O gasoduto Nord Stream, um importante canal de gás natural da Rússia para a Alemanha, foi reiniciado nesta quinta-feira (21) depois de mais de uma semana de manutenção planejada, aliviando autoridades e executivos que temiam que Moscou o mantivesse fechado.
Sem o Nord Stream, a Europa provavelmente experimentaria uma escassez aguda de gás durante os meses de inverno, quando a demanda está no auge. Alguns governos, incluindo o da Alemanha, maior economia da Europa, precisariam recorrer ao racionamento de gás, prejudicando a indústria e o já frágil crescimento econômico. A Rússia fechou o gasoduto no início deste mês para realizar uma manutenção regular, mas autoridades e executivos europeus temiam que ele não reabrisse conforme o planejado.
Ontem, funcionários da Comissão Europeia lançaram um plano incentivando os governos a se prepararem para um inverno sem ampla oferta de gás russo. A proposta pedia que os países da União Europeia (UE) reduzissem voluntariamente seu consumo de gás em 15% nos próximos oito meses e estabelecessem prioridades para determinar quais setores industriais serão mais afetados.
O presidente Vladimir Putin disse na última terça-feira (19) que a Rússia pretende cumprir suas obrigações contratuais com os compradores europeus, mas alertou para novas potenciais restrições por causa das sanções.
Hoje, a operadora do gasoduto disse que levaria muitas horas para atingir seus volumes de pré-manutenção, que foram 40% menores do que os fluxos normais, por causa do que a Rússia diz ser um problema à parte e não resolvido com uma turbina.
O que é o Nord Stream e por que possui tanta importância para o fornecimento de gás natural da Europa?
O gasoduto Nord Stream, de 1.200 quilômetros de extensão, conecta os campos férteis de gás siberianos da Rússia com a Alemanha sob o Mar Báltico. Inaugurado em 2011, a tubulação tem uma capacidade de 55 bilhões de metros cúbicos por ano, o suficiente para cobrir cerca de 10% do consumo anual da UE.
A Rússia e um consórcio de empresas europeias de energia construíram um segundo canal, o Nord Stream 2, em atividade ao lado do original, que teria dobrado a capacidade. Mas o governo alemão congelou o projeto em fevereiro por causa da guerra na Ucrânia.
Existem outros gasodutos da Rússia para a Europa, mas os fluxos através deles diminuíram. A Ucrânia interrompeu uma rota de transporte de gás em maio, culpando a interferência das forças russas. As entregas através de um outro, chamado Yamal, que tradicionalmente transportava a commodity da Rússia para a Europa, pararam este ano devido a sanções impostas pela Rússia ao co-proprietário polonês.
Antes da invasão da Ucrânia, a UE importava cerca de 40% de seu gás da Rússia, no entanto esse número tem caído nos últimos meses.
Por que a Rússia interrompeu os fluxos de gás via Nord Stream?
A gigante de energia russa Gazprom, acionista majoritária do gasoduto, cortou as entregas via Nord Stream, por causa de uma manutenção anual no início de julho. Um procedimento sem intercorrências em tempos de paz. Mas este ano, os governos europeus temiam que a manutenção se tornasse uma desculpa para Moscou não reiniciar o transporte por meio do canal.
Antes mesmo do início dos reparos, Moscou tinha reduzido as entregas do gasoduto para 40% de sua capacidade, culpando as sanções canadenses que impediram o retorno de uma das turbinas que estava sendo reparada no local. No início deste mês, o Canadá decidiu voltar atrás em suas sanções, permitindo que as turbinas do gasoduto Nord Stream fossem reparadas e devolvidas à Rússia. A Alemanha está agora correndo para devolver à Rússia uma turbina que já estava no Canadá para manutenção.
Na quarta-feira (20), a Gazprom disse que ainda não recebeu a documentação do equipamento que deveria ter sido enviada pela Siemens Energy, responsável pela manutenção. A empresa de energia russa afirmou que a necessidade de manutenção na turbina e outros equipamentos teve um impacto direto nas operações seguras do Nord Stream. Segundo a Siemens Energy, seu objetivo sempre foi transportar a turbina para seu local de operação o mais rápido possível e disse que é capaz de preservar outras turbinas.
A Gazprom invocou força maior por suas falhas para entregar seus acordos contratuais de carregamentos de gás natural nas últimas semanas, segundo empresas europeias de energia. Não estava claro se o aviso – uma declaração legal que isenta a empresa de cumprir as obrigações contratuais devido a circunstâncias fora de seu controle – cobria uma possível decisão da Rússia de não retomar os fluxos do Nord Stream após a manutenção.
O que acontece durante a manutenção?
Os gasodutos geralmente passam por manutenção nos meses de verão, quando o consumo de gás é menor devido às temperaturas mais altas.
Durante o processo, o operador do duto o desliga temporariamente para testar seus elementos mecânicos e sistemas de automação. Os engenheiros analisam segurança e proteção, telecomunicações, fornecimento de energia e sistemas de detecção de incêndio, bem como outros equipamentos de gasodutos e compressores de gás. Durante o processo, os tubos geralmente permanecem cheios de gás e sob pressão.
O que o presidente Putin disse sobre a reativação do gasoduto?
Na terça-feira (19), após visita a Teerã, Putin disse que a Gazprom “sempre cumpriu e cumprirá todas as suas obrigações”. Mas ele acrescentou que os fluxos podem cair para 20% da capacidade já na próxima semana se a turbina que estava passando por reparos no Canadá não for devolvida à Rússia em breve. Putin também comentou que outra turbina teve que passar por manutenção em 26 de julho.
Embora, nos últimos dias, algumas autoridades europeias tenham tido dúvidas sobre se o Nord Stream voltaria a funcionar, os comentários de Putin ajudaram a alimentar expectativas de que o oleoduto seria de fato reiniciado.
O que dizem os europeus sobre a questão das turbinas?
Autoridades europeias haviam descartado o discurso de manutenção das turbinas, dizendo que era um pretexto para Moscou pressionar a Europa e impedir que os países armazenassem gás suficiente antes do inverno.
“Nós não vemos razões técnicas”, disse a porta-voz do Ministério da Economia alemão Beate Baron na segunda-feira (18). “Nossa informação é que esta turbina é uma turbina de reposição que foi prevista para uso em setembro”.
Baron se recusou a comentar sobre o paradeiro da turbina que estava no Canadá para reparos, alegando razões de segurança.
Não está claro quando o equipamento chegará à Rússia ou será instalado, mas os analistas da Energy Intelligence disseram que esperam que ela esteja pronta até o final de julho ou nos primeiros dias de agosto, “a menos que a Gazprom encontre mais razões técnicas para não colocá-la em operação.”