Os sinais de uma desaceleração na economia da Zona do Euro parecem cada vez mais evidentes, e a economia alemã mais fraca é o principal motor para esse cenário, defendeu a Vista Capital.
A asset pôs em perspectiva que com dois trimestres consecutivos de quedas significativas no PIB, levantaram-se questionamentos sobre a sustentabilidade do modelo de crescimento na Alemanha, muito baseado na indústria manufatureira.
A maior economia europeia também é afetada pelo remanejamento das tendências de globalização, especialmente com a reestruturação das cadeias de suprimentos e movimentos associados de nearshoring ou friendshoring.
“Do ponto de vista cíclico, também acreditamos que alguns vetores de sustentação da atividade da Zona do Euro como um todo vão se dissipar”, afirmou a gestora na mais recente carta aos acionistas.
Segundo a Vista, a atividade na Zona do Euro vai sofrer impacto do fim dos impulsos econômicos relacionados à reabertura, da equação do backlog de encomendas da indústria e da diminuição no excesso de poupança das famílias, além do cenário de política fiscal deixando de ser expansionista.
Para o futuro, as economias europeias terão de enfrentar diversos obstáculos como o “quadro demográfico bastante adverso (temporariamente mitigado pela imigração ucraniana)” e a dificuldade das indústrias tradicionais de se manterem competitivas, explicou a Vista Capital.
Estas indústrias vêm sendo marcadas por recentes booms de inovação, os quais as empresas europeias estão encontrando problemas em acompanhar, como a indústria automobilística, disse a gestora.
A Europa, historicamente, esteve à frente da China em relação ao comércio no setor automotivo. Em 2023, até, pelo menos, o fim do primeiro trimestre, essa lógica se inverteu.
O triunfo dos patinhos feios
Países do Velho Continente que antes eram atravessados por crise financeiras intensas e longos processos de ajuste econômico são, hoje em dia, “o bright spot da Zona do Euro”, como afirmou a carta.
Por exemplo, a Grécia. A economia da nação vem sendo impulsionada, especialmente, pelo setor turístico.
Em adição, a estabilidade no cenário político – diante da provável reeleição do primeiro-ministro Kyriákos Mitsotákis –, o cenário fiscal reestruturado e o acesso a fundos provenientes do programa NextGenerationEU também contribuem para a conjuntura positiva, apontou a gestora.
Guerra na Ucrânia
Atualmente, a asset enxerga uma Rússia fragilizada e em declínio ante uma Ucrânia com alta moral interna e extenso apoio do Ocidente.
A falha ofensiva de inverno russa, de acordo com a gestora, expôs a fragilidade militar do país e fez com que o exército do Kremlin recuasse, propondo poucas ações militares recentemente.
Por outro lado, a Ucrânia vem mantendo uma forte agenda geopolítica e se beneficiando do reforço bélico do Ocidente.
A casa vê dois possíveis riscos no futuro da guerra: o acirramento das disputas políticas internas de um país com capacidade nuclear e reações mais hostis por parte do governo russo, evidenciadas pelo recente ataque à barragem de Nova Kakhovka.
“Nos próximos meses, portanto, é provável que a guerra se direcionará para um período escalatório e de caudas de distribuição mais gordas, principalmente se levarmos em conta que os dois lados não podem aceitar a derrota”, declarou a Vista.
Futuro e investimentos
A gestora afirmou que a Europa apresenta fraquezas cíclicas e estruturais expressivas e que têm potencial para serem intensificadas por uma desaceleração econômica nas duas maiores economias do mundo, EUA e China.
“Nosso viés na construção do portfólio é usarmos ativos da Europa, como a moeda e bolsas, como funding nas nossas operações de valor relativo.”