Isabela Jordão
A desvalorização de 0,28% das ações do IRB Re [IRBR3] nesta terça-feira (20), a R$ 46,07, é uma gota que não faz tempestade nos quase 60% de valorização em agosto. O papel disparou principalmente na semana passada, após o balanço do segundo trimestre. A pergunta correta, portanto, é menos sobre se a valorização do ativo vai acabar e mais sobre se ela se justifica.
No mesmo dia da divulgação do resultado, na última quarta-feira (14), o BTG elevou a recomendação de IRB para “compra”, sob a justificativa de que a assimetria agora parece positiva. O preço-alvo estabelecido, de R$ 40, foi ultrapassado no dia seguinte, quando IRBR3 fechou cotado a R$ 42,49.
A perspectiva do BTG para a resseguradora já vinha melhorando, por conta dos impactos abaixo do esperado das enchentes no Rio Grande do Sul para as seguradoras que divulgaram balanços antes do IRB. Além do balanço, que trouxe alta de 225% do lucro líquido no comparativo anual, o banco aposta na possível alta da Selic ainda este ano para impulsionar os números da empresa.
Os analistas da casa estavam acompanhando a tese da companhia desde o primeiro trimestre, quando uma nova companhia assumiu a gestão. “Sempre gostamos e acreditamos no plano de reestruturação para a empresa”, diz o relatório do BTG.
Mesmo com os R$ 257 milhões despendidos com sinistros decorrentes da tragédia no Sul e R$ 107 milhões provisionados para sinistros futuros, o IRB apresentou lucro de R$ 65 milhões. “Acreditamos que o segundo trimestre foi uma redução enorme do risco para a história”, concluiu o time de análise do BTG.
Mesmo o Safra, dono da única recomendação de venda para IRBR3 computada pela Bloomberg, avaliou o balanço positivamente, destacando também uma melhoria nas relações de solvência. O IRB encerrou o segundo trimestre com uma relação de solvência regulatória de 182%, alta de 13 pontos percentuais ante o trimestre imediatamente anterior.
A visão dos grandes players do mercado para a resseguradora mudaram do ano passado para cá. Em setembro passado, quando o mercado reagiu bem aos dados de julho da companhia, não se via sequer uma recomendação de compra para IRBR3.
Agora, recomendações de venda é que são minoria – contando também que casas como o Banco Inter encerraram a cobertura do papel.
Sérgio Neto, analista da Capitalizo, também destaca surpresa com o balanço trimestral, igualmente ressaltando o menor impacto da tragédia no Rio Grande do Sul. Ele frisa que o resultado piorou na comparação trimestre a trimestre, “mas se a gente comparar na base anual, a gente vê que ela [a empresa] está em uma tendência de evolução gradativa”.
Os prêmios – isto é, o preço pago pelos clientes para manter as apólices ativas – foram um dos principais destaques para a Capitalizo. Em reversão da tendência vista até então, os prêmios emitidos no Brasil voltaram a crescer, um sinal muito positivo para a empresa, destacou Sérgio.
O especialista acrescenta que o decorrer de uma queda de sinistralidade junto ao presente crescimento dos prêmios seria o combo perfeito para tornar o IRB uma empresa atrativa para investimento. A Capitalizo ainda vê os resultados como fracos frente ao valor de mercado da empresa, mas afirmando o potencial de voltarem a ser relevantes.
De todo modo, “a empresa está no caminho certo”, frisou Sérgio.
“A empresa tem mostrado saber tomar risco com sua nova gestão desde o escândalo de resultados há alguns anos”, expressa o analista da Benndorf João Tonello. Segundo ele, o escândalo deixou a resseguradora com uma reputação enviesadamente negativa frente a vários analistas, os quais “ainda não perceberam que IRB está sim sabendo tomar risco de forma inteligente”.
Para Tonello, IRBR3 se torna atrativa enquanto investimento dentro do setor de seguros, “mas não de imediato”, uma vez que o papel acumula forte alta devido ao rali dos últimos dias. Dessa forma, ele recomenda cautela, assim como realização lucros para quem já surfou a alta do papel.
De resto, basta aguardar novos sinais para a entrada em novas compras. Mas para outra puxada dessa magnitude, a empresa precisará surpreender novamente – “o que não é tão comum para uma empresa desse ramo”, finaliza o especialista.
O analista técnico Filipe Borges, também da Benndorf, indica stop de R$ 44,25 para posições compradas já existentes na ação do IRB. Se o ativo continuar subindo, o alvo passa para R$ 54,50. “Eu iria levando por mínimas do candle diário”, com stops sempre R$ 0,05 abaixo da mínima dos candles positivos.
Para novas entradas em IRBR3, entretanto, ainda não há gatilho, enfatizou Filipe. “Aguarde uma correção mais saudável para entrar com uma boa gestão de risco nesse ativo.”