Há uma explícita divisão entre dois grupos dentro do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), a julgar pela ata referente à reunião da semana passada, divulgada nesta terça-feira (08). O documento veio salpicado de termos como “um grupo”, “outro grupo”, “uns membros” e “outros membros”.
Tal divergência não é usual, frisa Rodrigo Correa, estrategista da Nomos Investimentos. De acordo com o especialista, os principais pontos de divergência entre os dois grupos são comportamento inflacionário, evolução do mercado de trabalho e ancoragem das expectativas de inflação.
O comitê, diz a ata, retirou de seu balanço de riscos a incerteza residual sobre a aprovação do arcabouço fiscal, mas, em sua discussão, notou que a dinâmica fiscal seguia sendo relevante em seu cenário-base.
“Em particular, alguns membros avaliaram que persiste alguma incerteza entre os agentes sobre a superação dos desafios fiscais, evidenciada nas expectativas de resultado primário que divergem das metas estabelecidas pelo governo, e que isso pode também estar se refletindo em expectativas de inflação desancoradas para prazos mais longos.”
Em muitos aspectos, a ata de hoje reitera o comunicado seguinte ao anúncio do corte na Selic. Todavia, o documento “está deixando os investidores no escuro em outros aspectos”, comentou Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos.
“Os gestores estão tentando entender que tipo novo de Banco Central é esse.”
Na reunião anterior, em junho, o comunicado veio em tom duro, colocando grande peso nas expectativas de inflação, que ainda estavam altas e, portanto, não convergentes para a meta. “O que aconteceu?”, questiona Beto. “Nada mudou em relação à reunião anterior para a reunião da semana passada.”
Isto é, não houve convergência da inflação para a meta e, mesmo assim, o Banco Central reduziu juros no dobro da magnitude esperada pela maior parte do mercado. “Era necessária uma explicação técnica do porquê que isso está acontecendo, e isso não aconteceu na ata”, justamente onde há mais espaço para explicação.
Durante o debate na reunião do Copom, os membros julgaram haver mérito tanto na opção de reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual como em 0,5.
Qualquer que fosse a decisão, era consensual que um cenário com expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial, núcleos de inflação ainda acima da meta, inflação de serviços acima do patamar compatível com a meta para a inflação e atividade econômica resiliente requer uma postura mais conservadora ao longo do ciclo de flexibilização da política monetária, segundo a ata.
Apesar das divisões no comitê, que decidiu pelo corte de 0,5 p.p. em um placar de cinco votos a quatro, ainda há unanimidade no Copom. Todos os membros concordaram em manter um ritmo de aperto de 0,5 ponto nas próximas reuniões.