Oito jeitos como a guerra entre Rússia e Ucrânia mudou o mundo

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O conflito aumentou preços de alimentos e energia, vigorou a OTAN, alterou a doutrina militar e reviveu a influência americana no mundo. 

A invasão russa na Ucrânia, iniciada exatamente um ano atrás, desencadeou uma cascata de repercussões globais em energia, na economia, na geopolítica e no papel da liderança americana. 

Estima-se que mais de 300 mil pessoas tenham sido mortas ou feridas. Outras milhões deixaram suas casas. A guerra também uniu o Ocidente, reformulou o comércio global de energia e expôs os limites da manufatura do exército americano. 

Ressurreição da aliança ocidental

Ministro da Defesa sueco Peter Hultqvist, Chefe da Política Externa da União Europeia Josep Borrell, Secretário-Geral da OTAN Jens Stoltenberg e Ministro da Defesa Finlandês Antti Kaikkonen em Bruxelas. 13 de outubro. [Foto: Yves Herman/Reuters]

Por volta de 2019, o presidente francês Emmanuel Macron declarou que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estava praticamente extinta e o presidente Donald Trump ameaçou a saída dos EUA. 

A maioria das nações-membro ignoraram seus compromissos em impulsionar gastos e reconstruir as forças armadas, mesmo após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014. A invasão à Ucrânia no ano passado reviveu a aliança. 

Membros da OTAN prometeram e começaram a cumprir, com bilhões de dólares sendo gastos nas forças armadas. As operações da organização ao longo de sua fronteira oriental aumentaram e seus planos para forças prontas para agir expandiram dez vezes. 

Os maiores países não-membros da OTAN na Europa ocidental, Finlândia e Suécia, solicitaram adesão ao tratado, unindo a maioria das nações mais ricas da Europa em oposição a Moscou. Ucrânia, Moldávia e Geórgia pretendem entrar em seguida. 

– Daniel Michaels

Guerras serão feitas de forma diferente

Soldado ucraniano se preparando para pilotar um drone perto da linha de frente em Donetsk, região do leste da Ucrânia. 13 de fevereiro. [Foto: Evgeniy Maloletka/AP]

A Ucrânia apropriou-se com sucesso das táticas de comandos e grupos guerrilheiros, de maneiras que fundamentalmente alteraram a doutrina militar convencional. 

Kiev derrubou as forças terrestres de Moscou e afundou navios de guerra com pequenos grupos de ataque rápido e armas ocidentais avançadas e portáteis. 

As tropas ucranianas redesenharam drones prontos para lançar granadas e localizar alvos distantes para foguetes guiados por satélite doados pelo ocidente. O exército ucraniano improvisou uma rede de inteligência modelada em software de taxi-dispatcher

Na Ucrânia, o software coleta localizações de inimigos a partir de dicas de civis e posts russos em redes sociais e profissionais da tecnologia passam informações minuto por minuto para forças próximas.

– Daniel Michaels

A indústria americana tem um incentivo

Membro do serviço ucraniano desempacotando mísseis Javelin antitanques, parte do equipamento militar doado pelos EUA, em um aeroporto fora de Kiev. 10 de fevereiro. [Foto: Valentyn Ogirenko/Reuters]

As munições na Ucrânia acabaram de forma mais rápida do que o esperado, expondo as deficiências militares dos EUA em aquisição de munições, estoques de equipamento, trabalhadores e em cadeias de suprimento. 

Dobrar o número de mísseis antitanques Javelin ou lançadores de foguetes Himars produzidos levaria dois anos e custaria muito dinheiro. O Pentágono concedeu 3,4 bilhões de dólares em novos contratos para reabastecer seus estoques domésticos e de aliados. 

O exército pediu ao Congresso por US$ 500 milhões ao ano para modernizar suas unidades de produção. A Casa Branca, os legisladores e o Pentágono estão focados em manter os EUA e seus aliados armados e abastecidos para conflitos futuros, incluindo um possível confronto com a China. 

– The Wall Street Journal

Os EUA revivem sua influência no mundo

Presidente Joe Biden e presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, durante a visita de Biden a Kiev. Fevereiro de 2020. [Foto: Evan Vucci/AP]

Os Estados Unidos abraçaram a função de líder global, diminuindo as dúvidas sobre seu compromisso com a segurança do ocidente. 

O país cumpriu papel central em reunir aliados europeus para apoiarem sanções, restrições cambiais e intervenções ao mercado de energia, todas voltadas à economia da Rússia. 

Os EUA doaram bilhões de dólares a mais para armamentos para Kiev, comparando-se ao segundo maior doador, a Alemanha. 

