Isabela Jordão
Começou nesta terça-feira (23) a negociação dos ETFs de Ethereum à vista no mercado americano, liberados na véspera pela Securities and Exchange Comission (SEC), a CVM dos EUA. O primeiro lote dos fundos negociados em bolsa ultrapassou o volume de U$ 360 milhões apenas nos primeiros 90 minutos de negociação, de acordo com dados da Bloomberg.
Ainda assim, a reação do mercado foi morna, com os preços das principais criptomoedas pouco alterados. O Ethereum caía 0,33% e o Bitcoin 3,42% às 16h45, segundo dados da Coinbase Global, que serve como custodiante de oito dos nove novos ETFs de Ether lançados.
Filipe Borges, trader e analista técnico, não está surpreso. “A aprovação de hoje não muda nada no D+0”, comenta. Ele já projetava que o dia do lançamento do ETF seria muito mais uma data específica do que um evento de impacto real no ativo de referência, apontando também a leitura de que as principais gestoras já vinham comprando Ethereum.
“Acredito até em uma certa manipulação dos preços ultimamente, para deixar o Ethereum um pouco mais em conta, para não estourar o preço para cima quando [o ETF] fosse aprovado.”
A visão cautelosa do analista não inibe uma projeção positiva para o criptoativo. Pelo contrário, Filipe Borges diz que agora é o “melhor momento” para comprar Ethereum.
Mas a razão não tem nada a ver com os ETFs. Filipe se orienta pelo modelo stock-to-flow, que acompanha o ciclo do Bitcoin e indica que a maior criptomoeda do mundo está agora em região de compra. “BTC primeiro, depois vai o resto”, observou Filipe sobre a correlação entre o Bitcoin e o restante do mercado cripto.
Aliás, é justamente a esses prazos mais longos que o lançamento do ETF de Ethereum à vista – ou spot, no jargão de Wall Street – tende a gerar impacto significativo. De acordo com Renato Campos, diretor de Relações com Investidores da Hashdex, a novidade pode aumentar a demanda institucional pelo criptoativo, tornando-o mais acessível a investidores tradicionais.
O movimento, se concretizado, seria semelhante ao observado com os ETFs de Bitcoin spot, “potencialmente ultrapassando US$ 5 bilhões em novos investimentos durante os primeiros meses de negociação”.
“Sem dúvidas”, prossegue, o lançamento desta terça-feira é “um grande avanço para interligarmos a economia tradicional à criptoeconomia, já que agora os investidores têm mais uma opção segura e simplificada para investir por meio de mecanismos tradicionais do mercado”. Ainda, finaliza o especialista, os novos ETFs dos EUA mostram que o Brasil não está sozinho na jornada de aderência ao mercado cripto, mas sim seguindo uma tendência global.
Há sete ETFs de criptoativos disponíveis na B3, e os contratos futuros de Bitcoin estrearam no mercado nacional em abril.
“A liberação dos ETFs de Ethereum são, sem dúvida, mais um avanço no reconhecimento e aceitação das criptomoedas como ativos financeiros pelo mercado tradicional”, concorda Raul Sena, educador financeiro, investidor e fundador da escola de investimentos AUVP. O ETF americano, acrescenta, constitui mais uma boa opção para quem acredita no potencial de longo prazo do Ethereum.
“Mas é bom lembrar que o mercado é sempre dinâmico e depende de inúmeros fatores”, adverte Raul, conhecido também como “Investidor Sardinha” nas redes sociais. “Embora exista uma tendência natural de alta do Ethereum agora, com mais investidores comprando via ETFs, a gente nunca sabe o que pode acontecer no futuro.”
Ademais, completa, é fundamental avaliar se comprar Ethereum agora está condizente com os próprios objetivos financeiros e estratégia de investimentos. “Comprar só pelo oba-oba é quase sempre um mau negócio para um investidor de longo prazo.”