Robert Sapolsky é um sujeito divertido. Ele é neurobiólogo e primatologista na Universidade de Stanford. Durante décadas, Robert alternou entre dias enfurnados no laboratório da Universidade de Stanford e o oriente africano do Quênia estudando zebras.
Se você perguntar “Robert, por que estuda zebras?” ele responde, “porque elas passam três horas por dia se alimentando e o resto do tempo atormentando uns aos outros, igual aos humanos”, brinca.
Robert foi pioneiro na compreensão do estresse. Dessas viagens ao Quênia, originou-se o livro “Por Que as Zebras Não Têm Úlceras” nos anos 90.
Robert quis identificar quem é a zebra mais estressada: o macho alfa, o macho beta, as fêmeas. E, claro, você pode espetar uma agulha na zebra e medir cortisol.
Você é a zebra vagueando pela savana africana e um leão decidiu que você é o almoco de hoje. Más notícias, certo? Sua resposta ao estresse vai entrar em ação, você vai bombear sangue, você vai bombear adrenalina, você vai correr muito rápido.
O organismo da zebra desliga todos os sistemas orientados para o longo prazo como crescimento, imunidade, digestão, sistemas reprodutivos.
Agora a questão é, o que estressa um ser humano? Na maior parte, nossos estressores são psicológicos. É o prazo no escritório, relacionamento, dinheiro ou o que seja. E o ponto é que esses estressores psicológicos desencadeiam em nós as mesmas respostas fisiológicas da zebra. Seu cérebro não evoluiu para distinguir uma ameaça física de uma psicológica.
E se você vive cronicamente estressado, seu corpo liga o sistema de estresse e nunca o desliga. E então, se eu dissesse, quais são os sintomas de pessoas estressadas, você viria com uma lista muito familiar ao da zebra . Eles vivem doentes, têm problemas com o intestino, problemas reprodutivos.
Quando você ligou sua resposta ao estresse, encurtou seu horizonte de tempo. Um humano estressado é a zebra fugindo do leão, você não planeja uma viagem de férias com a família mês que vem. Mas só pensa em como sobreviver nos próximos 20 segundos.
E isso é primordial para o investidor, porque pode ser o caso de que, à medida que os mercados entrem em pânico e oportunidades surjam no longo prazo, você vai dizer, “cara, eu preciso sobreviver agora”.
Michael Mauboussin dedicou décadas de estudo avaliando centenas de gestores e escreve que os grandes investidores conseguem driblar a função essencial pelo qual nosso organismo evoluiu. Eles mantem o foco no longo prazo mesmo suscetíveis aos hormônios de stress de curto prazo. A partir da busca por essa racionalidade, o investidor avalia com precisão a probabilidade de sucesso de uma nova aposta.