A presidente do conselho de administração do Magazine Luiza [MGLU3], Luiza Trajano, atribuiu as recentes quedas do ativo da companhia à afeição da empresa por lojas físicas. Em resposta, o mercado derrubou os papéis da empresa em mais de 6% na sessão de nesta quarta-feira (24).
Trajano afirmou que a companhia anda “apanhando muito na Bolsa” porque “sempre acreditou em loja física”. Por outro lado, analistas do mercado financeiro mostram que não seria bem isso que vem pressionando as ações da varejista.
Vitorio Galindo, analista de investimentos CNPI e head de análise fundamentalista da Quantzed, afirma que o alto grau de alavancagem do Magazine Luiza – assim como de outras varejistas – é um dos fatores-chave para a queda do ativo.
Niels Tahara, analista de varejo da Eleven, indica que o cenário de crédito restritivo, com alto endividamento das famílias, e níveis de inadimplência altos contribuíram para a mudança de visão sobre o case.
“Principalmente no caso de Magazine Luiza, onde parte relevante dos produtos de linha branca são adquiridos com crédito, dado o ticket médio mais elevado e a menor recorrência de compras, as vendas acabam sendo afetadas de forma mais incisiva.”
Segundo Carol Sanchez, analista de varejo da Levante, a pressão dos juros nos EUA afetou o mercado de juros no Brasil, o que, por sua vez, levou a uma preocupação com o ritmo de cortes na Selic. Isso acabou resultando em uma reavaliação das ações de varejistas, já que juros em patamares elevados significam menor consumo e crédito mais caro.
“Podemos observar esse mesmo comportamento das ações de MGLU3, também em BHIA3 e PCAR3, que lideraram as quedas do trimestre”, completou.
É o fim das lojas físicas?
Sanchez indica que, devido à pandemia, uma mudança de hábitos de consumo se instaurou e a retomada de compras em lojas físicas não aconteceu da forma esperada. O que ela observa é um movimento para readequação do mix entre marketplace e loja física, acreditando que esse equilíbrio deve demorar para alcançar as varejistas brasileiras.
“As pesquisas de mercado, como Neotrust e Conversion, apontam que cada vez mais o consumidor quer receber suas compras em casa e no menor tempo possível, e não retirar os produtos nas lojas.”
No entanto, ela sinaliza que no mercado brasileiro o físico e o digital são complementares, não havendo um “vencedor” e um “perdedor”.
Tahara complementa, indicando que as lojas físicas funcionam como parte importante da estratégia de digitalização das empresas, a partir do modelo de omnicanalidade. Esta tendência é baseada na integração entre todos canais de comunicação e vendas de uma empresa.
“A loja também funciona como uma forma de fidelização de clientes, experiência com a marca, além da oportunidade da realização de upsell e serviços adicionais, com o vendedor tendo um papel mais ativo”, ressaltou. “Ainda, a loja também pode funcionar como uma vitrine, também sendo um ponto de geração de vendas para o canal digital.”
Para Galindo, a escolha entre modelo físico, digital ou misto de vendas depende da gestão de decisão estratégica da companhia e do nicho dos negócios da mesma.
E o varejo tradicional? Vai acabar?
Em momentos como o que grande parte do varejo brasileiro tradicional vem enfrentando – fortes quedas na Bolsa, altos níveis de inadimplência e um futuro incerto –, é normal que projeções “apocalípticas” sejam formuladas.
De fato, Sanchez evidencia que o setor “nitidamente” caminha para uma consolidação, enquanto o concorrente digital Mercado Livre [MELI34] “vem nadando de braçada, com um posicionamento na contramão da concorrência”.
O varejo tradicional – como Magazine Luiza, Grupo Casas Bahia [BHIA3] e Ponto – sofrem depreciações e têm grandes custos de manutenção, por disporem de uma grande rede de lojas físicas, sinaliza a analista.
Tahara aponta que o principal desafio para essas companhias é a forte concorrência, além da capacidade de passar por ciclos econômicos.
“Dito isso, o Magazine Luiza foi um dos pioneiros [no] modelo [de] omnicanalidade do país, colhendo os frutos desse pioneirismo […]; outras companhias como a própria Casas Bahia também investiram no modelo, que foi intensificado devido à pandemia.”
Mesmo que esteja bem posicionada nesse sentido, a empresa vem sofrendo com a necessidade de rentabilizar sua operação em um período de consumo restritivo, observou o especialista.
Galindo ainda destaca que, em vantagem para as varejistas com grandes lojas físicas no Brasil, as operações online acabam saindo mais caras no país por questões como o frete e a legislação do Código de Defesa do Consumidor (CDC).
Análise técnica
Para Filipe Borges, analista técnico, MGLU3 não possui nenhuma indicação de compra. O especialista havia feito uma projeção de queda de até 60% no ativo e afirmou estar perto de atingir o alvo da operação de venda que abriu.
“Já é mais de 40% de queda desde que eu iniciei a saída desse ativo.”
Para quem é comprado no papel, ele sinaliza a possibilidade de utilizar o prejuízo para abatimento do imposto de renda futuro. Além disso, ele também recomenda uma análise dos fundamentos da empresa para entender se realmente vale a pena seguir comprado.