“O mercado é irracional”: Por que ações com bons fundamentos ficam tão baratas?

Indicadores de análise fundamentalista permitem mensurar matematicamente o quanto uma empresa vale. No entanto, a cotação dos ativos não raro difere para mais ou para menos dos números encontrados pelas métricas.

Tal se deve ao embasamento dos investidores para suas precificações. “O preço de tela costuma refletir as perspectivas futuras da companhia e os riscos aos quais as empresas estão expostas”, explica Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research.

O resultado são assimetrias entre fundamentos e preço de tela, que permitem classificar um ativo como caro ou barato. “No curto prazo, existem diversas distorções, fazendo com que algumas ações fiquem baratas e outras caras, que chamamos muitas vezes de ruído”, explica Guilherme Domingues, analista de varejo da Eleven Financial. “O mercado é irracional”, resume.

Apesar das distorções, ambos os analistas concordam: no longo prazo, as cotações tendem a seguir os resultados das companhias. Niels e Guilherme, contudo, frisam que tendência não é garantia. “Uma ação que está cara pode ficar mais cara ainda, e o contrário também é verdadeiro”, pondera o analista da Eleven.

Preço sobre lucro (P/L), um indicador fundamentalista, de PETR4 em 18 de outubro de 2022. [Fonte: Bloomberg]
O valor justo de uma companhia, explica Niels, baseia-se nos resultados futuros, na expectativa de geração de caixa descontado ao custo de capital. “Por isso, existem muitos fatores que podem se alterar ao longo do tempo e façam com que as projeções não se realizem (e consequentemente o preço justo estimado também não)”, conclui.

A incerteza do futuro, longe de invalidar a análise fundamentalista, a justifica. De acordo com Niels, “é sempre importante entender quais as premissas da tese de investimento de uma companhia e o que está embutido no seu valuation para que se possa acompanhar as razões que levaram o investidor a realizar os investimentos e entender se, ao longo do tempo, essas razões permanecem as mesmas”.

Assimetrias podem representar oportunidades. Mesmo day traders, focados em operações de curto prazo, encontram utilidade no estudo dos fundamentos. Para Filipe Borges, analista técnico da Benndorf Research, a escola fundamentalista indica “possíveis ações nas quais devo ficar de olho pra compra e pra venda”. A partir daí, ele busca nos gráficos pontos de entrada para as operações.

“Existem diversas oportunidades em diferentes setores”, declara Guilherme Domingues. Geralmente, quanto menos conhecida é a empresa entre os investidores, maior é a assimetria, e consequentemente o potencial de ganho, “porque o mercado ainda não precificou todas as variáveis corretamente”. O analista menciona as Small Caps como exemplo.

Preço sobre valor patrimonial por ação (P/VPA), outro indicador fundamentalista, de VALE3 em 18 de outubro de 2022. [Fonte: Bloomberg]
O mapa das pechinchas, defende Niels, está justamente na análise fundamentalista, “que consiste no estudo qualitativo e quantitativo da companhia, que vai desde a gestão, modelo de negócios, vantagens competitivas, capacidade de se adaptar às mudanças, até a análise dos demonstrativos e projeções dos resultados”.

Quanto à utilidade do modelo de análise, Guilherme acrescenta a importância de acompanhar também os fundamentos e números de empresas concorrentes e do setor ao qual a potencial investida pertence. “Uma vez que você entende o futuro daquela companhia em termos de receita e lucro, e consegue comparar esses indicadores com outros players”, é possível definir uma ação como cara ou barata.

Todavia, nem a escola fundamentalista nem o valuation não são ciências exatas, ressalva Niels Tahara. Ainda assim, os modelos “oferecem ferramentas que nos ajudam a identificar, através de um estudo aprofundado, oportunidades de investimentos”.

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