“A gente, no fundo, está avançando”: sócio da Vinci comenta cenário global

O cenário externo tem se guiado por incertezas quanto à inflação nos EUA e na Europa, retomada econômica na China e a situação do sistema bancário. Mas nada disso prejudica o Brasil, segundo José Carlos Carvalho, sócio e estrategista da Vinci Partners. 

Pelo contrário. No evento “Perspectivas 2033”, promovido pela Nomos Investimentos no último fim de semana, o especialista em macroeconomia defendeu que o cenário global está favorável para o país.

Sob a tese de que “o melhor mundo para o emergente é o mundo morno” e comparando o Brasil a um pequeno barco no imenso oceano da economia global, José também vê positivamente o cenário externo dos últimos três meses. 

Panorama global

Até o fim de 2022, dissertou o sócio da Vinci, as projeções para a China resumiam-se à expectativa pelo fim das restrições impostas pela política Covid-zero. 

Já na Europa, circundaram inúmeras especulações sobre uma crise de energia no continente desde o início da guerra na Ucrânia. No entanto, o contexto atual é de estoques de gás em nível recorde. 

Relativo aos EUA, José aponta resiliência na demanda e no mercado de trabalho, apesar do aperto monetário do Fed. Sobre a crise entre os bancos regionais americanos, ele pondera que pouco mexeram com a economia real do país.

“Não tão sério quanto 2008”, uma vez que o impacto nos grandes bancos da maior economia do mundo foi raso ou nulo. 

Para o especialista, a maior consequência da quebra do Silicon Valley Bank e do Signature Bank será uma migração das companhias americanas dos bancos regionais para os big players.

Na Europa, a situação dos bancos é um tanto diferente. “Ninguém entendeu bem o que aconteceu no Credit Suisse”, sintetizou. “O SBN liquidou um banco antes de ele ser insolvente.”

José Carlos Carvalho, da Vinci Partners, no evento “Perspectivas 2033”, da Nomos Investimentos. [Foto: Reprodução]

E o Brasil, como fica?

Sem descartar a convicção sobre os bons ventos do exterior, José Carlos menciona a dificuldade imposta pelo contexto político do Brasil ao cenário interno da economia local.

O especialista contrapôs o quadro fiscal de 2022 com a projeção para este ano. Considerando os anúncios do novo governo sobre as pretensões de gasto público, o país “vai passar de um superávit para um déficit”.

A política fiscal do terceiro mandato de Lula tem sido o principal driver interno do humor dos investidores na B3, afetado principalmente por qualquer notícia referente ao Banco Central e ao novo arcabouço fiscal. 

Quanto a este último, o sócio da Vinci alimenta poucas esperanças, e explica suas projeções utilizando-se de uma analogia do contexto escolar. 

O teto de gastos aprovado no governo de Michel Temer, discorre, era como se um aluno precisasse de média 7 para passar de ano. Na mesma lógica, José considera que a proposta de Haddad será como se o mesmo aluno precisasse apenas de média 3. 

Todavia, “o Centrão vai cortar excessos” da nova âncora fiscal, acrescentou o economista. 

Em relação ao ciclo de aperto da Selic, o especialista acredita na iminência do início do corte de juros. 

Para José, é natural o estranhamento à última decisão do Copom. “O último movimento do Banco Central é sempre errado”, ironiza. 

Indo além das pautas mais urgentes no curto prazo, ele não acredita no sucesso da Reforma Tributária no Congresso, uma vez que a proposta do Ministério da Fazenda deve trazer mais impostos a setores como o agronegócio. “É um edital de convocação de inimigos.”

Ruim, mas não drástico

Entretanto, o sócio da Vinci faz questão de não grudar a política às estratégias de investimento. “A gente tende a se concentrar nesses distúrbios de curto prazo, mas no longo prazo, estamos indo bem.”

José corrobora tal pensamento com a descrição de suas conversas com clientes estrangeiros. 

O grande investidor gringo investe em países como a China, governada por Xi Jinping, e no México, por López Obrador. Cenários políticos conturbados não são impedimento, conclui, frisando também que “a bolsa é um ativo de duration longa”. 

Talvez por isso, José considera que prever o mundo de 2033 “talvez seja até mais fácil que 2023”. Além dessa conjectura, ele exprime a certeza de que “o Brasil de hoje é melhor que o de 1995”. 

“Acho que a gente, no fundo, está avançando”, resume o economista. 

 

Assista ao evento completo:

Sair da versão mobile