O investidor estrangeiro não quer mais saber do Brasil: quando ele volta?

Enquanto a entrada de capital estrangeiro em 2023 foi a segunda maior da série histórica iniciada em 2004, este ano os gringos abandonaram o interesse no Brasil. O saldo no ano estava negativo em R$ 31,35 bilhões até a última quinta-feira (18), data dos números mais recentes. 

Curiosamente, a movimentação interna vai na direção oposta. Tanto o investidor individual quanto os institucionais acumulam saldo positivo de entradas na B3 em 2024, assim como as instituições financeiras. 

A saída de capital externo do Brasil começou em janeiro. A data evidencia que boa parte do fluxo que está saindo não é consequência de guerras ou piora do cenário fiscal brasileiro, “apesar de a gente saber que, obviamente, isso impulsionou bastante esse movimento”, comenta Beto Saadia. 

Fluxo de capital acumulado em 2024. [Fonte: XP Investimentos]

Por que o fluxo estrangeiro está saindo do Brasil?

Na verdade, acrescentou Beto, o movimento de saída do dinheiro tem se dado em escala global. Está acontecendo uma volta dos recursos globais de volta para os Estados Unidos, ante a solidificação da perspectiva de que o país pode ser uma das últimas nações desenvolvidas a realmente começar a baixar juros. 

A última reunião do Banco Central Europeu, em 11 de abril, apontou “uma fraqueza enorme na economia europeia”, segundo o especialista. O posicionamento dos diretores da autarquia fortaleceu as projeções de início de redução dos juros no bloco econômico já para o meio do ano.

O caso dos países latinos, já em fase de redução de juros, aumenta a atração do capital global para os EUA. 

“E aí, obviamente, no mês de abril, teve um impulsionamento muito grande”, diz Beto. Não só por conta do conflito no Oriente Médio, “mas por conta também de fatores internos, que vêm desde a época das intervenções da Petrobras e da Vale, e pioraram no plano fiscal com a mudança de metas do [resultado] primário”.

Apesar dos juros básicos dos EUA estarem na faixa dos 5% – menos da metade da Selic, atualmente em 10,75% –, a diferença é baixa quando se leva em consideração a questão cambial, complementou Renato Nobile, analista da Buena Vista Capital. 

“Não faz sentido para o investidor estrangeiro tomar risco no Brasil, quando ele tem em contrapartida um país muito mais estável em termos de economia e também em qualidade de ativos.”

Adicionalmente, pesa o desenvolvimento da inteligência artificial e tecnologia como um todo em Wall Street. Há tal qualidade e inovação nas empresas do mercado americano, diz Renato, que o investidor “acaba tendo um crescimento muito mais sustentável e com ações de altíssima qualidade, quando comparado ao Brasil, que ainda é tratado como velha economia”. 

Quando o dinheiro estrangeiro volta para o Brasil?

Para André Perfeito, economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia de São Paulo, o fluxo de capital capital gringo deve voltar para o Brasil no segundo semestre.

“Se é verdade que o juro no Brasil não vai ser tão baixo que nem se imaginava e se é verdade que também a Bolsa brasileira está caindo a despeito da atividade estar melhorando no Brasil, no meio do ano para frente é possível que a gente veja um fluxo”, opina. 

Já Beto Saadia e Renato Nobile adotam outra perspectiva. Para o diretor de investimentos da Nomos, a tendência deve continuar por alguns meses mesmo se houver alguma melhora macroeconômica interna ou na geopolítica global, pois “realmente a situação americana é uma situação peculiar”. 

É possível que sequer haja corte de juros nos EUA neste ano, destacou. O ano começou com perspectiva de cinco cortes pelo Federal Reserve, que já passou para duas. 

“O Brasil só fica realmente atrativo para o capital internacional quando tivermos queda de juros mais consistente nos Estados Unidos”, concordou Renato, lembrando novamente de como a solidez do crescimento da economia americana, a qual segue atraindo capital. 

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