Alguns republicanos estão céticos quanto ao fornecimento de armas à Ucrânia. No entanto, os líderes europeus esperam que o Congresso e o presidente Biden liderem os esforços do Ocidente em defesa da Ucrânia.

– The Wall Street Journal

Rússia e China se aproximam

Presidente russo Vladimir Putin, à esquerda, conversando com o líder chinês Xi Jinping em Samarcanda, Uzbequistão. 16 de setembro. [Foto: Sergei Bobylev/Sputnik/AP]

A guerra na Ucrânia consolidou a parceria dos principais rivais do Ocidente ao aprofundar a dependência de Moscou a Pequim. 

A China é agora uma importante consumidora de petróleo e gás russos, com desconto, bem como é um canal para bens não mais disponíveis diretamente para a Rússia, por conta das sanções ocidentais. 

A China não envia armas para a Rússia, mas fornece os chamados bens de uso duplo com aplicações militares. A parceria ecoa as relações da Guerra Fria. Desta vez, no entanto, Pequim está no banco do motorista, uma posição desconfortável para muitos em Moscou.

– Stephen Fidler e Austin Ramzy 

Como os fluxos de energia mudaram ao redor do mundo

Trabalhadora nas docas na instalação Cheniere Sabine Pass Liquefaction em Cameron, Louisiana, ano passado. A Cheniere Energy é a maior exportadora de gás natural liquefeito nos EUA. [Foto: Mark Felix/Bloomberg]

Países ocidentais não compram mais petróleo russo, para a felicidade do Golfo Pérsico e de produtores de energia americanos.

A interrupção do fluxo de gás natural da Rússia para a Europa criou demanda por suprimentos americanos, tornando os EUA o maior exportador de gás natural liquefeito. 

A produção russa está em queda, e Moscou está cada vez mais dependente de vendas para a China e Índia, países que estão se beneficiando de descontos em cima do óleo e gás russos. 

A corrida para assegurar novas fontes de petróleo acelerou a mudança na política americana em relação a Venezuela, o que incluiu reiterar algumas sanções para aumentar a produção de petróleo no país latino. 

Israel e Líbano concordaram com o acordo mediado pelos Estados Unidos, o qual abriu o caminho para exportações de gás de Israel para a Europa.

– The Wall Street Journal

A Rússia é cortada financeiramente do mundo

Mulher em fila de casa de câmbio em São Petersburgo, Rússia, em 25 de fevereiro do ano passado, no dia seguinte à invasão russa na Ucrânia. [Foto: Associated Press]

O Ocidente baniu a Rússia das principais organizações e acordos da infraestrutura financeira global. Os EUA, a União Europeia e outros aliados congelaram cerca de U$ 300 bilhões das reservas russas internacionais. 

Esses países expulsaram grandes bancos russos do sistema de mensagens Swift, o qual mapeia a maioria das transações internacionais. Moscou tem trabalhado para construir seus próprios sistemas de pagamentos e está adotando outras moedas para o comércio, incluindo o rublo russo e o renminbi chinês. 

Goldman Sachs e outros grandes bancos têm planos para sair da Rússia, a qual também foi expulsa dos principais índices de investimento. As sanções congelaram alguns dos investimentos russos no exterior e levou ao primeiro ano desde 1918 em que o país não pagou suas dívidas externas. 

– Chelsey Dulaney

Muitas coisas custam mais

Angelou Liberta Coletta, 75, checa os preços durante as compras na loja H-E-B em Houston. 18 de dezembro. [Foto: Brandon Bell/Getty Images]

A invasão na Ucrânia agravou a inflação global por conta do interrompimento do fluxo de exportações de alimentos, petróleo e gás natural. 

Os preços de referência do gás europeu aumentaram em 275% no dia seguinte ao início da guerra, mas têm caído desde então. 

No ano passado, os preços ao consumidor cresceram 9,6% na Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE) – um grupo de 38 países desenvolvidos financeiramente –, a maior alta desde 1988. 

Os preços de grãos atingiram seu pico logo após a invasão, prejudicando a produção ucraniana de milho, trigo e óleo de girassol. 

Esses preços caíram, mas ainda contribuem para aumento nos preços de alimentos no mundo todo. Os preços da gasolina ficaram acima de U$ 5 o galão no último verão. 

Conter a inflação continua sendo a maior tarefa dos bancos centrais e a maior preocupação entre investidores que se preparam para mais aumentos nas taxas de juros. 

– Alistair MacDonald and Matt Grossman

 

(Tradução de The Wall Street Journal)

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