Dentre os setores da B3, o de utilities foi destaque indiscutível em 2022. O avanço de 9% dá ao UTIL (indicador do desempenho médio das cotações dos principais ativos de utilities) exclusividade, enquanto todos os outros índices setoriais operam no vermelho. O sinal positivo é resultado do perfil defensivo do segmento, “com previsibilidade de resultados e geração de caixa”, de acordo com Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf.
Ainda entre o top 3 melhores desempenhos neste ano, o segundo lugar é ocupado pelo setor de energia elétrica, com queda de 0,9%. Logo em seguida, estão os índices financeiro e o de materiais básicos, ambos recuando cerca de 7%.
O caráter defensivo do setor de utilities se mostrou “bastante interessante em um ano de muita incerteza econômica e política”, afirma o analista. Para 2023, a expectativa é que o movimento continue, “dado o cenário econômico ainda bastante incerto e a necessidade de um controle fiscal por parte do governo.”
Já para o índice financeiro, tempos melhores virão, aposta a Benndorf. A expectativa positiva se dá em função do “valuation bastante descontado do setor” e das taxas de juros elevadas, “que podem possibilitar maiores spreads, principalmente para os bancos.”
Contudo, Niels alerta para a importância de ficar de olho na inadimplência, que tem afetado bastante o setor. A recomendação para o ano que vem é “priorizar bancos com balanços mais robustos e exposição a créditos menos arriscados.”
Enquanto isso, no setor de materiais básicos, que inclui principalmente empresas de commodities, os resultados devem permanecer negativos. “Esperamos uma performance ainda ruim, dada a desaceleração global, que acaba reduzindo a demanda e afetando o preço de diversas commodities”, pondera o especialista.
Além disso, um ponto de atenção é a reabertura da China, que flexibilizou sua política anti-Covid. A mudança “pode ser um gatilho para a valorização do segmento de materiais básicos”, de acordo com a Benndorf.
Investimentos em 2023
Os setores de petróleo, bancos e transportes são as melhores oportunidades em 2023 para a Benndorf.
“Diferentemente de outras commodities, o setor [de petróleo] possui um balanço de oferta e demanda bastante apertado, dado que foram realizados poucos investimentos nos últimos oito anos e o mundo passa por uma crise energética”, afirma o analista.
Além disso, ele aponta o valuation “bastante descontado, e com boa margem de segurança.”
3R Petroleum [RRRP3] é a top pick entre as petroleiras, segundo a Benndorf, com “maior potencial de crescimento” devido à revitalização de campos maduros adquiridos – além de ainda precisar consolidar nos resultados alguns outros ativos que adquiriu.
Também é o momento de ficar de olho em bancos, em função das expectativas de estabilização da inadimplência em 2023, “o que pode permitir que os bancos voltem a apresentar melhor crescimento”.
No setor financeiro, a preferência da Benndorf é por Itaú [ITUB4], por conta do “sólido histórico de execução e um robusto modelo de crédito.”
O segmento de transporte e logística também é destaque em 2023, “por ser um setor chave para o aumento da produtividade do país e no qual devem ser realizados grandes investimentos nos próximos anos, também com melhoria na infraestrutura.”
Nele, a top pick é Santos Brasil [STBP3], devido ao plano de expansão no Porto de Santos e o reajuste de contratos com a Maersk, sua principal cliente, além de uma posição de caixa líquido que tende a ser beneficiada num cenário de juros elevados, explica o analista.
O setor de transporte e logística é o maior destaque entre os três, “por ser ainda bastante fragmentado”. “Há muitas oportunidades de investimentos com bons retornos e oportunidades de fusões e aquisições que podem gerar valor”, afirma Niels Tahara.