Rebaixamento em série: pelo menos quatro bancos cortaram preço-alvo de GPA [PCAR3] nos últimos 30 dias

[Fonte: Divulgação]

O Santander [SANB11] rebaixou a recomendação da ação do Grupo Pão de Açúcar [PCAR3] de outperform – ou seja, equivalente a compra – para neutra, além cortar seu preço-alvo para o ativo em mais de 80%, passando de R$ 35 para R$ 5,70.

A decisão, divulgada na última sexta-feira (22), foi apenas uma dentre as diversas reduções que vieram sobre PCAR3 recentemente, tanto de recomendação quanto de valor para o papel. 

O Bank of America (BofA), por exemplo, cortou o preço-alvo da empresa na terça-feira (19) de R$ 15,00 para R$ 3,50, após o spin off do Éxito, reiterando a recomendação underperform (equivalente à venda).

Segundo o banco, a varejista vem realizando alguns avanços em sua estrutura operacional de custos, mas que segue alta, o que, junto com a perda de escala e a excepcional expansão do cash and carry continua a pressionar seus resultados. A instituição projetou perdas líquidas para o GPA até 2027.

O BTG Pactual [BPAC11] citou o spin-off do Éxito e o balanço do segundo trimestre de 2023 ao rebaixar a recomendação de PCAR3 de compra para neutra e atribuir preço-alvo de R$ 7,00. 

O Goldman Sachs, por sua vez, reduziu o preço-alvo de R$ 22,00 para R$ 7,40. 

Vitorio Galindo, analista de investimentos CNPI e head de análise fundamentalista da Quantzed, expõe que, apesar de cada banco e casa de análise ter sua própria razão, as recentes vendas e redistribuição de ativos tiveram papel crucial nas reduções de preço-alvo recentes.

“O fato é que tem […] muito menos valor dentro de Pão de Açúcar hoje do que antes dessas vendas e desmembramentos de ativos.”

A analista de varejo da Levante, Carol Sanchez, cita outros motivos para a mudança de visão para o case. Segundo ela, o aumento da competição nos formatos de proximidade, a partir do avanço de concorrentes como Carrefour Express e Oxxo, a estrutura de custos elevada e a perda de escala afetaram o olhar sobre a empresa.

Os riscos sobre o fim de benefícios fiscais também podem impactar os resultados da varejista, indicou.

Para o analista técnico da Benndorf Research Filipe Borges, não há nenhuma indicação de entrada em PCAR3 graficamente. 

“Ativo segue muito fraco e sem oportunidades de compra.”

Situação nada doce

Em 2023, o papel do GPA cai quase 50%, além de recuar 28,74% em setembro e cerca de 60% nos últimos 12 meses. 

Apesar de um ambiente levemente melhor para crédito diante do início do ciclo de queda na Selic, que beneficiou outros setores de consumo cíclico como a construção, grande parte das varejistas parecem ainda não terem provado o gosto de tempos melhores.

O Grupo Casas Bahia [BHIA3] – antiga Via – é um dos principais exemplos. A empresa viu sua ação despencar após um follow-on malsucedido, a fim de melhorar sua estrutura de capital. 

O GPA [PCAR3], por sua vez, não parece estar em uma situação melhor. Em reportagem veiculada pelo TradeNews, analista de grande gestora informou que o endividamento da empresa poderia estar em uma situação pior que o apresentado.

Uma das questões levantadas pelo especialista foi em relação aos recebíveis da empresa. De acordo com ele, a empresa antecipou cerca de R$ 530 milhões em recebíveis – assumindo um custo de antecipação de Certificado de Depósito Interbancário (CDI) + 2%. 

Com isso, o valor da dívida líquida da companhia sairia de R$ 2,9 bilhões para R$ 3,4 bilhões.

Além disso, ele assinalou que a companhia tem R$ 1,6 bilhão em vencimento de dívidas bancárias de curto prazo (próximos 12 meses) e o número quase dobra ao se olhar o horizonte de 24 meses, pulando para R$ 3,1 bilhões.

Apesar do caixa atual parecer suficiente para quitar parte da dívida, o analista alerta que a queima corrente dos recursos da companhia pode fazer com que ela faça uma “rolagem” destas despesas. 

Por outro lado, o conselho de administração (CA) do GPA parece estar disposto a aumentar a própria remuneração. 

Na última quarta-feira (20), a companhia convocou uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) para tentar diminuir o valor da redução do capital social aprovada anteriormente em AGE realizada em fevereiro, referente ao valor contábil da participação do Éxito, depois da separação dos negócios.  

No entanto, entre os assuntos a serem discutidos, um parece passar despercebido: a remuneração da diretoria e do CA da empresa.

O analista previamente consultado pelo TN sobre a situação financeira do GPA afirmou que o assunto não é novo, mas que a discussão havia sido rejeitada em Assembleia realizada no início do ano. 

“É um bom lembrete de quão invertido são os valores da companhia”, indicou.

Segundo documento disponível no site de Relação com Investidores, é proposto rerratificar a remuneração da diretoria de R$ 50,1 milhões para R$ 31,7 milhões em referência a 2022. Porém, o valor pago ao CA saltaria de R$ 46,4 milhões para R$ 61,9 milhões.

O analista frisou ainda que parte significativa do CA da empresa faz parte de seu controlador, o Grupo Casino, que também não está em seu melhor momento.

O varejista francês teve prejuízo operacional de 233 milhões de euros no primeiro semestre de 2023 ante lucro de 166 milhões de euros no mesmo período em 2022. Ao final de agosto, a agência S&P cortou a classificação de crédito da empresa para “D”, denotando um provável calote, após o Casino não pagar os juros de um título.

Para piorar a situação do francês, a operadora de mercados Euronext excluiu o ativo da companhia do índice de ações SBF-120 de Paris, referente a grandes empresas. 

Futuro de dúvidas 

Assim como a situação atual da companhia, as projeções para o GPA também são conflitantes. 

Carol destaca que o foco no aumento da exposição a frutas, legumes e verduras (FLV) e açougue na bandeira Pão de Açúcar contribuiu para aprimorar o sortimento de produtos e, em consequência, aumentar a competitividade da empresa.

Apesar disso, ela não espera que a margem bruta da varejista retorne a níveis próximos aos do 2T22, em 26,6%, “tão cedo”. 

“É importante ressaltar que mudanças estratégicas e reajustes podem levar tempo para se refletirem totalmente nos resultados financeiros, especialmente em um cenário competitivo e dinâmico”, sinalizou.

Já Vitorio é breve em sua análise: “acho que a perspectiva continua ruim”.

De acordo com ele, são vários trimestres e anos em que a companhia vem decepcionando em seus resultados comerciais, com prejuízos “enormes”.

“Pelo menos da minha parte eu não vejo nada que tenha mudado, nenhum fator que possa fazer com que isso (os resultados ruins) deixe de acontecer no curto e no longo prazo”, completa.

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