O conflito aumentou preços de alimentos e energia, vigorou a OTAN, alterou a doutrina militar e reviveu a influência americana no mundo.
A invasão russa na Ucrânia, iniciada exatamente um ano atrás, desencadeou uma cascata de repercussões globais em energia, na economia, na geopolítica e no papel da liderança americana.
Estima-se que mais de 300 mil pessoas tenham sido mortas ou feridas. Outras milhões deixaram suas casas. A guerra também uniu o Ocidente, reformulou o comércio global de energia e expôs os limites da manufatura do exército americano.
Ressurreição da aliança ocidental
Por volta de 2019, o presidente francês Emmanuel Macron declarou que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estava praticamente extinta e o presidente Donald Trump ameaçou a saída dos EUA.
A maioria das nações-membro ignoraram seus compromissos em impulsionar gastos e reconstruir as forças armadas, mesmo após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014. A invasão à Ucrânia no ano passado reviveu a aliança.
Membros da OTAN prometeram e começaram a cumprir, com bilhões de dólares sendo gastos nas forças armadas. As operações da organização ao longo de sua fronteira oriental aumentaram e seus planos para forças prontas para agir expandiram dez vezes.
Os maiores países não-membros da OTAN na Europa ocidental, Finlândia e Suécia, solicitaram adesão ao tratado, unindo a maioria das nações mais ricas da Europa em oposição a Moscou. Ucrânia, Moldávia e Geórgia pretendem entrar em seguida.
– Daniel Michaels
Guerras serão feitas de forma diferente
A Ucrânia apropriou-se com sucesso das táticas de comandos e grupos guerrilheiros, de maneiras que fundamentalmente alteraram a doutrina militar convencional.
Kiev derrubou as forças terrestres de Moscou e afundou navios de guerra com pequenos grupos de ataque rápido e armas ocidentais avançadas e portáteis.
As tropas ucranianas redesenharam drones prontos para lançar granadas e localizar alvos distantes para foguetes guiados por satélite doados pelo ocidente. O exército ucraniano improvisou uma rede de inteligência modelada em software de taxi-dispatcher.
Na Ucrânia, o software coleta localizações de inimigos a partir de dicas de civis e posts russos em redes sociais e profissionais da tecnologia passam informações minuto por minuto para forças próximas.
– Daniel Michaels
A indústria americana tem um incentivo
As munições na Ucrânia acabaram de forma mais rápida do que o esperado, expondo as deficiências militares dos EUA em aquisição de munições, estoques de equipamento, trabalhadores e em cadeias de suprimento.
Dobrar o número de mísseis antitanques Javelin ou lançadores de foguetes Himars produzidos levaria dois anos e custaria muito dinheiro. O Pentágono concedeu 3,4 bilhões de dólares em novos contratos para reabastecer seus estoques domésticos e de aliados.
O exército pediu ao Congresso por US$ 500 milhões ao ano para modernizar suas unidades de produção. A Casa Branca, os legisladores e o Pentágono estão focados em manter os EUA e seus aliados armados e abastecidos para conflitos futuros, incluindo um possível confronto com a China.
– The Wall Street Journal
Os EUA revivem sua influência no mundo
Os Estados Unidos abraçaram a função de líder global, diminuindo as dúvidas sobre seu compromisso com a segurança do ocidente.
O país cumpriu papel central em reunir aliados europeus para apoiarem sanções, restrições cambiais e intervenções ao mercado de energia, todas voltadas à economia da Rússia.
Os EUA doaram bilhões de dólares a mais para armamentos para Kiev, comparando-se ao segundo maior doador, a Alemanha.
Alguns republicanos estão céticos quanto ao fornecimento de armas à Ucrânia. No entanto, os líderes europeus esperam que o Congresso e o presidente Biden liderem os esforços do Ocidente em defesa da Ucrânia.
– The Wall Street Journal
Rússia e China se aproximam
A guerra na Ucrânia consolidou a parceria dos principais rivais do Ocidente ao aprofundar a dependência de Moscou a Pequim.
A China é agora uma importante consumidora de petróleo e gás russos, com desconto, bem como é um canal para bens não mais disponíveis diretamente para a Rússia, por conta das sanções ocidentais.
A China não envia armas para a Rússia, mas fornece os chamados bens de uso duplo com aplicações militares. A parceria ecoa as relações da Guerra Fria. Desta vez, no entanto, Pequim está no banco do motorista, uma posição desconfortável para muitos em Moscou.
– Stephen Fidler e Austin Ramzy
Como os fluxos de energia mudaram ao redor do mundo
Países ocidentais não compram mais petróleo russo, para a felicidade do Golfo Pérsico e de produtores de energia americanos.
A interrupção do fluxo de gás natural da Rússia para a Europa criou demanda por suprimentos americanos, tornando os EUA o maior exportador de gás natural liquefeito.
A produção russa está em queda, e Moscou está cada vez mais dependente de vendas para a China e Índia, países que estão se beneficiando de descontos em cima do óleo e gás russos.
A corrida para assegurar novas fontes de petróleo acelerou a mudança na política americana em relação a Venezuela, o que incluiu reiterar algumas sanções para aumentar a produção de petróleo no país latino.
Israel e Líbano concordaram com o acordo mediado pelos Estados Unidos, o qual abriu o caminho para exportações de gás de Israel para a Europa.
– The Wall Street Journal
A Rússia é cortada financeiramente do mundo
O Ocidente baniu a Rússia das principais organizações e acordos da infraestrutura financeira global. Os EUA, a União Europeia e outros aliados congelaram cerca de U$ 300 bilhões das reservas russas internacionais.
Esses países expulsaram grandes bancos russos do sistema de mensagens Swift, o qual mapeia a maioria das transações internacionais. Moscou tem trabalhado para construir seus próprios sistemas de pagamentos e está adotando outras moedas para o comércio, incluindo o rublo russo e o renminbi chinês.
Goldman Sachs e outros grandes bancos têm planos para sair da Rússia, a qual também foi expulsa dos principais índices de investimento. As sanções congelaram alguns dos investimentos russos no exterior e levou ao primeiro ano desde 1918 em que o país não pagou suas dívidas externas.
– Chelsey Dulaney
Muitas coisas custam mais
A invasão na Ucrânia agravou a inflação global por conta do interrompimento do fluxo de exportações de alimentos, petróleo e gás natural.
Os preços de referência do gás europeu aumentaram em 275% no dia seguinte ao início da guerra, mas têm caído desde então.
No ano passado, os preços ao consumidor cresceram 9,6% na Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE) – um grupo de 38 países desenvolvidos financeiramente –, a maior alta desde 1988.
Os preços de grãos atingiram seu pico logo após a invasão, prejudicando a produção ucraniana de milho, trigo e óleo de girassol.
Esses preços caíram, mas ainda contribuem para aumento nos preços de alimentos no mundo todo. Os preços da gasolina ficaram acima de U$ 5 o galão no último verão.
Conter a inflação continua sendo a maior tarefa dos bancos centrais e a maior preocupação entre investidores que se preparam para mais aumentos nas taxas de juros.
– Alistair MacDonald and Matt Grossman
(Tradução de The Wall Street Journal)