Dados sobre o setor de pagamentos projetados pela Associação Brasileira de Empresas de Cartões e Serviços (Abecs) mostram crescimento entre 9% e 11% este ano. Na prática, as empresas do segmento não têm performado tão bem, a julgar pelas expressões recentes do mercado.
Apenas nesta semana, o Itaú BBA rebaixou as recomendações da Stone [STOC31] e PagSeguro [PAGS34], de marketperform para underperform, com mudança nos preços-alvo para US$ 9,00 e US$ 10,00, respectivamente, o que representa uma queda maior que 10% no preço dos dois ativos.
Cielo [CIEL3] também vem sofrendo desvalorização no mercado, como reportado pelo TradeNews em setembro.
A depreciação do setor é o resultado de uma transformação muito forte que a indústria tem passado, de maior competição com o avanço da regulação, de acordo com Carlos Daltozo, head de Equities da Eleven Financial.
Ele diz que, além da forte competitividade atual, as mudanças tecnológicas são muito relevantes na área, abalando o futuro das empresas, que precisam se reinventar cada vez para se sobressair no segmento.
“O Pix, por exemplo, tem impactado o setor, principalmente nas transações de menor porte”, afirmou.
Até 2010, o segmento era um duopólio, com Visanet, atual Cielo, aceitando apenas Visa, e Redecard, atual Rede, passando somente Mastercard. As duas somavam 80% do mercado de cartões de crédito.
Na época, lojistas precisavam ter as duas máquinas se quisessem atender às necessidades dos clientes. Sem qualquer competição, o cenário era ótimo para as credenciadoras, mas tornava o comerciante refém de taxas e condições comerciais que nem sempre eram favoráveis.
A partir desse cenário, o Banco Central cria uma medida que encerra a exclusividade das máquinas, que passam a aceitar cartões de todas as bandeiras, criando competição e, consequentemente, barateando custos.
O head de Equities da Eleven Financial aponta que a atual competitividade do mercado é tamanha que hoje muitas empresas acabam não indo para frente.
“Tem o caso específico da Credz, que está à venda com vários problemas, uma dívida enorme, uma safra ruim de crédito, e isso realmente machuca o mercado”, explicou.
Apesar do panorama atual, Daltozo destaca a Stone para investimento no longo prazo, pois está melhor posicionada frente ao cenário competitivo. Ele argumenta que Cielo, por outro lado, vem perdendo market share.
Futuro dos pagamentos
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem falado sobre o desenvolvimento de um “Super App” bancário, com o objetivo de reunir, em apenas um aplicativo, todas as informações financeiras dos usuários, entre pagamentos, empréstimos, investimento e pix, não importa quantas contas em diferentes instituições possuam.
O aplicativo também possibilitará a comparação de taxas de juros oferecidas por bancos e instituições financeiras em tempo real, assim como aplicações financeiras, para que o usuário possa escolher e contratar o que for melhor para ele.
“Basicamente, é pensar que, no futuro, só vai ter um app no seu celular, que você vai abrir e, pelo open finance, ele vai puxar todos os dados de todos os seus bancos”, disse o presidente do BC.
“Isso tende a mudar a dinâmica da indústria”, concluiu Daltozo.
