O que esperar para o IPCA de junho?

Por Caroline Galdino, Equipe TradeNews

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é o principal indicador da inflação no Brasil, calculado pelo IBGE. O índice mede mensalmente a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços consumidos pelas famílias e é usado como referência para as metas de inflação do Banco Central.

Expectativa para junho: alta moderada

O IPCA de junho será divulgado na quinta-feira (10) e a XP projeta alta de 0,18%, em linha com as expectativas do mercado futuro atrelado ao IPCA (DAP) e do consenso de 0,20%, conforme levantamento da Bloomberg. As projeções variam entre 0,11% e 0,28% na comparação mensal.

Nas medidas subjacentes, a mediana das projeções aponta avanço médio de 0,28% nos núcleos e de 0,41% nos serviços subjacentes. A XP estima altas um pouco menores: 0,25% nos núcleos e 0,38% nos serviços. Caso se confirmem, essas leituras levariam o núcleo em 3 meses (3M SAAR) anualizado de 5,4% para 4,7%, e os serviços subjacentes de 7,0% para 6,1%. Já entre os serviços intensivos em mão de obra, segmento acompanhado de perto pelo Banco Central, a projeção é de alta de 0,52% no mês, elevando a taxa anualizada para 6,4%, ante 6,3% em maio.

Alimentos aliviam, mas energia pressiona

Nos componentes do índice, os preços de alimentos consumidos no domicílio devem mostrar alívio, puxados por quedas em itens in natura como batata, legumes e frutas. As carnes de aves também devem recuar, com o aumento da oferta doméstica após restrições comerciais decorrentes da gripe aviária. Para bens industriais, a expectativa é de estabilidade, influenciada pela valorização recente do real e por preços ao produtor mais favoráveis.

Já os preços monitorados devem ter comportamento misto: energia elétrica tende a subir com a ativação da bandeira tarifária vermelha 1, enquanto os preços da gasolina devem cair após ajustes da Petrobras. Por outro lado, os itens de higiene pessoal podem registrar queda de 0,35%, mas ainda há incertezas sobre a intensidade desse movimento.

Reação do Mercado ao dado

“O IPCA de junho deve ser um divisor importante para calibrar as expectativas do mercado”, avalia Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos. Segundo ele, se o número vier em linha com as projeções, algo em torno de 0,18% a 0,20%, o Ibovespa tende a reagir de forma neutra a levemente positiva. “Nesse cenário, o mercado ganha confiança de que a inflação segue sob controle e dentro do cenário base, mantendo as apostas de cortes graduais da Selic mais à frente”, explica. Setores ligados à economia doméstica, como varejo e construção, podem se beneficiar nesse contexto.

Agora, caso o IPCA surpreenda para baixo, Saadia aponta uma reação mais otimista do mercado acionário. “Uma leitura mais benigna da inflação abriria espaço para o Banco Central acelerar ou antecipar o ciclo de cortes de juros, o que favorece diretamente ações de setores mais sensíveis à taxa básica”, afirma. Nesse caso, varejo, consumo e bancos poderiam puxar a alta do índice.

Por outro lado, se o dado vier acima do esperado, o movimento tende a ser de cautela. “Um IPCA mais forte do que o projetado acende um sinal de alerta sobre a trajetória inflacionária e pode levar o mercado a reavaliar o ritmo e a profundidade dos cortes da Selic”, diz. Com isso, papéis ligados ao consumo doméstico poderiam sofrer, enquanto exportadoras e empresas do setor de commodities teriam um desempenho relativamente melhor.

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