O erro contábil do Magazine Luiza [MGLU3] e sua relação com o da Americanas [AMER3]

[Divulgação]

Problema de contabilidade no Magazine Luiza [MGLU3]. A informação ofuscou os números do balanço trimestral da empresa na sessão desta terça-feira (14), juntando-se à série de episódios nada felizes protagonizados por varejistas brasileiras em 2023.

A ferida ainda aberta pelo rombo de R$ 20 bilhões na Americanas [AMER3] não deixa calar a pergunta: quais as similaridades entre os dois casos?

Enquanto a Americanas afirmou ter sido vítima de “fraude sofisticada” em fato relevante nesta semana, o Magalu teve um erro de natureza bem mais leve, não constituindo um crime, tranquiliza o jurista e analista de ações certificado João Tonello.

A dimensão também é outra nos cifrões envolvidos. O rombo inicial descoberto na Americanas foi de R$ 20 bilhões, enquanto no Magazine Luiza, é inferior a R$ 1 bilhão – se descontada a compensação de impostos.

“O problema de Americanas envolveu fraudes contábeis, inclusive com os balanços de 2022 ainda não tendo sido divulgados, já o caso de Magazine Luiza envolveu o reconhecimento inadequado de bônus de fornecedores”, distingue Niels Tahara, analista de varejo da Eleven Financial.

O que aconteceu, em detalhes

Em resumo, o Magalu reconhecia receitas de bônus provenientes de acordos comerciais com fornecedores antes que os termos reais dos contratos fossem cumpridos. Os erros foram descobertos a partir de denúncia feita em março – pouco depois do escândalo Americanas.

De acordo com o relatório publicado pelo Magalu na noite de segunda-feira (14), a investigação não encontrou violações no código de conduta da companhia. “A conclusão foi de que houve boa-fé da administração e não houve violação do código de ética da empresa”, disse o CFO da varejista, Roberto Bellisimo, em entrevista hoje.

Os erros contábeis ocorreram entre janeiro de 2022 e junho de 2022, apontou o resultado da apuração conduzida pelo escritório TozziniFreire Advogados junto à empresa de auditoria PwC e supervisionada pelo compliance do Magalu.

Por conseguinte, a empresa precisou reduzir R$ 830 milhões do patrimônio líquido (PL). O novo Ebitda de 2022 ficou em R$ 1,6 bilhão, 18% inferior ao informado originalmente. Já o de 2023 até junho ficou em R$ 140 milhões acima do anteriormente reportado.

A companhia informou reconhecimento de créditos fiscais de PIS e Cofins em torno de R$ 505 milhões sobre as bonificações recebidas de fornecedores antes de 2022 no mesmo documento em que reporta as incorreções na contabilidade. “Esse crédito surgiu de uma recente decisão do STJ”, explica Tonello.

O valor das compensações entrou no balanço no 3T23

Feitas todas as subtrações e somas, o impacto total no caixa do Magalu foi de R$ 322 milhões no PL, correspondente a 3,3% do total da varejista. Assim, apesar da surpresa com a cifra do erro, houve um “bom sincronismo” da notícia ruim com a da compensação fiscal.

Como fica Magalu depois do feriado

Não há expectativas de novas revisões nos balanços do Magalu, declara Niels Tahara. Por outro lado, a Americanas, em recuperação judicial, adiou para até quinta-feira (16) a divulgação do balanço dos resultados financeiros referentes a 2021 e 2022, previstos para ontem.

“O caso de Magazine Luiza volta a reacender preocupações com relação às demonstrações de contábeis no varejo, mas ainda entendemos ser um caso isolado e que foi corrigido”, prossegue o analista.

De todo modo, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu hoje um processo administrativo para apurar a ressalva feita por auditoria externa sobre o balanço do terceiro trimestre do Magalu. O processo corre em sigilo.

João Tonello lembra o lucro de R$ 331 milhões reportado pela varejista no terceiro trimestre, em reversão do prejuízo de R$ 190 milhões apurado no mesmo período em 2022.

O analista destaca que a última performance positiva da companhia tinha sido no quarto trimestre de 2021, mas também adianta que o quarto trimestre deste ano provavelmente virá negativo – até porque só houve lucro agora por conta da compensação do PIS e Cofins.

A despeito de erros contábeis individuais das companhias, Tonello menciona a dificuldade sistêmica do varejo gerada pelos juros altos. Além disso, acrescenta, o imaginário popular dos investidores recentemente aderiu à tese de que o setor de varejo vai quebrar.

“Uma vez colocado isso no imaginário dos investidores, nada pode-se fazer. A falta de confiança é a maior doença do mercado.”

No caso de Magazine Luiza, mesmo se a empresa tivesse um valuation interessante – “o que não é o caso ainda” – a empresa teria sérias dificuldades para recuperar o valor de mercado. O cenário dificultaria inclusive a realização da oferta subsequente de MGLU3 repercutida esta semana no mercado.

Apesar dos pesares, Tonello classifica o Magalu como a mais distante da zona de perigo, se comparado ao Grupo Casas Bahia [BHIA3] e Americanas. Em terra de cego, quem tem olho é rei, mas o investidor brasileiro não fica restrito. Para o analista, “a melhor escolha é Mercado Livre [MELI34]”.

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