Olha a onda: investimento cíclico, herói ou vilão?

No mar dos investimentos, existem diversas estratégias que investidores adotam para buscar retornos. Uma delas é o investimento cíclico, que se baseia na análise dos ciclos econômicos e busca aproveitar as mutações do mercado para obter lucros.

São múltiplos os fatores que podem influenciar os resultados de uma empresa. No entanto, existem companhias e setores que são mais afetados pelos ciclos da macroeconomia, enquanto outros bem menos. Essas são conhecidas como empresas cíclicas e não cíclicas.

O investimento cíclico é uma estratégia que consiste em adquirir ativos que são diretamente afetados pelos ciclos do mercado, para o bem ou para o mal.

Embora existam argumentos contrários a essa forma de investir, o analista da Levante Eduardo Rahal acredita que o sucesso nessa estratégia geralmente está relacionado à compreensão de como os ciclos funcionam, como eles podem impactar os resultados das empresas e, é claro, identificar os melhores momentos para posicionar-se nos ativos.

Potenciais retornos de investir em empresas cíclicas

Quando a economia está em fase de expansão, as empresas dos setores cíclicos geralmente apresentam um desempenho sólido, impulsionadas pelo aumento da demanda e do consumo. Isso pode levar a um aumento nos lucros e no valor das ações dessas companhias.

Os investidores que conseguem identificar corretamente essas oportunidades são os que geralmente garantem retornos substanciais.

De acordo com o especialista consultado pelo Trade News, as razões primárias para investir em empresas cíclicas estão atreladas ao potencial de crescimento mais rápido durante períodos de expansão econômica. 

Adicionalmente, ele reiterou que os valuations de ações frequentemente são mais baixos durante períodos de baixa atividade econômica, oferecendo oportunidades de compra.

Assim, o investidor consegue aproveitar esses ciclos para encontrar melhores oportunidades de entrada nos ativos.

De acordo com Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos e pós-graduado em análise financeira, investir em companhias que se aproveitam dos movimentos cíclicos é o que permite ao investidor tirar proveito em benefício próprio.

Por exemplo, caso as projeções apontem para um aumento da taxa Selic, é possível que ele se programe para posicionar-se em ativos do setor de seguros, beneficiado por essa movimentação. Por outro lado, seria recomendado sair dos ativos de varejo, afinal, não é indicado investir no setor com taxas de juros mais altas.

O outro lado da moeda e os riscos associados

Durante períodos de recessão econômica, as empresas que atuam em setores cíclicos como commodities e varejo enfrentam desafios significativos. Um deles é o risco de demanda, no qual a procura por produtos e serviços diminui consideravelmente.

O especialista da Levante afirmou que muitas empresas cíclicas têm altos níveis de alavancagem financeira. Isso significa que possuem uma estrutura de capital com uma proporção significativa de dívidas em relação ao patrimônio líquido.

Sendo assim, durante períodos de desaceleração econômica, essa alavancagem pode aumentar o risco financeiro das companhias, pois elas enfrentam dificuldades para honrar seus compromissos de pagamento.

Para mitigar esses riscos, Ricardo Brasil ressalta a importância de estar atento aos fatores que influenciam os movimentos do mercado, como o dólar, IPCA, entre outros.

O valor do dólar, por exemplo, tem um impacto significativo em empresas exportadoras, como a Braskem [BRKM5] e a Klabin [KBLN11]. Se a moeda estiver em patamares muito baixos, isso pode prejudicá-las, afetando sua lucratividade, declarou Ricardo.

Eduardo também contribuiu destacando a importância da diversificação ao investir, afirmando que a alocação em empresas de setores distintos pode reduzir a exposição a riscos específicos de um setor cíclico.

Além disso, ele ressalta a relevância das análises fundamentalistas para avaliar a saúde financeira, a posição competitiva e a capacidade das empresas de enfrentarem períodos de desaceleração econômica.

Setores mais sensíveis aos ciclos

Os setores imobiliário, de tecnologia, varejo e commodities são alguns dos exemplos mais emblemáticos de investimento cíclico – dados os acontecimentos e performance dos últimos anos. 

O setor de construção civil e o imobiliário são altamente influenciados pelo ciclo econômico monetário. Eduardo Rahal explicou que, devido ao alto custo de financiamento, o crédito se torna mais caro, resultando em uma redução significativa nas receitas das empresas do segmento. 

No campo da tecnologia e varejo, as companhias enfrentam uma sensibilidade maior às oscilações nas taxas de juros.

Com boa parte de seus crescimentos projetados no futuro, as empresas de tecnologia dependem de investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento, bem como de expansões futuras.

Alterações significantes nas taxas de juros podem afetar suas avaliações e perspectivas de crescimento.

Já as empresas que atuam no segmento de commodities têm uma receita vinculada diretamente ao desempenho desses produtos, os quais estão mais interligados com o cenário macroeconômico global.

Em períodos de baixa nos preços, como durante as recessões, essas companhias podem gerar menor caixa. Porém, em ciclos de alta e crescimento, elas tendem a proporcionar mais receita e crescimento aos acionistas.

 

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