DISCLAIMER: o texto a seguir trata apenas da opinião do autor e não necessariamente reflete a opinião institucional da Nomos Investimentos ou do TradeNews.
Primeira ideia
O ano era 2015, no Brasil a economia desapontava, fazendo o país perder a confiança dos investidores, a inflação disparava e o desemprego passou a ser uma realidade pra muita gente.
A vontade de não depender mais de um emprego formal, fazia com que muitos brasileiros buscassem rentabilizar seu patrimônio, na intenção de que essa jornada pudesse virar seu novo trabalho ou pelo menos uma nova fonte de renda. E lá estava eu, mais um brasileiro tentando fazer o day trade dar certo.
Eu já operava swing trade há alguns anos, mas a dinâmica do day trade era bem diferente e exigia mais conhecimentos e numa velocidade muito maior. Naquela época eu acreditava que bastava me dedicar a encontrar um setup perfeito, ou pelo menos um que tivesse uma boa taxa de acerto, e os gains fluiriam infinitamente.
O otimismo (ou inocência) era tanto que dava até pra fazer projeções de aumento de contratos e o calcular o quanto eu poderia vir a lucrar até o fim do ano. Só faltou combinar isso com o mercado….
Colocando a ideia em prática
Busquei fazer estudos, backtestes e muitas operações para descobrir o setup ideal. Virando noites adentro, usando toda sorte de indicadores existentes e depois de algum tempo cheguei a algumas conclusões. Parecia que agora tinha um setup muito bom, então decidi testá-lo mais alguns dias em conta demo antes de implementá-lo em conta real.
Tudo perfeito na conta demo, mas quando finalmente decidia colocar o setup em conta real, esse não performava como antes. Alguma coisa estava errada, mas não entendia exatamente o que era. Voltava às planilhas, simulações, estudos. Talvez tivesse me enganado, mas acreditava que estava mais perto do setup perfeito.
Meses depois, um novo setup parecia ser muito promissor, pelo menos nos testes, mas algum tempo depois já deixava de ter a mesma taxa de acerto de antes.
Afinal, será que o mercado estava contra mim?
Onde estava o erro
A incessante busca pelo setup perfeito me fez perceber que esse Santo Graal simplesmente não existe.
Primeiro porque não existe sequer um setup que tenha apenas gains. Todo setup irá ter seus dias ruins, sem que isso signifique que o setup seja ruim. Segundo, porque o mercado se movimenta pelas expectativas dos investidores e grandes players. Essas expectativas são
criadas a partir de notícias relacionadas a economia local e global, indicadores econômicos, decisões de bancos centrais, além de decisões e declarações políticas.
Os movimentos do mercado são fortemente influenciados pelos ciclos de notícias. Por exemplo, o início de uma guerra gera expectativas sobre seus desdobramentos e suas consequências no mercado. Os investidores se preocupam com o impacto nas empresas afetadas pela guerra, e os commodities tornam-se alvo de atenção, prevendo escassez ou excesso de oferta, dependendo da relação dos países envolvidos com esses commodities.
Esse ciclo de notícias perdura por um tempo, algumas semanas talvez, mas eventualmente, mesmo que a guerra persista, a notícia deixa de ser uma expectativa e torna-se uma realidade. Isso marca o início de um novo ciclo de mercado, no qual as expectativas e projeções baseiam- se nos eventos já vivenciados, ajustando assim novamente os movimentos do mercado.
É exatamente aí que um setup deixa de funcionar. A volatilidade do mercado se altera , e o setup que operava bem em condições de volatilidade anteriores precisa ser ajustado para a volatilidade atual. Isso não significa que o tenhamos que criar um novo setup do zero, mas sim fazer pequenos ajustes que podem tornar o setup novamente lucrativo.
Um exemplo é quando acontece uma grande tragédia, vemos a volatilidade dos ativos aumentar de forma muito intensa, passadas algumas semanas as emoções dos investidores tendem a se ajustar e a volatilidade também tende a diminuir.
Se ajustarmos um setup para o momento de alta volatilidade, muito provavelmente ele não performará da mesma forma durante o ciclo baixa volatilidade. Pequenos ajustes no tamanho dos alvos e dos stops produzem grande diferença nos resultados financeiros do trade.
Flexibilidade é a palavra de ordem.
Uma certeza temos: o mercado vai mudar.
O mercado financeiro é como uma entidade viva, sempre em evolução. Ciclos de notícias podem transformar a dinâmica do mercado da noite para o dia, invalidando setups que eram eficazes anteriormente. Identificar os ciclos de mercado e compreender a dinâmica dos ativos se faz necessário para que possamos estar alinhados com o mercado.
É importante reconhecer que o mercado é soberano. Não temos o poder de modificá-lo ou exigir que ele se comporte conforme nossos desejos. Contudo, podemos adotar a filosofia grega estoica, focando naquilo que podemos controlar. Se não podemos controlar o mercado, podemos gerenciar nosso risco e realizar os ajustes necessários em nosso setup para que este esteja mais alinhado com os movimentos atuais do mercado.
Aceitar a ausência do setup perfeito é libertador. Isso permite que os traders abracem a mudança, aprendam com cada experiência e evoluam constantemente.
Na prática do dia a dia
Não é a toa, que nós do 2MV fazemos lives diariamente, trazemos o contexto macroeconômico, indicadores e principais notícias que possam impactar nos ciclos do mercado. Mais do que isso, desenvolvemos ferramentas como a planilha SWIFT que ajuda a definir melhores alvos e stops a partir de dados estatísticos do ciclo atual do mercado.
Por conta dessas orientações diárias e das ferramentas fornecidas gratuitamente, temos conseguido ajudar milhares de traders a encontrar não um setup perfeito, mas sim um caminho lucrativo com mais probabilidades de gains no daytrade.
* Gil Garcia é engenheiro com pós-graduação pela Unicamp, cursos de Investimentos e Intermediação Financeira pela FGV, e MBA em Economia Financeira. Buscando aprimorar o conhecimento do comportamento humano no mercado possui pós-graduação em Psicanálise.
É sócio da 2MV, atua como trader desde 2006, destacando-se como especialista em gestão de risco e planejamento. Consultor em processos de melhoria contínua, palestrante e educador nas áreas de investimentos pessoais, educação financeira e planejamento.
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