O grande tema global deste mês foi uma reversão brutal dos mercados acionários chineses, iniciada duas semanas atrás. Pequim anunciou uma série de medidas que fez o principal índice da bolsa de Shanghai fechar setembro em alta de 17,4%. Apesar da valorização impressionante, contudo, o pacote é uma solução rasa demais para resolver os profundos problemas da economia chinesa na visão de Luis Stuhlberger.
O gestor comentou na carta mensal da Verde Asset que é salutar ver como a China foi capaz de pivotar políticas públicas em resposta à fraqueza econômica. Todavia, “os desafios são enormes em um modelo voltado para estimular a oferta (com consequências deflacionárias importantes) em meio a níveis de alavancagem muito altos”.
Por vários anos, com a pequena exceção do período de reabertura da economia chinesa pós-pandemia, os mercados na China têm sido dominados por um sentimento bastante negativo, refletindo uma economia presa numa espiral de queda de confiança, excesso de oferta e deflação, com políticas públicas incapazes de quebrar tal círculo vicioso, diz a carta.
“Pois bem, parece que o governo chinês resolveu reagir, e tal reação foi inicialmente focada em fazer as bolsas subirem.”
Das medidas anunciadas no fim do mês passado, há promessa do banco central chinês de oferecer linhas para bancos e empresas comparem ações, além de um novo corte dos juros básicos e compulsórios reduzidos. O mercado imobiliário também ganhou seu quinhão, com corte de 0,50 ponto percentual para todas as taxas de hipoteca e retirada de diversas restrições administrativas locais.
O mercado local reagiu muito bem. Mas, sem estímulos fiscais maiores e taxas de juro reais negativas, “vai ser difícil sustentar esse movimento de maneira a melhorar o crescimento e confiança na economia”, disse Stuhlberger.
Ainda assim, acrescenta, o rali do mercado acionário pode continuar por bastante tempo – “afinal, o ponto de partida era historicamente barato e o posicionamento dos investidores bastante leve”.
O fundo Verde carrega opções de compra na bolsa chinesa há vários meses e recentemente havia aumentado a posição. Em setembro, o portfólio registrou ganho de 1,70%, contra 0,83% do CDI. No acumulado de 2024, a alta é de 6,39% e 7,99%, respectivamente.
O fundo se mantém liquidamente zerado em bolsa brasileira e com a exposição global marginalmente maior dado o avanço das opções na China. A alocação comprada em juro real nos EUA continua, assim como a posição relativa entre a inflação americana e a europeia, além de compra de inflação curta nos EUA. Na renda fixa local, a única posição relevante é compra de inflação implícita longa.
O Brasil deveria se beneficiar de uma melhora do sentimento em relação à China e da alta do preço das commodities. O real apreciou, mas a bolsa fechou o mês em queda, e a curva de juros futuros continuou subindo dada a incerteza fiscal e o forte crescimento econômico. “Nos parece que os benefícios de uma China mais sólida tendem a ser marginais para os ativos brasileiros, em meio a um cenário de dificuldades idiossincráticas, sem grande sinal de melhora.”