O dia depois do caos: como fica o Ibovespa após o derretimento das bolsas globais

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Isabela Jordão

 

A segunda-feira (05) começou com trombetas apocalípticas. Logo no início da manhã, a bolsa do Japão encerrou o pregão com a pior queda desde 1987, zerando todos os ganhos de 2024. Mas, apesar do mercado americano ter acentuado as perdas do pós-payroll de sexta-feira (02), o mercado brasileiro não sentiu tanto assim os temores de uma recessão nos EUA. 


O Ibovespa fechou com 0,51% de queda, aos 125.216 pontos – longe da mínima de 123.076, registrada na primeira hora de pregão. Foi “uma movimentação de queda até suave perante o mercado em geral”, na definição do analista técnico Filipe Borges. Para amanhã (06), a tendência ainda é de baixa.

Com o fechamento de hoje, o mercado fica bem definido”, diz. O índice caiu forte, está se recuperando aos poucos, e o patamar dos 125,8 mil é o divisor de águas. A recomendação de Filipe é “aguardar mudança de tendência para compras, ou o mercado apontar para baixo com aumento de volume para poder acelerar a venda novamente”.

Tempos gráficos menores são os mais importantes agora. O gráfico de 60 minutos, prossegue o analista, ainda registra topos e fundos descendentes, mas o índice pode novamente voltar à região de consolidação, na qual ficou por quase duas semanas, caso trabalhe acima dos 126 mil pontos na terça-feira. “É preciso realmente enxergar um pivô de alta, uma movimentação no gráfico de 60 minutos para voltar às compras.”

Caso o Ibovespa volte a cair, indo abaixo dos 123 mil pontos, formaria-se uma bandeira de baixa, cujo alvo no curto prazo seria em 121,6 mil e o teste do suporte, 119 mil. 

Para as carteiras de longo prazo, a recomendação é ficar longe do pânico. “Nesse momento, talvez seja o momento de não tomarmos nenhuma decisão radical”, aconselha o sócio e CIO da MSX Invest, Marco Saravalle. 

Ou seja, quem vendeu tudo na abertura do mercado hoje provavelmente amargou prejuízo desnecessário – ainda mais considerando que as quedas no mercado nacional foram diminuindo ao longo da sessão. A grande questão para o momento, prossegue o especialista, é entender se o tamanho das posições faz sentido e a agressividade da carteira (beta). 

“Às vezes, faz muito mais sentido comprar empresas de qualidade, que estão gerando caixa, com melhor estrutura de capital, com melhor estrutura de capital, empresas menos alavancadas”, ao invés de sair totalmente da renda variável. 

O ambiente é mais difícil, “mas ainda, de certa forma, temos também ativos, sobretudo no Brasil, muito descontados”. Afinal, mesmo com a tendência generalizada de queda no mundo, o mercado nacional até que está segurando bem as pontas. 

Não é que o temor global com uma recessão dos EUA seja infundado – a questão é que foi exagerado, diz Saravalle. O índice VIX, tradicional termômetro do medo do mercado americano, fechou com 64,9% de alta nesta segunda-feira, nível comparável aos da pandemia e da quebra do Silicon Valley Bank, no ano passado.  

O Nasdaq caiu 3,4% na sessão, o S&P caiu 3% e o Dow Jones, 2,6%. Todos ampliando as perdas da sexta-feira, quando o relatório oficial de empregos dos EUA (payroll) apontou criação de 114 mil empregos em julho, bem abaixo dos 176 mil da média de projeção. 

Houve até quem ventilasse a possibilidade de o Federal Reserve realizar uma reunião extraordinária para cortar logo a taxa de juros. O Citi não descartou a possibilidade, em nota divulgada nesta segunda-feira. “Uma nova liquidação de ativos de risco também poderia provocar cortes mais rápidos, uma vez que os dirigentes do Fed considerariam isso como um aperto exógeno das condições financeiras.”

Já Ivo Chermont, sócio e economista-chefe da gestora Quantitas, não vê qualquer lastro para crer em uma antecipação. “Eu não acredito nem um pouco nisso, nem acho que faça sentido. Do ponto de vista do fundamento macro, não faz sentido”, comentou ele hoje em áudio enviado a cotistas. 

O executivo tampouco vê sinais agudos de recessão, e citou o PMI ISM de serviços, divulgado pela manhã. O indicador veio levemente acima do esperado, a 51,4% contra projeção de 51%. A marca de 50 indica expansão da atividade econômica. 

Ao mesmo tempo, a inflação do setor de serviços igualmente veio acima do esperado no PMI – outro motivo para o BC americano não correr para cortar juros.

Victor Benndorf, analista e sócio da casa de research que leva seu nome, igualmente acha prematuro decretar prognóstico de recessão. Ele também citou a robustez do setor de serviços, acrescentando que o enfraquecimento do mercado de trabalho americano está “em níveis bons”. 

“Por enquanto, vamos dizer assim, a gente precisa monitorar o mercado americano”, sintetiza. “Macroeconomicamente, não há sinais de alarde, não há sinais de pânico.” Enquanto o serviço se mantiver robusto, ele vê baixa probabilidade de uma recessão em solo americano. Quando os juros realmente caírem, acrescenta, o mercado imobiliário pode compensar. 

Para o Brasil, quanto mais os juros dos EUA caírem, mais aliviado fica o lado do Banco Central. “O que a gente tem que monitorar é o dólar, que realmente é um problemaço”, diz Victor. “Ou seja, o que não vai deixar o Banco Central ficar um pouquinho mais agressivo em termos de derrubar a taxa Selic é esse câmbio.” Enquanto o dólar não ceder, pode haver melhora externa, mas o cenário local segue preocupante.

A moeda americana fechou a R$ 5,74 hoje, com 0,56% de alta. A Benndorf trabalha com estabilidade na Selic para 2024 como um todo. Se o câmbio ceder, “a gente pode trabalhar com uma visão mais otimista”.

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