DISCLAIMER: o texto a seguir trata apenas da opinião do autor e não necessariamente reflete a opinião institucional da Nomos Investimentos ou do TradeNews.
Lula não se aguenta e tem tido uma voracidade verborrágica que acaba nos brindando com “pérolas” de sabedoria econômica. A novidade é que “uma empresa”, supostamente, “deveria pensar primeiro no país” — disse o mandatário ao se referir à Petrobras e aos dividendos pagos aos acionistas.
Mentira deslavada, falta da mínima noção do que uma empresa é ou necessidade doentia de arranjar bodes expiatórios para uma eventual (e nem confirmada) evolução econômica difícil a frente?
William Waack postou no dia primeiro de março um comentário no Estadão cujo título, autoexplicativo, era “Popularidade a curto-prazo condiciona política econômica”.
Em resumo, dizia que Lula e o PT buscam por ganhos econômicos de curto prazo para sustentação de sua popularidade e, com essa mentalidade, de certa forma até “paranóica”, limita suas decisões econômicas.
Realmente, não é preciso discorrer sobre a questão que, tanto economicamente quanto do ponto de vista legal, uma empresa é uma entidade que visa o lucro para seus acionistas.
Essa é e sempre foi a definição padrão e mais aceita do que é uma empresa. Qualquer coisa fora disso é tentar “dourar a pílula”, é tentar “romantizar” a realidade.
Para além da definição de uma empresa, no cerne da questão está o lucrar. Mais especificamente, o lucrar com ética que deve ser algo encorajado e fomentado, não perseguido. Afinal de contas, sem sólidas bases econômicas, não se constrói o bem-estar de um povo e sua nação.
A velha e falha ideologia que tenta “malignificar” o lucrar, esquecendo que existem dois tipos – lucrar com e sem ética – e tudo que vem atrelado a esse lucrar – os empresários, os dividendos, o sistema capitalista, etc. – acaba por “jogar fora o bebê com a água suja após o banho”.
Sou e sempre serei a favor de empresários e empresas que lucrem com ética, sejam empresas privadas ou públicas. Deveríamos celebrar os lucros recordes da Petrobras e a capacidade da atual gestão em atingi-los. E lucrar com ética inclui atender seus clientes com o interesse deles em primeiro lugar.
Até porque o discurso do Presidente é propositalmente omisso: quando critica os dividendos pagos, “esquece-se” que a União também lucra com eles.
Mas, voltando ao ponto anterior, em que definia o que uma empresa é, academicamente.
Existe uma outra corrente que busca incluir, entre os objetivos de uma empresa, os interesses dos demais “stakeholders” (além dos acionistas) – empregados, fornecedores, clientes, sociedade e tantos outros “interessados” se possa achar para influírem na condução, direção e desígnios da bendita empresa.
Essa visão mais abrangente dos objetivos de uma empresa tem tido outros adeptos além da academia, como a respeitada Business Roundtable, que conseguiu, em 2019, lançar uma carta sobre os “propósitos de uma corporação”, a qual quase 200 CEOs de grandes empresas americanas aderiram e assinaram.
Até aí, tudo bem, vivemos em tempos em que diversas convenções sociais têm mudado muito rapidamente.
Há poucos dias atrás, o Financial Times, um dos mais prestigiosos veículos de mídia financeira global, trouxe uma matéria cujo título “Wall Street titans confront ESG backlash as new financial risk”, que foi traduzida e republicada no Valor Econômico ontem.
Em resumo, o texto declarava que os grandes bancos de investimentos norte-americanos já viam a oposição a políticas de investimentos ESG como um risco financeiro real, pois inúmeros estados, municípios, outros atores e investidores começavam a rejeitar essa forma (pró-ESG) de investir.
Sua crítica é que não deveriam reduzir o potencial retorno de investimentos baseado em políticas que priorizassem variáveis ESG (ou, no português, ASG). Assim, essa nova doutrina do que é uma empresa tem encontrado também seus opositores.
Agora, seja a visão tradicional, onde um negócio é uma entidade formada por seus acionistas, que se unem para organizar a forma de atuação visando lucro, seja a nova visão que tenta incluir outros interessados além dos acionistas – os stakeholders – qualquer uma delas não elegem “o país” na lista dos interessados de uma empresa.
Lula inova e cria uma terceira definição do que é um “negócio” – uma organização que deve “pensar primeiro no país”. A organização mais próxima que teria essa incumbência seria um partido político, algo bastante conhecido de Lula. Talvez por isso sua “invenção” na definição de um negócio.
Mas, vale lembrar que, em nossa breve experiência democrática pós-constituição de 1988, os partidos políticos no Brasil, praticamente sem exceções, olharam mais para seus projetos de poder particulares que para o real bem do país. Infelizmente.
No atual e polarizado mundo, tudo acaba sendo filtrado e olhado sobre as lentes “desse lado” ou “do outro”. Qualquer semelhança com o conhecido “nós contra eles” de Lula não é mera coincidência.
Se o William Waack estiver correto em sua avaliação, a lua de mel do atual governo terminará mais cedo que o normal (será que já não acabou?), e o ambiente de investimentos poderá rapidamente deteriorar como foi com Dilma.
As atuais taxas de juros de médio e longo prazos (os ‘DIs’) têm subido vertiginosamente (veja a taxa pré-fixada de 2033 abaixo, na máxima histórica). Isso sim gera custo para fazer negócios e impacta a negativamente a economia brasileira.
O que precisa acontecer para que Lula e seus ministros e apoiadores entendam que não é na pancada verbal que se governa um país?