Para muitos iniciantes no mercado financeiro – e até para alguns que já operam por um tempo –, deparar-se com ações descontadas ou com valores nominais abaixo dos seus pares do setor pode parecer uma boa oportunidade de negócios.
Entretanto, nem sempre que um papel está “barato” significa que é o melhor momento para comprá-lo.
Segundo os analistas fundamentalistas da Benndorf Research, Júlio Borba, e da Quantzed, Leonardo Piovesan, algumas premissas devem ser avaliadas antes da decisão da alocação de recursos em ativos de renda variável.
Isso porque, tanto para Borba como para Piovesan, os fundamentos de uma empresa podem ser ruins o suficiente para justificar os múltiplos baixos, o que pode classificar essas ações como value trap.
Value trap é o termo utilizado quando uma empresa listada está aparentemente subvalorizada, mas, na verdade, é avaliada corretamente ou mesmo supervalorizada.
Como identificar quando o barato sai caro?
“O que eu ia focar é entender se é algo estrutural, se é passageiro”, afirmou Leonardo, em relação ao que os investidores podem fazer para entender se o papel está somente descontado ou se a ação não vale a pena.
O analista da Quantzed indicou acompanhar as apresentações de resultados trimestrais, especialmente as teleconferências, para entender o que a empresa está sinalizando e se sua gestão é confiável.
Júlio apontou outros pontos importantes a serem considerados. Segundo ele, é preciso avaliar se o produto/serviço ofertado pela companhia tende a ser extinto e se a competição no setor está subindo e pode reduzir significativamente os lucros.
De quais ações ficar longe no momento?
Na visão de Júlio, as ações do Bradesco [BBDC3;BBDC4] e as units do Santander [SANB11] têm fundamentos “muito piores” que os do Itaú [ITUB4].
Além disso, ele indica cautela para negócios com IRB [IRBR3] e Eternit [ETER3]. O especialista também enxerga riscos com Cielo [CIEL3], pois, apesar dos múltiplos estarem baixos, ele vê upside maior em outras empresas, por conta das perspectivas mais negativas para o segmento.
Já para Leonardo, os ativos do setor de varejo de eletrônicos e de móveis são os quais os investidores deveriam ter mais cautela, por ora.
Quais ações podem estar descontadas?
Leonardo enxerga oportunidades no varejo de moda – como Lojas Renner [LREN3] e Guararapes [GUAR3] –, mas a partir do início do ciclo da queda dos juros no país.
Júlio listou uma variedade de ações, dos mais diversos setores.
Setor de mineração e siderurgia:
Vale [VALE3]; Gerdau [GGBR4]; Metalúrgica Gerdau [GOAU4].
Setor de papel e celulose:
Klabin [KLBN11]; Suzano [SUZB3]; Irani [RANI3].
Setor de petróleo:
Prio [PRIO3]; 3R Petroleum [RRRP3].
Setor de frigoríficos:
JBS [JBSS3]; Minerva [BEEF3].
Setor financeiro:
ABC Brasil [ABCB4]; Banco do Brasil [BBAS3]; Simpar [SIMH3].
Setor de bens industriais:
Tupy [TUPY3]; Randon [RAPT3;RAPT4]; Kepler Weber [KEPL3]; Shulz [SHUL3;SHUL4]; Primer [PRNR3]
Setor de construção civil:
Moura Dubeux [MDNE3]; Plano & Plano [PLPL3];