão da ciência social para o lançamento infinitas vezes do dado no exemplo anterior. E prevendo o comportamento humano, podemos prever o futuro.

A ideia de que podemos prever o futuro a partir do comportamento médio do ser humano, assim como no lancamento dos dados, inspirou o escritor Isaac Asimov em seu personagem Hari Seldon, na série de livros chamada Fundação. O Professor Seldon é criador da “psico-história”, uma ciência que prevê o futuro com base nas estatísticas de grandes grupos de pessoas.

Economia pós-pandemia: EUA pode sofrer com redução da capacidade
Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel (2008)

Uma pausa aqui na linha de raciocinio – o Prêmio Nobel Paul Krugman deve ao personagem Hari Seldon a fagulha que despertou seu interesse para a ciência econômica. A admiração pela ficção cientifica levou o Nobel a escrever o paper economico “A Teoria do Comercio Interestelar” 1978, uma adaptação da teoria dos juros para o comercio interplanetário.

Mas longe da ficção, no mundo real do comportamento humano, por que não conseguimos prever um comportamento médio?

A resposta é porque não conseguimos apenas descrever o sistema humano como uma média de pessoas. Pode haver modismos. Manias, Pânicos. Revoluções. De onde vêm as revoluções? Vem de uma parte isolada do sistema fazendo coisas parecidas com outras partes isoladas do mesmo sistem até que um dia eles interagem entre si e provocam uma bolha ou um crash. Para isso, outra matematica seria necessária – a de sistemas complexos.

E quem ficou bilionário com isso foi George Soros surfando bolhas e quebrando Bancos Centrais, algumas dessas provocadas, em parte, pelo próprio.

Soros é a antítese de Warren Bufett. Ele não quer saber o valor justo de nada, nem acredita nisso. Para o especulador, a bolsa tem o poder de alterar o valor justo de um ativo como um efeito reflexivo. A bolsa não é uma impressão da economia. Ela é a economia.

Soros escreveu mais de 15 livros. Em todos, revelou seu modelo mental que chamou de Teoria da Reflexividade. Mas prever pessoas continua sendo uma habilidade pra poucos. “Não temos a capacidade de prever nem nós mesmos, quanto mais os outros”, disse Daniel Kahneman respondendo a pergunta da plateia sobre como ganhar dinheiro com finanças comportamentais.

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