Estima-se que mais de 270 pessoas tenham sido vítimas de um golpe envolvendo operações no mercado financeiro. Pode parecer que “agora não adianta mais falar sobre, já é tarde, já aconteceu”, porém, infelizmente não é a primeira vez que este tipo de situação ocorre aqui no Vale do Itajaí. Mesmo com os diversos exemplos que já afetaram as reservas financeiras no passado (Multiclick, TelexFree, Unick Forex), os investidores insistem em tentar buscar dinheiro fácil e aparentemente sem risco. Ou seja, mesmo com diversos acontecimentos nos últimos anos, insistem em arriscar o capital em operações no mínimo duvidosas.
Segundo uma pesquisa do Datafolha (Raio-X do investidor), 20% das pessoas se informam sobre investimentos com amigos e parentes. Se você precisasse fazer uma cirurgia, ou construir um prédio, você aceitaria profissionais que não são formados em suas respectivas áreas para realizar o procedimento? Com certeza não, certo? Então, por que você toma outro caminho quando se trata de dinheiro?
Trabalhei o seguinte estudo de caso com meus alunos:
“João” é morador da Vila Itoupava e trabalhou durante muitos anos na área financeira de uma grande empresa têxtil. Após um período operando na bolsa de valores, começou a ganhar muito dinheiro. Em 2016, sua fama foi se espalhando pela cidade, e entrou um novo sócio, responsável por trazer novos aportes para o fundo de investimentos. O fundo M+ foi crescendo e, no seu auge, atingiu R$ 90 milhões em captação e 250 cotistas. Nos últimos 60 meses operando daytrade, o fundo teve apenas 2 meses negativos. Os sócios então abriram dois CNPJ: Uma empresa Ltda. e uma SCP. No modus operandi do fundo, os clientes devem depositar o valor que desejam investir direto na conta da empresa, e os relatórios de rentabilidade são enviados mensalmente em Excel e PDF. As DARFs comprovam a legitimidade dos ganhos na operação. Em julho de 2022, um cliente o procura em seu escritório de contabilidade e diz estar disposto a colocar toda a sua economia (R$ 1 milhão) no fundo e, apesar de ele saber que tem risco, por se tratar de operações no mercado financeiro, diz que todos seus amigos de clube de tênis, e o histórico, provam que a operação é segura. Com base nas informações, Como você deve aconselhar este cliente? Quais informações extras você pediria? Tem alguma norma/lei/regra que não está sendo seguida corretamente?
Junto com os alunos, elaborei a relação abaixo, para ajudar você a não entrar neste tipo de situação:
- Antes de tomar uma decisão sobre investimentos, procure um profissional habilitado e certificado pela Ancord, Anbima e/ou Planejar;
- Jamais invista todo seu capital em um único produto;
- Busque produtos com longo histórico de negociação;
- Tenha sempre uma reserva de emergência em produtos de baixo risco;
- DARFs emitidas e pagas não comprovam ganhos;
- Jamais deposite recursos em conta de terceiros. Você deve depositar em sua própria conta dentro de uma corretora, cooperativa ou banco;
- Nunca forneça suas senhas para ninguém;
- Conheça as informações obrigatórias que devem conter em um relatório;
- Peça os documentos que comprovam a autenticidade das operações;
- Veja qual é a auditoria independente que audita os números do fundo;
- Desconfie de produtos com risco alto e que entregam retornos sempre positivos;
- Peça os relatórios contábeis da empresa, assinados por um contador;
- Estude qual a estratégia que o fundo de investimento tem adotado;
- No Brasil, apenas profissionais com CGA estão habilitados para gerir fundos;
- Eduque-se financeiramente e evite a ganância;
Se você seguir estes tópicos, a chance de perder todo seu capital é de fato muito pequena. Compartilhe essas informações com amigos e parentes, evitando que mais pessoas sejam prejudicadas por pessoas que operam na ilegalidade.
Rafael F. A. Lehmkuhl é contador, MBA em Finanças, mestre em controladoria (UFSC). Fundador da Winvestir, assessor de investimentos na BRA/XP Investimentos. Opera na bolsa de valores há mais de 10 anos. Leciona disciplinas de investimentos e empreendedorismo.