Um eventual aumento nos preços do petróleo, impulsionado por tensões geopolíticas, pode trazer um cenário de múltiplos impactos para a economia brasileira, que se tornou um exportador líquido de energia na última década. Segundo análise do J.P. Morgan, embora um choque modesto seja o cenário atual, uma escalada significativa pode redefinir as perspectivas de crescimento e inflação.
Analistas do J.P. Morgan preveem que, em caso de escalada de conflitos, como o que envolve Israel e Irã, os preços do petróleo podem subir consideravelmente. Atualmente, o barril de Brent está cerca de 17% acima da projeção-base do J.P. Morgan de US$ 65 para o final do trimestre. Se esses níveis se mantiverem, o impacto na América Latina seria modesto.
No entanto, potenciais desdobramentos, como o fechamento do Estreito de Ormuz, poderiam desencadear um cenário de aversão ao risco global. Isso resultaria em moedas mais fracas – mesmo para exportadores de petróleo – e pressões inflacionárias generalizadas, além de condições financeiras externas mais apertadas que sobrecarregariam as contas fiscais e afetariam negativamente o crescimento econômico por meio de investimentos subótimos. Apesar desses riscos, o J.P. Morgan mantém suas projeções inalteradas, citando a incerteza dos eventos e a ausência de revisão nas previsões de petróleo.
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Para o Brasil, a avaliação do impacto do aumento do petróleo é complexa. A transição do país de importador para exportador líquido de energia modifica a dinâmica tradicional. O J.P. Morgan estima que um aumento de 10% nos preços do petróleo resulta em uma melhora de 0,1% no PIB para a conta corrente e 0,2% para o saldo fiscal.
No entanto, o efeito na inflação é uma preocupação. Considerando a estrutura tributária e o peso de combustíveis como gasolina, etanol e diesel no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), um aumento de 10% nos preços do petróleo pode levar a um acréscimo de aproximadamente dois décimos no IPCA cheio.
O efeito líquido no PIB é mais intrincado, pois as maiores receitas para o setor exportador e para o governo são parcialmente anuladas pela redução da renda real da população devido ao aumento dos preços da gasolina. Avaliando esses três efeitos, o J.P. Morgan projeta um impacto líquido de um décimo de aumento no PIB. Politicamente, a alta nos preços da gasolina também pode gerar pressão sobre a administração, aumentando as demandas por gastos públicos adicionais e afetando a popularidade do governo, cenários já vistos em 2022 e início de 2023.
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