As ações da Vivara [VIVA3] caíram 3,4% na última terça-feira (26), dando continuidade ao tombo da semana passada. “Uma semana que poderia não ter acontecido”, na definição de uma analista. De segunda à sexta, a companhia ficou envolta por temores relativos à governança da empresa – com direito a um balanço trimestral abaixo do esperado como cereja do bolo.
Foram 14% de queda diária apenas na segunda-feira passada (18), em repercussão ao anúncio de que o fundador da Vivara, Nelson Kaufman – afastado do mercado há alguns anos – voltaria à presidência da empresa, diante da renúncia do então CEO. Paulo Kruglensky, executivo do negócio por 17 anos e diretor há três, fez parte da criação da marca Life by Vivara.
Três pregões e quase 20% de queda das ações depois, Kaufman comprou cerca de R$ 90 milhões de VIVA3 na sexta-feira (22), aumentando a posição na companhia de 24,6% para 26,2%.
Mas amanhã é sempre outro dia. Esta semana começou com o anúncio de que Kaufman voltou atrás na decisão de reassumir a direção da Vivara e fica na presidência executiva do conselho de administração. Otávio Lyra, então CFO, fica também como CEO agora. Apesar do respiro de ontem, quando VIVA3 subiu 2,5%, não é como se o mercado tivesse esquecido o que passou.
A sequência de eventos mostra “zero governança, infelizmente”, disse uma fonte a par do assunto ao TradeNews.
“Ele [Kaufman] está dando provas de que não está preocupado com o total da empresa da Vivara, não está preocupado com os acionistas, não está preocupado com quem trabalha na empresa. Ele deve ter um ego enorme e deve estar preocupado com o seu ego.”
Vai sobrar para Otávio Lyra arrumar a casa, na visão do especialista, que afirma ser próximo de Tarcila Ursino – membro do conselho de administração da Vivara que renunciou no dia 22.
Lucas Lima, analista da VG Capital, concorda. “A governança da Vivara foi afetada, e o mercado deve levar em consideração por um bom tempo esse evento para analisar a tese de investimento da empresa no longo prazo”, pondera. Por outro lado, prossegue, Lyra é um bom nome para a presidência, principalmente para a continuidade das estratégias da companhia com foco na expansão da Life.
Quem é o novo CEO da Vivara
Há anos na diretoria da Vivara, Otávio Lyra conduziu junto a Kruglensky o processo de expansão da Life, além de ser alguém muito próximo do mercado, conta Caroline Sanchez, analista da Levante.
Aliás, um dos principais fatores para a reação negativa do mercado à possível volta de Kaufman ao cargo de CEO foram os comentários dele que apontavam o desejo de internacionalizar as operações da Vivara, acrescentou a especialista. Contrastou com a ousadia da proposta o fato de que o fundador da empresa “não conduziu o processo de IPO nem nada de lá para cá”.
Otávio Lyra é quem geralmente conduz a teleconferência de resultados, tradição mantida na call da última quinta-feira (21), referente ao balanço do quarto trimestre de 2023 (4T23) – no qual a companhia reportou lucro líquido de R$ 144,2 milhões, recuo de 8,6% na comparação anual. Nela, conta Caroline, a ideia foi justamente tentar passar a ideia de que a dança das cadeiras na diretoria não mudou nada no plano estratégico da Vivara.
“Eu acho que o mercado não comprou muito essa ideia”, opina.
VIVA3, a joia do varejo
As ações Vivara registram hoje um fluxo de venda nunca visto antes no ativo, diz Felipe Borges, analista técnico da Benndorf Research. VIVA3 não apresenta nenhum sinal de compra no curto prazo.
Para quem está comprado e não saiu da posição ainda, ele recomenda sair do ativo em cotações abaixo de R$ 23,60. “Tem espaço para cair para R$ 18,97, o que eu não acho nada impossível pelo fluxo de vendedor muito forte.” A partir desse suporte, abre-se espaço para observar movimentações que chamem atenção para compras.
Em tempos gráficos menores, como diários, 60 minutos, VIVA3 registra pivôs de baixa, “então sou vendedor do ativo, com um belo espaço para queda nos próximos dias”, concluiu Filipe.
Enquanto investimento de longo prazo, o consenso de mercado permanece positivo para Vivara, apesar dos pesares. A recomendação das casas consultadas pela Bloomberg é majoritariamente de compra – há uma única posição neutra, do Banco Safra –, posicionamento endossado pela Levante e VG Capital.
Mesmo com o imbróglio de governança e queda na rentabilidade no 4T23, os fundamentos estão preservados no longo prazo, diz Lucas Lima. “A Vivara é uma empresa que entregou resultados bastante resilientes nos últimos anos, mesmo diante um cenário macroeconômico desafiador”, acrescenta.
A queda na lucratividade do 4T23 se explica pelo número de aberturas concentradas naquele trimestre, explicou Caroline Sanchez, portanto não afeta em nada os fundamentos da companhia. Na visão da especialista, a Vivara é uma empresa de crescimento que atua em setor “extremamente resiliente”, o segmento de alta renda.
Em resumo, “nada muda em relação à tese”, segundo Caroline. Ela vê o múltiplo de VIVA3 um pouco mais esticado, o qual deve desinflar nos próximos anos, projeta. Ainda assim, a Vivara segue uma empresa “muito bem estruturada, muito bem gerida”.
Na B3, a companhia está listada no segmento Novo Mercado, que possui o padrão mais elevado de governança entre os demais.
Ironicamente, houve nas redes sociais quem classificasse o trade de Nelson Kaufman da semana passada “Trade de Governança”. Para outros investidores, o fundador da Vivara apenas aproveitou a causalidade do tombo das ações.
De todo modo, diz Caroline Sanchez, o único ponto negativo da situação “é que não precisava ter acontecido nada disso desde o início, poderia ter sido uma decisão tomada desde o início pelo conselho e pelo Kaufman”.