“Não tenho resposta e desconfio de quem tenha”: gestor da IP comenta investimentos no cenário global

Sócio IP Partners há 12 anos, Gabriel Raoni aconselha investidores a “encarar o mercado de ações como uma loja, não como um cassino”. Em evento exclusivo realizado na sede da BRA BS/ no Rio de Janeiro, ele explicou que o mercado de capitais é o único ambiente no qual vê pessoas tristes com preços baixos, quando os tais deveriam ser bem-recebidos – como em qualquer comércio.

Fundada em 1988 como a primeira gestora independente de gestão de recursos do Brasil e focada no mercado internacional, a IP acompanha 40 empresas do Brasil e mais de 120 americanas. A filosofia da casa aponta que, quanto mais recursos para administrar, menor o retorno. De acordo com Raoni, a maioria dos investimentos atuais da asset carioca vêm desde 2019.

A casa jamais investiu em Braskem [BRKM5], JBS [JBSS3] ou qualquer estatal. De acordo com o gestor, a IP já tem de lidar com o risco econômico, portanto não deseja acrescentar riscos políticos ao portfólio. Raoni sintetiza o método de seleção de boas empresas com a soma “motor” (crescimento estrutural), “escudo” (força competitiva) e “pessoas”.

A IP tampouco aloca recursos em corporações ligadas a commodities ou com governança ruim. “O dia só tem 24 horas”, explica Raoni. Não é possível acompanhar todas as empresas disponíveis em bolsa.

“Lá fora tem de tudo”

Enquanto a bolsa brasileira se resumiria a bancos, commodities e mercado interno, “lá fora tem de tudo”. Gabriel Raoni descreve, valendo-se de exemplos como o do setor aeroespacial, a amplitude dos setores de investimento nos EUA.

O gestor menciona Visa [VISA34], Mastercard [MSCD34], Microsoft [MSFT34] e Google [GOGL34] como os melhores negócios que já viu na vida, classificando as duas primeiras como “quase um pedágio do mundo”. As quatro companhias, explica, crescem sem investir capital, dificilmente decrescem em lucro e têm ampla capacidade de repassar preços.

A IP Partners investe na Alphabet, dona do Google, há cinco anos. “A gente está preparando o portfólio para um período muito duro de resultados”, comenta Raoni. Enumerando “negócio, valuation e balanço” como os três riscos de uma companhia, o gestor comenta que a asset também aloca na Berkshire Hathaway [BERK34], companhia de Warren Buffett. “Para eles, quanto pior, melhor”, afirma, em referência à estratégia de investimentos de Buffett.

Macroeconomicamente, Raoni elogia uma forte capacidade de adaptação da economia dos EUA. “Os vasos comunicantes e os mecanismos de adaptação são amplos.” Ele cita o mercado de real estate, no qual o financiamento, sob taxas entre 2,5% e 2,25%, já se encontra em 7%, acompanhando o aperto monetário deflagrado pelo Federal Reserve.

O gestor, todavia, desmanchou visões românticas a respeito do mercado americano. “Também não acho que lá será a solução de todos os problemas”, enfatiza. Ele alerta sobre a necessidade de atenção a eventos de baixa probabilidade, mas cujo efeito seria devastador.

Na prática, Raoni destacou as tensões entre EUA e China com relação a Taiwan. É “uma das coisas que mais me preocupa atualmente”, confessou. A baixa probabilidade de um conflito armado, de acordo com o gestor, se deveria ao fato de que as duas maiores economias do mundo “têm muito a perder” em uma guerra escancarada.

A maioria das empresas estrangeiras investidas pela IP é americana. A asset não aloca na China, e Raoni menciona nebulosidade das dinâmicas de governança e alocação das companhias do país. “Tem gente pra caramba do Partido Comunista nas empresas listadas”, menciona. O gestor considera o atual líder chinês, Xi Jinping, “o ditador mais perigoso desde Mao Tsé-Tung”.

A Europa tampouco tem espaço nos fundos da IP. Apesar de acompanhar as bolsas do continente, a casa não investe em nada exclusivamente europeu. Raoni destaca L’Óreal, Henkel e LVMH como bons cases, porém fora do preço ideal.

O gestor aponta a probabilidade de recessão nos EUA, Zona do Euro e China, mas não faz declarações assertivas sobre o assunto. “Não tenho resposta e desconfio de quem tenha”.

“Tem coisa interessante no Brasil sim”

Sobre investimentos em território nacional, Gabriel Raoni declara que “o Brasil cresce menos que os EUA desde o Plano Real” e destaca o corrente processo de envelhecimento da população. Ao mesmo tempo, “o mercado [brasileiro] de investimentos está se diversificando e se tornando referência lá fora”, pondera.

A IP Partners tem posição pequena na Rede D’Or [RDOR3] e vê com bons olhos o setor elétrico nacional. A agência reguladora (Aneel), segundo Raoni, “provou seu valor no tempo”. Dentre os bancos privados, destaque para o Itaú [ITUB3; ITUB4]. Na visão da asset, o banco se destaca pela capacidade de adaptação e gestão.

Em contrapartida, Raoni ressalva que boas empresas no Brasil geralmente são precificadas a valores altos, citando o exemplo da RaiaDrogasil [RADL3]. Entretanto, “tem coisa interessante no Brasil sim”, concluiu o gestor.

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