O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) surpreendeu os investidores ao avançar 0,24% em outubro, abaixo do consenso do mercado de alta de 0,29%. Na comparação anual, o indicador subiu 4,82%, também menor que as previsões, de avanço de 4,87%.
Com a inflação mais baixa que o esperado e a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (Bacen) divulgada nesta semana confirmando mais cortes de 0,50 p.p. pela frente, setores mais dependentes dos juros, como o de educação, podem voltar a figurar entre as opções de investimento.
João Tonello, analista técnico, rapidamente corre ao quadro negro e corrige essa constatação, pelo menos para o setor da educação. Ele é incisivo: enquanto Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), não sinalizar cortes nos juros nos Estados Unidos, é melhor ficar de fora do setor.
Leandro Petrokas, diretor de research, mestre em finanças e sócio da Quantzed, opta pelo otimismo. Ao olhar para o Brasil, onde a política monetária toma, por ora, um caminho contrário à americana, a conjuntura parece ser favorável para o setor.
“A queda da Selic contribui para aumento da renda disponível das pessoas. Portanto, é de se esperar que haja um aumento, ainda que marginal, na procura por serviços de educação”, afirmou. “Em um cenário onde boa parte da população é endividada, a redução da SELIC gera uma queda na despesa com juros pagos pelas famílias”, completou.
Entretanto, ele sinaliza ser difícil mensurar objetivamente o impacto real dos cortes na Selic, especialmente quando eles começaram ainda este ano.
Victor Benndorf, sócio-fundador e analista chefe da casa de research que leva seu sobrenome, afirmou em reportagem veiculada no TradeNews que a melhora do Ibovespa, em geral, segue muito dependente do cenário externo, embora os catalisadores locais sigam favoráveis.
Existe nota 10 no setor?
“Prefiro Ânima [ANIM3], pois o valuation é mais atrativo e existe muita dívida [na empresa] que pode ser convertida em equity com a redução de juros e amortização da dívida”, destacou Tonello.
Todavia, pela análise gráfica, o analista sinaliza que Yduqs [YDUQ3] está em um melhor momento, realizando retração de Fibonacci.
Para Petrokas, a Yduqs é o melhor case no setor, sendo dona de um portfólio de produtos mais diversificado, possuindo a capacidade de penetrar em diferentes classes econômicas, ter diversificação geográfica e margens melhores.
Vitru quer jogar em casa
A Vitru, empresa brasileira do setor de educação listada na Nasdaq, planeja migrar para a B3, de acordo com notícia veiculada em setembro pelo Brazil Journal. A companhia tem foco na educação virtual e pode vir a ser beneficiada caso o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) passe a aceitar Educação à Distância (EAD), indica Tonello.
“Mas ainda não é o caso e [o ativo da companhia] atua em mínimas históricas assim como ANIM3”, ressalta.
Petrokas sinaliza que a migração deve aumentar a liquidez das ações e gerar impacto nas demais empresas do setor devido à realocação de recursos – ou seja, investidores podem diminuir ou retirar suas posições nas demais ações de educação para alocar em Vitru.
Atualmente, o Morgan Stanley é uma das casas de research que mantém recomendação de compra para as ações da Vitru, completa Petrokas.
Fies e Enem
“O Fies gerou muito efeito de aumento de demanda por cursos superiores ao longo dos anos 2010 e 2014”, explica Petrokas. Tonello atribui a 2014 o título de “ano de ouro” do programa, mas explica que os financiamentos sofreram duras quedas nos últimos anos.
“Os cursos online têm valores bem mais atrativos e o momento da educação é outro. Desta forma, entendo que [o Fies] não faça mais tanta diferença [para as empresas] como fez nos anos de 2014 a 2019”, ponderou.
Para ele, o fornecimento de bolsas EAD e a diminuição da burocracia ligada à perda da bolsa poderia reacender a atratividade do Fies para o setor educacional.